Na última assembleia-geral do Bayern Munique, os adeptos contestaram o acordo com a Qatar Airways e tentaram forçar o fim da ligação com o clube alemão.
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O Bayern Munique não é apenas o clube mais famoso e mais bem sucedido da Bundesliga. É também um dos melhores exemplos de como funcionam os clubes de futebol liderados por uma direção votada por associados na Alemanha.
Como tal, as cenas caóticas na assembleia-geral anual do Bayern da passada quinta-feira (25.11), não revelaram apenas as enormes divisões dentro do próprio clube, como também refletiram uma divisão crescente no futebol alemão como um todo em 2021.
Democracia com exceções
Como a maioria dos clubes de futebol na Alemanha, o Bayern Munique adere à regra 50+1, que estipula que 50% das acções com direito a voto na divisão de futebol profissional de um clube, mais uma ação, permanecem nas mãos do próprio clube. Adidas, Audi e Allianz podem ter 8,33% de participação cada um na Bayern Munique AG (a divisão de futebol profissional), mas os outros 75% pertencem ao Bayern Munique e. V. (o clube) com os seus 293.000 membros, 780 dos quais estiveram presentes na assembleia-geral (AG).
Antes da reunião, um desses membros, um advogado de nome Michael Ott, tinha apresentado uma moção que, se votada favoravelmente, teria obrigado o Bayern a não renovar o seu atual acordo de patrocínio com a Qatar Airways e impedi-lo-ía de assinar quaisquer futuros acordos comerciais com o país do Médio Oriente.
Mas a moção nem sequer foi admitida. Ott afirma que o Bayern ignorou a moção e levou o clube a tribunal, que concluiu que a moção não era suficientemente urgente para que lhe fosse garantida a admissão.
Oliver Kahn, que sucedeu a Karl-Heinz Rummenigge como CEO no início deste ano, não mencionou uma única vez a palavra "Qatar" no seu discurso. Herbert Hainer deparou-se com uma contestação ainda maior. O antigo CEO da Adidas, de 67 anos de idade, foi eleito presidente do clube em 2019, substituindo o lendário Uli Hoeness. Muitos ressentiram-se da atitude de Hainer, que consideraram arrogante.
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Mundos opostos
Na mesa da direção estavam homens de negócios que vêem no Bayern Munique uma empresa que tem que competir na indústria global que é o futebol moderno. Do outro lado estão os associados, que vêem o Bayern Munique como um clube de futebol no verdadeiro sentido da palavra, o seu clube, que compete com outros clubes que jogam futebol, o jogo do povo.
"Nunca o conflito cultural e geracional foi tão pronunciado como nesta noite", escreveu o jornal alemão Süddeutsche Zeitung.
A verdade é que ambas as visões são válidas. Essa é, afinal, a finalidade da regra 50+1: tornar o clube uma entidade comercial aberta ao investimento no mercado livre, mas de forma restringida e sob controlo dos sócios.
Os 10 clubes mais ricos do futebol mundial
De acordo com a revista "Forbes", a principal publicação norte-americana do setor dos negócios, os clubes de futebol cresceram em média de 30%, mesmo em meio a pandemia da Covid-19.
Foto: Francois Mori/AP Photo/picture alliance
Barcelona
É o clube mais rico do mundo. O emblema catalão está avaliado em 4.053 milhões de euros. Até à recente saída de Lionel Messi, o maior símbolo do Barcelona, o clube espanhol tinha valorizado 18% nos últimos dois anos. Em 2020, sem uma grande Liga dos Campeões e o 3º lugar na La Liga, o Barcelona faturou 792 milhões de euros em receitas. O valor da dívida ronda os 6%.
Foto: Pedro Salado/Quality Sport Images/Getty Images
Real Madrid
Por alguns milhões de euros abaixo, vem o grande rival em 2º lugar. O Real Madrid, conhecido como o maior clube do mundo do futebol, está avaliado em 4.046 milhões de euros. Nos últimos dois anos, a marca Real Madrid cresceu 12%, mesmo sem contratações sonantes e já sem Cristiano Ronaldo. O valor da dívida é de 12%.
Foto: picture-alliance/AA/A. Unal
Bayern Munique
O colosso do futebol alemão passou de regional a marca internacional. Só nos últimos dois anos, o Bayern Munique valorizou 39%! O clube está avaliado em 3.589 milhões de euros. Só em 2020, ano em que conquistou todos os troféus a nível nacional e internacional, o Bayern teve receitas acima dos 700 milhões de euros. Valor da dívida? 0!
Foto: Kerstin Joensson/AFP/Getty Images
Manchester United
É o primeiro clube desta lista excêntrica cujo adeptos não mandam. Isto porque o Manchester United tem um dono: a família bilionária norte-americana, os Glazer. O clube inglês está avaliado em 3.500 milhões de euros e teve uma receita de 643 milhões de euros em 2020. O valor da dívida está avaliado em 16%.
Foto: Matt Wilkinson/Stella Pictures/imago images
Liverpool
O Liverpool, cujo donos são John Terry e Tom Werner, vale hoje 3.492 milhões de euros. Nos últimos dois anos, a marca cresceu 88%! Faturaram mais de 527 milhões de euros e apresentam apenas 2% de valor de dívida.
Foto: picture-alliance/dpa/dpaweb/B. Coombs
Manchester City
O City, liderado pelo magnata, Al Mubarak, está avaliado em 3.407 milhões de euros. O ano passado, em que chegou à primeira final da Liga dos Campeões, o clube teve 518 milhões de euros em receitas, mas ainda ficou a perder dois milhões a nível de custos. Não apresenta qualquer percentagem de valor de dívida.
Foto: Martin Rickett/PA/imago images
Chelsea
O clube campeão europeu cresceu 24% nos últimos dois anos e o clube liderado pelo milionário, Roman Abramovich, vale 2.725 milhões de euros. Em receitas, os “blues” faturaram 442 milhões de euros em receitas e não têm qualquer percentagem de valor da dívida.
Foto: Manu Fernandez/AP/picture alliance
Arsenal
Desportivamente, os “gunners” andam à deriva e já nem são considerados candidatos à conquista da Premier League. No entanto, a nível financeiro, o Arsenal está avaliado em 2.384 milhões de euros e tem um valor de dívida a rondar os 7%.
Foto: picture-alliance/dpa/T. Eisenhuth
Paris Saint-Germain
Só mesmo a família mais rica do Qatar para “resgatar” Lionel Messi do Barcelona e provocar a transferência da década! O PSG, que está avaliado em 2.129 milhões de euros, deverá crescer muitos milhões de euros, só pelo marketing à volta de Messi. Em 2020, o clube francês teve receitas de 510 milhões de euros e cresceu 129% nos últimos dois anos.
Foto: Francois Mori/AP Photo/picture alliance
Tottenham Hotspur
Mais um clube inglês e claro, com dois donos (Joseph Lewis e Daniel Levy). Na Premier League, é um dos “big-six” (uma das seis principais equipas), mas não consegue ganhar troféus. No entanto, só do facto de estar na maior liga do mundo, o Tottenham vale 1.959 milhões de euros. Cresceu 42% nos últimos dois anos e tem um valor de dívida a rondar os 39%.