À procura de uma segunda oportunidade depois do Al-Shabaab
Melanie Cura Daball | nn
5 de agosto de 2019
Todos os anos, dezenas de jovens caem nas mãos dos terroristas do Al-Shabaab. Muitos acabam envolvidos em ataques, poucos são os que escapam. A DW esteve num centro de reabilitação para ex-combatentes no sul da Somália.
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Algures em Jubaland, no sul da Somália, uma casa de alta-segurança alberga 86 ex-combatentes do Al-Shabaab. São cidadãos que embarcaram num processo de reabilitação para se libertarem da doutrina extremista. A maioria são homens com idades entre os 24 e os 29 anos, amnistiados pela Justiça somali.
Nesta casa, os jovens procuraram uma segunda oportunidade, depois de se libertarem das amarras de um dos grupos extremistas mais mortíferos do mundo. Dois deles mostraram-se dispostos a partilhar a sua história e falar sobre a deserção à DW África. Por segurança, a sua localização e identidades reais não serão divulgadas.
Isa tinha apenas 15 anos quando se alistou no grupo terrorista, há cinco anos. "No início, as pessoas juntavam-se por causa da religião. Eles diziam que estavam a promover a religião, mas isso é apenas um disfarce. Na verdade, eles matam pessoas inocentes sem motivo", relata o jovem.
Al-Shabaab: À procura de uma segunda oportunidade depois da deserção
Também sob o pretexto da religião, Ahmed juntou-se ao grupo quando tinha 16 anos. Demorou quase oito a conseguir escapar. "Eles também matam muçulmanos nos ataques. Quando vi o meu povo a morrer, decidi que era hora de fugir", recorda.
Movimento recruta alvos fáceis
Muitas crianças e homens oriundos de regiões pobres e desfavorecidas da Somália são atraídos para o Al-Shabaab na sequência de dificuldades financeiras, mas também em busca de um sentido de pertença e de integração. São depois manietados, doutrinados e incumbidos de funções específicas antes de serem lançados em missões para aterrorizar a população. Na maioria das vezes, estes jovens têm passados frágeis ou são oriundos de famílias desestruturadas, o que os torna presas frágeis para o Al-Shabaab.
Para lidar com o peso da violência do passado, Ahmed e outros desertores do Al-Shabaab recebem aulas práticas de grupo. O objetivo é libertarem-se do lado obscuro da sua história, que lhes traz pesadelos e questionamentos diários. "Eu não sabia viver em sociedade. Aprendi isso aqui. Aprendi a sustentar-me", admite.
Batalha anti-terrorista mantém-se
A apenas 70 quilómetros desta cidade, a Missão da União Africana para a Somália (AMISOM) trava ainda uma luta diária contra o grupo terrorista. "Nós lutámos muito e já libertámos várias regiões nos últimos dois ou três meses. Estamos também a trabalhar num plano para chegar a áreas ainda sob controlo do Al-Shabaab e entregá-las ao exército somali", revela Birhanu Tilahun Berhe, comandante na frente de batalha.
No centro de reabilitação de Jubaland, os ex-combatentes do Al-Shabaab recebem apoio psicológico profissional. Por outro lado, o companheirismo e o tempo de lazer em grupo ajudam-nos a superar o trauma e a traçar planos para o futuro.
"Podemos conversar sobre os nossos erros e aconselhar-nos sobre como não recair em caminhos destrutivos", diz Isa. "Para a Somália, espero o renascimento de um governo unido e, para a minha vida, espero trabalhar em benefício do meu país e do meu povo", conclui Ahmed.
Mogadíscio - cidade de extremos
A capital da Somália é uma cidade de desespero e de esperança. Assolada por quase 30 anos de guerra civil, Mogadíscio tenta reconstruir-se e recuperar um Estado falido.
Foto: DW/S. Petersmann
Combate à fome
Xamdi é filha de nómades somalis e esteve na enfermaria de nutrição do Hospital Banadir, de Mogadíscio, desde o início de agosto. A sua mãe alimenta-a com uma pasta à base de amendoim, para tratamento de desnutrição aguda. Xamdi tem três anos e pesa apenas sete quilos. A maioria das crianças na Alemanha na mesma faixa etária pesa duas vezes mais. Cerca de 800 mil somalis enfrentam fome.
Foto: DW/S. Petersmann
Sistema de saúde em colapso
Este menino recupera na cama ao lado de Xamdi. Luta contra a pneumonia, uma das infecções mais comuns causadas pela desnutrição crónica e condições superlotadas nos campos de refugiados. As suas mãos estão envolvidas em papel para evitar que ele tire o tubo de alimentação. O Hospital Banadir é a maior clínica pública de Mogadíscio, mas mesmo aqui é visível o caos do sistema de saúde.
Foto: DW/S. Petersmann
Cidade de refugiados
A capital somali está cheia de casas improvisadas. Muitos nómadas e camponeses estão determinados a ficar. Fugiram da guerra civil, do terror, da violência e da fome extrema. A população da cidade saltou para cerca de 2,5 milhões. Pelo menos 600 mil são oficialmente consideradas "pessoas internamente deslocadas".
Foto: DW/S. Petersmann
Um fardo pesado
Os conglomerados e as condições de vida sem higiene nos campos são um risco para a saúde. As infecções agudas de foro respiratório e a diarreia são doenças comuns entre os deslocados internos de Mogadíscio. A vida nos campos improvisados é uma luta diária para a próxima refeição e o próximo balde de água.
Foto: DW/S. Petersmann
A vida à espera
Não há muito a fazer dentro dos campos, mas sim sentar e esperar. Muitas crianças não têm acesso a educação. A maioria dos acampamentos improvisados não tem parque infantil ou outros espaços recreativos.
Foto: DW/S. Petersmann
Cidade feita de ruínas
Também há muito dificuldade fora dos campos. Especialmente a parte antiga de Mogadíscio é marcada por quase três décadas de conflito interno. Mas também há sinais de novos começos.
Foto: DW/S. Petersmann
A hora da "selfie"
Esses jovens divertem-se no Parque da Paz de Mogadíscio. Todos eles são estudantes, todos expressam fé no novo Governo do Presidente Abdullahi, apoiado pelo Ocidente. Um dos estudantes, que quer ser engenheiro de aviação civil, diz: "é muito mais seguro aqui do que há cinco anos. Hoje temos lugares como o Parque da Paz. Mogadíscio está mudando e nós estamos adoramos".
Foto: DW/S. Petersmann
Não às armas
Logo na entrada do Parque da Paz, os visitantes são lembrados de deixar para trás armas, como as chamadas Kalashnikovs, facas, granadas de mão e pistolas.
Foto: DW/S. Petersmann
Onde tudo acontece
A praia de Liido, em Mogadisci, atrai multidões, especialmente após as preces islâmicas de sexta-feira. As pessoas juntam-se para dançar e jogar futebol. Este desporto é extremamente popular na Somália e os jovens amantes reúnem-se na praia de Liido, um local antes de acesso difícil a civis, que estava sob controlo da milícia Al-Shabab.
Foto: DW/S. Petersmann
Reconstrução em pleno andamento
A comunidade internacional começou a investir na reconstrução do Estado fracassado da Somália. Os sinais visíveis estão na capital, como esta nova rua foi feita com ajuda da Turquia. Os turcos também criaram uma grande base militar em Mogadíscio para treinar soldados da Somália.
Foto: DW/S. Petersmann
Muros e cercas
Novas residências brotam em toda a Mogadíscio. A diáspora que retorna para a Somália investe no mercado imobiliário em expansão da cidade. Assim como políticos e outras classes mais ricas. Muitos dos novos edifícios estão rodeados por altos muros de proteção contra explosão e arames farpados para afastar terroristas, criminosos e grupos rivais.
Foto: DW/S. Petersmann
Zona Verde
O terreno do aeroporto tornou-se o centro dos expatriados. Como Bagdad e Kabul, Mogadíscio também tem uma chamada "zona verde". As Nações Unidas e a maioria das missões diplomáticas que retornam vivem e trabalham neste vasto complexo que se desenvolveu em torno do Aeroporto Internacional de Mogadíscio. Está cercado e protegido pelas tropas da União Africana.
Foto: DW/S. Petersmann
Cidade de murais
A maioria das fachadas das lojas ou vitrines é pintada à mão, em Mogadíscio. Os trabalhos agregam uma cor necessária a uma cidade que se ergue lentamente de suas ruínas.
Foto: DW/S. Petersmann
Compras pela internet
Cartazes modernos também têm conquistado as ruas, anunciando compras on-line de moda árabe ou uniformes para instituições privadas de ensino.
Foto: DW/S. Petersmann
Novidades não são para todos
As novas atrações da cidade estão fora do alcance dos muitos deslocados e pobres. O progresso e a estabilidade da Somália também dependerão da capacidade do Estado de conquistar a confiança dos habitantes. Atualmente, quase sete milhões de pessoas, cerca de metade da população do país, dependem de ajuda humanitária.
Foto: DW/S. Petersmann
Explosão juvenil
Mais de metade da população da Somália tem menos de 18 anos. A maioria dos cidadãos nasceu após queda de Mohammed Siad Barre, em 1991 - o evento crucial que desmoronou o Estado. A juventude da capital, quando não está envolvida em alguma atividade, sente-se marginalizada, aumentando a vulnerabilidade da Somália.