Nampula: Agressores tentam roubar armas de comando policial
Sitoi Lutxeque (Nampula)
28 de agosto de 2017
Agente é morto e outro fica gravemente ferido em ataque contra o Comando Distrital da Polícia da República de Moçambique em Mogovolas. Autoridades garantem que calma foi restabelecida, mas medo paira entre a população.
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Pelo menos seis homens armados atacaram na madrugada do último domingo (27.08) o Comando Distrital da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Mogovolas, na província de Nampula. Um polícia foi morto e outro ficou gravemente ferido.
Segundo o porta-voz da Polícia moçambicana em Nampula, Zacarias Nacute, os agressores disseram que queriam denunciar um crime que ocorrera recentemente, antes de iniciar o ataque às instalações policiais.
"No momento em que os indivíduos efetuaram os disparos acabaram atingindo mortalmente um dos nossos colegas e outro contraiu ferimentos e está a receber tratamento no Hospital Central [de Nampula]", afirmou.
28.08.2017 Nampula /assalto - MP3-Mono
Zacarias Nacute acrescentou que a intenção dos malfeitores era de se apoderarem de armas e munições pertencentes à polícia, mas a ação fracassou. Apenas um suspeito foi detido.
"Graças à intervenção dos colegas que estavam em prontidão noutras áreas do Comando Distrital, não foi possível retirar os instrumentos bélicos. Neste momento, estamos a trabalhar como forma de neutralizar esses indivíduos para a responsabilização criminal pelo homicídio contra o agente da autoridade pública", disse.
Situação é normalizada
O distrito de Mogovolas já foi alvo de ataques de supostos homens armados da RENAMO, mas, por enquanto, a polícia está a investigar e não avança qualquer tipo de informação sobre o assunto.
"Não temos nenhuma informação que nos leve a afirmar que os atacantes são indivíduos da RENAMO", ressaltou o porta-voz da PRM. "A situação politica na nossa província está controlada, tanto é que estamos em periodo de trégua. Além disso, não se trata de nenhum grupo terrorista", explicou.
Apesar das garantias dadas pela polícia sobre o retorno à calma e à tranquilidade, o medo continua a pairar no seio da população no distrito de Mogovolas, como contou à DW África um cidadão residente na vila sede do distrito e que solicitou o anonimato.
"A situação neste momento aqui está calma, estou só a observar. As pessoas estão a andar normalmente e as atividades estão a decorrer. Nas escolas e hospitais, há aderência. Acredito que também estejam a trabalhar normalmente", disse.
Zacarias Nacute diz que "é normal que a população se sinta ameaçada com este tipo de situação, mas a Polícia está a trabalhar no sentido de restabelecer a ordem naquele local". "Tanto é que já foram intensificadas as patrulhas e todas os esquemas de controlo e de vigilância foram reforçados de forma a evitar que algo do género volte a acontecer no distrito ou ao nível da província de Nampula", acrescentou.
Ilha de Moçambique: a "menina dos olhos" de Nampula
Há 200 anos, que a primeira capital de Moçambique foi elevada à cidade. Desde 1991 a ilha é Património Mundial da Humanidade. O arquipélago no norte de Moçambique concentra um incalculável valor histórico e cultural.
Foto: DW/J.Beck
Primeira capital de Moçambique
Situada na Província de Nampula, a Ilha de Moçambique é um destino turístico muito procurado na África Austral pelo seu vasto património histórico e cultural. "Descoberta" pelo navegador português Vasco da Gama, em 1498, aquando da viagem marítima para a Índia, esta ilha foi a primeira capital de Moçambique. É atualmente habitada por cerca de 15 mil pessoas.
Foto: DW/J.Beck
Pequena ilha, grande história
Apesar de ter apenas três quilómetros de comprimento e 400 metros de largura, esta pequena ilha carrega uma grande história. Quando Vasco da Gama a "descobriu", ela já era um importante lugar de trocas comerciais entre os africanos e os povos árabes. Após a chegada dos portugueses, a ilha ganhou uma importância estratégica na rota que ligava Lisboa a Goa, a "Carreira da Índia".
Foto: DW/J.Beck
Habitações com história
A Ilha de Moçambique está dividida em duas partes: a “cidade de pedra e cal” e a “cidade de macuti“. Na primeira (à direita da rua), eram construídas as casas que pertenciam às camadas mais altas da sociedade, onde estavam os palácios e fortalezas. Na segunda (à esquerda da rua), viviam as pessoas de classes mais baixas.
Foto: DW/J.Beck
Cidade de "macuti"
Na chamada “cidade de macuti“ viviam os mais pobres - os pescadores, por exemplo. É nesta parte da cidade que se encontram, como o nome indica, as construções mais precárias cobertas por macuti - as tradicionais folhas de coqueiro espalmadas.
Foto: DW/J.Beck
Património Mundial da Humanidade
Foi em 1991 que a ilha de Moçambique passou a integrar a lista dos destinos considerados Património Mundial da Humanidade da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO. De passagem pela ilha há vários monumentos que não pode deixar de visitar.
Foto: DW/J.Beck
Fortaleza de São Sebastião
Construída no século XVI pelos portugueses, a Fortaleza de São Sebastião visava dar proteção e apoio aos barcos que navegavam na chamada Carreira da Índia. É um dos mais representativos exemplos da arquitetura militar portuguesa na costa oriental de África.
Foto: DW/J.Beck
Capela de Nossa Senhora do Baluarte
A Capela de Nossa Senhora do Baluarte, construída em 1522 na extremidade norte da ilha, é hoje o único exemplo da arquitetura manuelina em Moçambique. O manuelino, ou também gótico português tardio, é um estilo que se desenvolveu no reinado de D. Manuel I nos séculos XV e XVI. O acesso à capela faz-se apenas pelo interior da Fortaleza de São Sebastião.
Foto: DW/J.Beck
Palácio de São Paulo
Construído em 1610, o Palácio de São Paulo, também conhecido como Palácio dos Capitães-Generais, funcionou primeiro como Colégio da Companhia de Jesus, tendo sido depois convertido no palácio do governador - função que manteve até a Ilha de Moçambique deixar de ser a capital do país, em 1898. No palácio podemos hoje visitar o Museu da Marinha e o Museu-Palácio de São Paulo.
Foto: DW/J.Beck
Outros locais de interesse turístico
O monumento dedicado ao poeta português Luís Vaz de Camões, que viveu entre 1567 e 1569 na Ilha de Moçambique, é outro dos locais que os visitantes da Ilha não podem deixar de conhecer, assim como a Igreja da Misericórdia e Museu de Arte Sacra e a Capela de São Francisco Xavier. Todos estes edifícios históricos estão localizados na Cidade da Pedra.
Foto: DW/J.Beck
Um destino multicultural
Apesar da clara influência do povo português, cabem na ilha de Moçambique apontamentos de muitas outras geografias mundiais. Encontramos aqui um largo número de culturas e religiões diferentes. Ao caminharmos pelos diferentes bairros da ilha, cruzamo-nos com várias igrejas e capelas, mas também com mesquitas e um templo hindu.
Foto: DW/J.Beck
Escola Maometana
A maioria dos habitantes da ilha pertence à religião muçulmana. A "Escola Maometana / The Mohamedia Madresa School" localiza-se ao lado da "Mesquita Central Seita Sunni" próximo do centro da Ilha de Moçambique. A ilha foi marcada durante séculos pela cultura suaíli e o islão dos povos da África Oriental, como também acontece na vizinha Tanzânia.
Foto: DW/J.Beck
Ilha em risco – um futuro incerto
Nos últimos anos, muitos são os especialistas que chamam a atenção para a possibilidade deste pequeno paraíso poder vir a desaparecer por causa das alterações climáticas. Teme-se que, devido à erosão costeira, um dia a ilha possa acordar no fundo do mar. Até ao momento já foram consumidas várias áreas pequenas.
Foto: DW/J.Beck
Fecalismo a céu aberto
Mas para além do câmbio climático, há outros problemas mais profanos no dia a dia da ilha. Muitos habitantes usam as praias como casa de banho, o que ameaça a saúde pública e coloca em perigo os atrativos turísticos da ilha. Para melhorar o saneamento básico, foram construídos sanitários públicos em vários lugares da ilha.
Foto: DW/J.Beck
Degradação apesar de Património Mundial
Apesar da classificação em 1991 como Património Mundial pela UNESCO, encontram-se muitos prédios em ruínas na Ilha de Moçambique. A recuperação é lenta. Desde que a capital do país passou para Maputo, no sul de Moçambique, os investimentos públicos concentram-se no sul do país. O norte e a Ilha de Moçambique perderam protagonismo político.
Foto: DW/J.Beck
Esforços em torno da preservação
No entanto, e apesar do património histórico omnipresente na ilha, ela quer continuar a ser um lugar para se viver. Por isso, o Governo de Moçambique e parceiros internacionais têm vindo a unir esforços para criar melhores condições sócio-económicas. E, claro, para preservar o património histórico e cultural da ilha.