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Liberdade de imprensaMoçambique

Agressões a jornalistas: "Começamos mal esta campanha"

António Cascais
27 de agosto de 2024

Violação de direitos dos jornalistas volta a marcar a campanha eleitoral em Moçambique. Fórum Nacional de Rádios Comunitárias (FORCOM) apela aos partidos políticos e à polícia que respeitem a liberdade de imprensa.

Antena da Rádio Encontro, em Nampula, Moçambique
Fórum Nacional de Rádios Comunitárias denunciou violações à liberdade de imprensa em Angoche, província de Nampula (foto de arquivo)Foto: DW/J. Beck

O Fórum Nacional de Rádios Comunitárias (FORCOM) denunciou violações à liberdade de imprensa em Angoche, província de Nampula. A rádio comunitária Parapato também relatou dois episódios de agressão e intimidação contra os seus jornalistas, logo no início da campanha eleitoral.

Em entrevista à DW África, Ferosa Zacarias, diretora executiva do FORCOM, diz que estes episódios não são aceitáveis e indicam que mais violações da liberdade de imprensa podem vir a acontecer ao longo das próximas semanas de campanha, até às eleições gerais de 09 de outubro.

Ferosa Zacarias lança também um "apelo a todos os partidos e cabeças de lista, mas sobretudo à Polícia da República de Moçambique", para que "zele pelos interesses de toda a comunidade, independentemente da profissão ou da filiação partidária".

DW África: Que ataques à imprensa registou o FORCOM recentemente?

Ferosa Zacarias (FZ): Jornalistas [de Angoche, na província de Nampula] tentavam cobrir a campanha eleitoral e tudo decorria na normalidade, até que tiveram informação de um acidente e dirigiram-se ao hospital para colher informações mais apuradas. Foi lá onde tudo aconteceu. Foram proibidos de [divulgar] essa informação sobre o acidente. 

Ferosa Zacarias: "Sempre temos tido essa situação, com a intimidação de jornalistas"Foto: privat

DW África: Agressões e intimidações contra jornalistas são novidade para o FORCOM?

FZ: Não é algo novo para nós. Sempre temos tido essa situação, com a intimidação de jornalistas, particularmente das rádios comunitárias, que se encontram nas zonas mais recônditas e nos distritos. Eles têm enorme dificuldade para cobrir na íntegra – com verdade e transparência – assuntos que não são do interesse dos candidatos ou dos partidos. Foi o que aconteceu agora. Não interessava que se partilhasse a informação de que o dia não tinha corrido a 100%.

DW África: E esses jornalistas que foram intimidados e agredidos estavam devidamente credenciados?

FZ: Os jornalistas estão sempre credenciados. Mesmo sem a credencial para a cobertura do processo eleitoral, os jornalistas têm a legitimidade e autoridade para cobrir qualquer evento noticioso.

DW África: Este episódio acontece precisamente no início da campanha eleitoral. Isso é um mau prenúncio sobre o que pode ainda acontecer ao longo desta campanha eleitoral?

FZ: O que sempre temos vivenciado, ao longo de todo o processo eleitoral, é que os jornalistas são dos que mais [sofrem] essa violência. No passado, houve jornalistas que foram ameaçados pela polícia com armas de fogo. Neste caso, foi-lhes arrancado material de trabalho – os jornalistas foram intimidados e proibidos de veicular informação.

Moçambique: Liberdade de imprensa em perigo

03:23

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Não é de minimizar, estamos a começar muito mal. Ainda estamos na primeira semana [da campanha eleitoral] e teremos episódios em que os jornalistas não terão, definitivamente, condições de trabalhar à vontade. Se já temos essas intimidações logo no início, não sabemos o que nos espera futuramente.

DW África: E estes episódios acontecem mais à margem de eventos de campanha da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, no poder) ou também de outros partidos?

FZ: Acontecem nas campanhas de todos os partidos, todos os candidatos. Neste caso em concreto, foi do partido FRELIMO, mas não remetemos essas ameaças e intimidações só a esse partido. O papel do jornalista é marginalizado em todo o processo eleitoral.

DW África: Que apelo faz às autoridades de segurança no que diz respeito a procedimentos durante a campanha eleitoral?

FZ: O apelo vai para todos os partidos, e os seus cabeças de lista, mas vai principalmente para a Polícia da República de Moçambique. Nós esperamos que, durante estas eleições, tenhamos uma polícia imparcial, que zele pelos interesses de toda a sociedade, independentemente da profissão e da filiação partidária da pessoa. Não queremos ter episódios em que seja a própria polícia a violar os direitos humanos.

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