Agricultores de Manica indignados com poluição das minas
Bernardo Jequete (Manica)
8 de setembro de 2021
No centro de Moçambique, a poluição dos rios devido à mineração está a preocupar os agricultores. Não são só os garimpeiros ilegais que poluem a água com mercúrio, há também empresas que depositam poluentes à noite.
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Fernando Chicote tem medo da água que usa na agricultura. O agricultor diz que a água está contaminada por causa da mineração na região. O que já afetou muitas das suas culturas.
"Afeta muito negativamente. Regando, usando aquela água turva, as culturas não se vão desenvolver e os animais que vivem naquelas águas não sobrevivem", disse Chicote à DW África.
Agricultores pedem fiscalização das empresas
Chicote apela aos líderes locais que aumentem a fiscalização para acabar com o garimpo ilegal. Pede ainda mudanças na captação, escoamento e tratamento das águas, para assegurar que as águas das empresas de mineração não sejam misturadas com as outras.
"Eles devem criar uma maneira de, pelo menos, ter alguns motores que possam puxar aquela água dos rios e abrir um charco. Algo que facilita os projetos deles, para as águas não se misturarem com aquela água limpa. Porque essa é a água que usamos para dar aos animais e para o nosso próprio consumo. E sem contar com a irrigação dos campos."
Samuel Tembo, agrónomo e ativista ambiental, alerta que o garimpo ilegal de minérios preciosos, incluindo o ouro, está a impregnar as águas com mercúrio.
"Esta prática da mineração ilegal acaba por provocar prejuízos ao produtor. Então, um dos mecanismos para encontrar uma saída é criar condições para sensibilizar os mineradores ilegais para os prejuízos que estão a causar ao poluir aas águas."
Poluentes nacionais e estrangeiros
Segundo a governadora de Manica, Francisca Tomás, esta situação é o grande "calcanhar de Aquiles" da província. E não são só os garimpeiros que poluem. As águas são também contaminadas por mineradoras nacionais e estrangeiras, por exemplo, a partir do vizinho Zimbabué, explica Tomás.
Em Manica já houve duas empresas suspensas por depositarem resíduos poluentes nos rios.
"Há algumas empresas que não são muito honestas. Podem ter um poço de água para lavar os seus minerais, mas, à noite, acabam por drenar as águas nos rios. Naqueles sítios onde passam os rios já não há atividade agrícola, porque as águas não são próprias para regar", disse Tomás.
O potencial agrícola na região é grande, acrescenta a governante. A produção nos distritos de Manica e Báruè poderia bastar para resolver os problemas alimentares de toda a província. Com a poluição dos rios, também a saúde da população é colocada em risco.
Visita guiada ao Parque Nacional de Chimanimani
Passou de reserva a Parque Nacional de Chimanimani. A DW foi conhecer as potencialidades do novo parque na província de Manica, centro de Moçambique. Após 7 meses de pausa devido à Covid-19, os turistas estão de volta.
Foto: DW/B. Jequete
Um parque com grande potencial turístico
Chimanimani, que em português significa "algo apertado", localiza-se a sul da província de Manica, no distrito de Sussundenga. Passou de reserva para a categoria de parque nacional em maio deste ano. Com uma área total de 2368 km², fazem parte do potencial turístico atrações como o Monte Binga, as pinturas rupestres, as cascatas de Muoha e de Mudzira, a cordilheira e a Garganta de Chimanimani.
Foto: DW/B. Jequete
Garganta de Chimanimani
Chama-se assim por ter o formato de uma garganta. A força das águas rompeu as rochas da cordilheira, criando caminho por baixo do monte. A água que aqui circula tem esta cor porque reflete o verde das plantas. Outra curiosidade que atrai muitos turistas a este local é a água que circula por baixo do monte, de onde saem vários rios.
Foto: DW/B. Jequete
Cascata de Mudzira
Chimanimani tem duas cascatas: Muoha e Mudzira. Esta última é a maior cascata do país, com uma queda de água de 139 metros. Já a de Muoha não vai além dos 80 metros. Os dois locais são visitados com frequência pelos turistas, para dar um mergulho ou simplesmente para apanhar ar fresco e puro. São locais invejáveis que Chimanimani tem para oferecer aos turistas.
Foto: DW/B. Jequete
Monte Binga, o mais alto de Moçambique
É o pico mais alto de Moçambique. Com 2.436 metros de altitude, o Monte Binga é um dos cartões de visita para as pessoas que escalam este ponto turístico. Leva-se dois dias a chegar ao pico do monte. E quando lá se chega é preciso contar com a mudança de temperatura: os termómetros chegam a descer até aos 5 graus Celsius. Por isso, há quem diga que chegar ao Binga é como chegar à Europa...
Foto: DW/B. Jequete
Cordilheira de Chimanimani
A bela cordilheira de Chimanimani comove muitos turistas, tanto nacionais como estrangeiros, que visitam o parque para contemplar e desfrutar desta paisagem única. Nesta cordilheira convivem pelo menos 33 espécies - de animais e plantas.
Foto: DW/B. Jequete
Pinturas rupestres milenares
As pinturas rupestres de Chimanimani têm milhares de anos. Diz-se que foram pintadas pelo povo bantu, como forma de retratar a sua vida quotidiana. Também se acredita que foi esse povo que desenhou as pinturas rupestres existentes em Chinhamapere, no distrito de Manica, tendo em conta o mesmo tipo de imagens encontradas.
Foto: DW/B. Jequete
Refúgio do povo bantu
Era em cavernas como esta que o povo bantu se refugiava das chuvas. Nessa altura, também aproveitava as grutas para fazer fogo e aquecer-se. Nos dias que correm, as cavernas do Parque Nacional de Chimanimani já só são habitadas por morcegos. Os turistas visitam as grutas para ver de perto os locais apenas descritos nos livros de História.
Foto: DW/B. Jequete
Preparados para enfrentar a Covid-19
O Parque Nacional de Chimanimani não ficou alheio ao anúncio do relaxamento de algumas medidas de restrição feito pelo Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi. Agora já voltaram a receber turistas - dez de cada vez, para já. Logo à entrada do parque há funcionários preparados para pulverizar as viaturas. O PNC tem cumprido as medidas de prevenção recomendadas, como a lavagem obrigatória das mãos.
Foto: DW/B. Jequete
Faltam fiscais no parque
Mas há falta de fiscais no Parque de Chimanimani, que neste momento conta apenas com 26 profissionais para controlar uma área total de 2.368 km². Segundo o administrador do parque, Leonel Massicame, há necessidade de aumentar o número de fiscais. Depois de várias palestras na região, a população que reside na chamada "zona tampão" já não caça de qualquer maneira os animais no parque.
Foto: DW/B. Jequete
Abundância de cudos
No Parque Nacional de Chimanimani abundam os cudos. São um alvo frequente dos caçadores furtivos, que matam estes animais sobretudo pela sua carne - não só para consumo próprio (para cozinhar e transformar em caril), mas também para vender. Um cenário que, nos últimos tempos, tem vindo a ser menos frequente.
Foto: DW/B. Jequete
Um longo caminho a percorrer
A população que vive na "zona tampão" do Parque Nacional de Chimanimani tem de percorrer longas distâncias até chegar à sede do distrito, onde pode comprar produtos alimentares. Não há serviços de transporte disponíveis para estes habitantes.
Foto: DW/B. Jequete
Falta ponte: Uma pedra no sapato
A falta de uma ponte é um problema para os automóveis comuns. Só conseguem passar aqui condutores profissionais. Existe o sério risco de a viatura deslizar, se o automobilista não tiver muito cuidado. O receio de acidentes é permanente. É um desafio para o parque conseguir dinheiro para construir uma ponte para os turistas passarem à vontade no local.
Foto: DW/B. Jequete
Descida acentuada, perigo iminente
O perigo também é iminente neste troço de Chimanimani, principalmente quando se vai para a zona das cascatas, das pinturas rupestres ou das cavernas. Viaturas não preparadas não conseguem passar aqui. Já tombaram neste local muitos automóveis. Um dos grandes desafios do Parque Nacional de Chimanimani é investir em vias de acesso e infraestruturas.
Foto: DW/B. Jequete
Melhorar o parque de estacionamento
Outro dos próximos desafios em Chimanimani é melhorar o parque de estacionamento. Os turistas que já começaram a voltar ao Parque Nacional, depois de sete meses de pausa nas visitas devido à pandemia de Covid-19, pedem melhorias neste alpendre para que as suas viaturas fiquem mais protegidas quando chove.
Foto: DW/B. Jequete
Melhorar as vias de acesso
São várias as vias de acesso ao Parque Nacional de Chimanimani a precisar de melhorias. Aqui, os animais deambulam de um lado para outro. Por isso, é solicitada atenção redobrada aos automobilistas, porque a velocidade pode resultar em atropelamentos de animais.
Foto: DW/B. Jequete
Pôr do sol em Chimanimani
O Parque Nacional também está preparado para receber turistas que queiram pernoitar por aqui. Há até tendas próprias para os visitantes, que terão de pagar um pouco mais do que um bilhete de entrada simples para passar aqui a noite. Que turista vai querer perder este pôr do sol em Chimanimani?