Isabel dos Santos seria vítima de perseguição política?
Marcio Pessôa
14 de janeiro de 2020
Relatório de agência de análise de risco aponta que Isabel dos Santos poderia estar a ser vítima de algo semelhante ao chamado "Lawfare", uma guerra jurídica abusiva para aniquilar opositores políticos.
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A empresa especializada em avaliação de risco EXX Africa publicou um relatório que analisa a estratégia governamental de combate a corrupção em Angola. O texto conclui que julgamentos e investigações em curso no país não estariam a ser feitos com base em procedimentos imparciais, tendo assim "motivação política".
O estudo da consultoria empresarial e financeira, que tem escritórios em Londres e Joanesburgo, é dedicado a clientes que já têm ou pretendem abrir negócios em Angola. O diretor da agência salientou à DW Africa que há perguntas sem resposta no caso do congelamento dos ativos da empresária Isabel dos Santos. Robert Besseling entende que algumas investigações parecem genéricas em relação a provas e ao objeto em si.
O congelamento dos ativos de Isabel dos Santos, segundo Besseling, parece ter "motivação política". "Eles [o Governo] parecem estar a pressionar os associados, a família e a empresária a abrir mão de ativos de companhias-chave em Angola e noutros lugares no exato momento em que há uma agenda de privatizações, onde o Governo está a procurar vender uma grande parcela de participações na economia e pelos quais a família Dos Santos também teria interesse", disse o economista político.
No relatório, a EXX Africa questiona também o "momento peculiar" no qual o anúncio do congelamento dos ativos foi feito: na véspera do ano novo. Ele acredita que pela carência de pautas jornalísticas mais fortes sobre fatos políticos nessa época, "a história foi manchete por uma semana em várias empresas de média no mundo", salienta Besseling.
Besseling fez questão de destacar que nenhum dos clientes da consultora está vinculado diretamente às empresas de Isabel dos Santos, e o foco das análises da consultora são questões de corrupção, governação, privatizações e a estabilidade económica em Angola.
Vítima de "Lawfare"?
Apesar de o relatório não mencionar o termo "Lawfare" - usado por especialistas do direito em casos de uso abusivo ou estratégico de vias judiciais visando criar impedimentos e restrições a adversários políticos - o diretor da EXX Africa acha que há um teor dessa tática no caso angolano.
"Eu concordo que o sistema judicial angolano parece ser usado com motivações políticas como instrumento ou arma", argumenta.
No caso particular de congelamento dos ativos de Isabel dos Santos, o analista defende que o sistema judicial angolano "estaria a ser usado como instrumento para tentar convencer a família Dos Santos e membros dos antigos governos a alienarem-se do interesse económico em companhias-chave e empreendimentos do Estado". Besseling concorda que "há uma tendência para isto [Lawfare], que é relevante neste caso”.
Isabel dos Santos seria vítima de perseguição política?
Já o parlamentar do MPLA, relator da Lei de Repatriamento de Capitais, João Pinto, discorda que seja um caso de perseguição a um adversário político pelo uso abusivo e indevido de recursos jurídicos.
Pinto também é professor de direito da Universidade Agostinho Neto e acha que o objetivo das iniciativa da justiça e do Governo angolano é o pagamento de dívidas ao Estado num contexto de transição política que visa a abertura do mercado.
"É melhor negociar"
Pinto lembra que "Lawfare” é uma estratégia de guerra para eliminar um adversário concreto. Para ele, o que está a acontecer é uma exigência legal, não uma estratégia definida para atingir "a" ou "b".
"É uma exigência da lei sobre repatriamento [de capitais]. Nesse processo, o que há é uma empresária de grande impacto nacional e internacional que está numa situação que o Estado exige que colabore", diz o parlamentar.
Em meio a pressão sobre a multimilionária Isabel dos Santos, João Pinto aconselha: "Não há nada melhor do que negociar, porque as questões de corrupção não se resolvem tão bem só nos tribunais. Onde há confusão, o dinheiro foge", opina.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.