Alemanha ainda não pediu desculpas à Namíbia por genocídio
Daniel Pelz | ms
5 de agosto de 2017
A Alemanha prometeu pedir desculpas à Namíbia pelo genocídio dos povos Herero e Nama durante a era colonial, ainda antes das eleições gerais de 24 de setembro. Mas não há progressos nas negociações entre os dois países.
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O genocídio na atual Namíbia aconteceu há mais de 100 anos. Estima-se que, entre 1904 e 1908, tenham sido assassinadas mais de 75 mil pessoas das tribos Herero e Nama que se revoltaram contra o Governo colonial alemão. Outras fontes falam em mais de 100 mil mortos na antiga colónia no sudoeste de África, onde houve massacres, deportações e trabalhos forçados.
Mas apesar da crescente pressão da sociedade civil, até agora a Alemanha ainda não se desculpou pelos crimes. Só no ano passado o Governo usou o termo "genocídio" pela primeira vez.
Também em 2016, um porta-voz do Ministério alemão dos Negócios Estrangeiros prometeu uma declaração conjunta de ambos os governos sobre os massacres da era colonial, antes das eleições gerais de 24 de setembro. Mas isso é algo que parece cada vez menos provável.
Altos e baixos
De acordo com o politólogo Henning Melber, as conversações atravessam altos e baixos. "Faz parte das negociações diplomáticas que ambas as partes se sentem à mesa e digam estar abertas a negociações com o outro lado, mesmo quando não estão. Mas é um disparate antecipar publicamente o que não é possível".
O enviado especial do Governo alemão para as negociações, Ruprecht Polenz, é cada vez mais cauteloso quando se fala sobre o futuro do processo. "Acho que é correto esclarecer estas questões desde o início, para manter as expetativas num nível realista e evitar que as negociações sejam prejudicadas", diz Polenz, que rejeita previsões mais pessimistas.
Acordo?
As duas partes parecem incapazes de chegar a acordo. Antes do início das negociações, Berlim já tinha rejeitado publicamente o pagamento de reparações à Namíbia pelo genocídio – algo que não caiu bem ao outro lado.
Em vez disso, a Alemanha propõe formas indiretas de reparação, como a criação de programas conjuntos com a Namíbia para promover a consciencialização sobre o genocídio e o seu impacto nos dois países. E também quer financiar projetos de fornecimento de energia, habitação a preços acessíveis e formação.
Alemanha ainda não pediu desculpas à Namíbia por genocídio
Em entrevistas anteriores, o enviado especial Ruprecht Polenz disse que a Alemanha tinha a responsabilidade moral de "curar feridas". Mas não é isso o que o outro lado quer.
Segundo o enviado especial da Namíbia para as negociações, Zed Ngavirue, do ponto de vista dos namibianos, "a definição de reparações, adequadas e eficazes, não pode basear-se numa receita decidida por médicos em Berlim".
Uma nova ronda de negociações deverá ter lugar em Berlim, mas ainda não se sabe quando. E os especialistas não esperam que terminem em breve.
Racista e cruel, a história colonial da Alemanha
A exposição no Museu Histórico Alemão, em Berlim, é a primeira grande exibição que explora os capítulos do domínio colonial da Alemanha. Uma história da ambição falhada de uma superpotência.
Foto: public domain
A cara do colonialismo
Com o chanceler Otto von Bismarck, o Império Colonial Alemão estabeleceu-se nos territórios da atual Namíbia, Camarões, Togo e em algumas partes da Tanzânia e do Quénia. O imperador Guilherme II, coroado em 1888, tentou expandir os domínios coloniais. O imperador alemão queria um "lugar ao sol", como disse mais tarde, em 1897, o chanceler Bernhard von Bülow.
Foto: picture-alliance/AP Photo/DW
Colónias alemãs
Foram conquistados territórios no Pacífico (Nova Guiné, Arquipélago de Bismarck, Ilhas Marshall e Salomão e Samoa) e na China (Tsingtao). A Conferência de Bruxelas em 1890 determinou que o imperador germânico iria obter os reinos do Ruanda e Burundi, ligando-os à África Oriental Alemã. No final do século XIX, as conquistas coloniais alemãs estavam praticamente completas.
Foto: picture-alliance / akg-images
Um sistema de desigualdades
A população branca nas colónias era uma minoria, raramente representava mais de 1% da população. Uma minoria privilegiada, contudo. Em 1914, cerca de 25 mil alemães viviam nas colónias, menos de metade no Sudoeste Africano Alemão (atual Namíbia). Os 13 milhões de nativos das colónias alemãs eram vistos como subordinados, sem recurso ao sistema legal.
Foto: picture-alliance/dpa/arkivi
O primeiro genocídio do século XX
O genocídio contra os povos Herero e Nama no Sudoeste Africano Alemão (atual Namíbia) é o mais grave crime na história colonial da Alemanha. Durante a Batalha de Waterberg, em 1904, a maioria dos rebeldes Herero fugiram para o deserto, onde as tropas alemãs bloquearam sistematicamente o acesso à água. Estima-se que morreram mais de 60 mil Hereros.
Foto: public domain
A culpa alemã
Apenas cerca de 16 mil Hereros sobreviveram ao extermínio. Foram depois detidos em campos de concentração, onde muitos acabaram por falecer. O número exato de vítimas continua por apurar e é ponto de controvérsia. Quanto tempo terão sobrevivido os Hereros depois de fugirem para o deserto? Eles perderam todos os seus bens, os seus meios de subsistência e as perspetivas de futuro.
Foto: public domain
Reformas em 1907
Depois das guerras coloniais, a administração das colónias alemãs foi reestruturada com o objetivo de melhorar as condições de vida. Bernhard Dernburg, um empreendedor de sucesso (na imagem, transportado na África Oriental Alemã), foi nomeado secretário de Estado dos Assuntos Coloniais em 1907 e introduziu reformas nas políticas coloniais da Alemanha.
Foto: picture alliance/akg-images
A ciência e as colónias
Com as reformas de Dernburg foram criadas instituições científicas e técnicas para lidarem com assuntos coloniais. Assim estabeleceram-se faculdades nas atuais universidades de Hamburgo e Kassel. Em 1906, Robert Koch dirigiu uma longa expedição à África Oriental para investigar a transmissão da doença do sono. A imagem demonstra amostras coletadas nessa expedição.
Foto: Deutsches Historisches Museum/T. Bruns
Uma das maiores guerras coloniais
De 1905 a 1907, uma ampla aliança de grupos étnicos rebelaram-se contra o poder na África Oriental Alemã. Cerca de 100 mil locais morreram na Revolta de Maji-Maji. Apesar de raramente discutido, este continua a ser um importante capítulo da história da Tanzânia.
Foto: Downluke
A perda das colónias
Derrotada na Primeira Guerra Mundial, a Alemanha assinou o tratado de paz de Versalhes, em 1919, que previa que o país renunciava a soberania sobre as colónias. Cartazes como este demonstram o medo dos alemães de, como consequência, perderem poder económico e viverem na pobreza e na miséria no seu país.
Foto: DW/J. Hitz
Ambições coloniais do "Terceiro Reich"
As aspirações coloniais voltaram a surgir com o nazismo e não apenas em relação à colonização da Europa Central e Oriental, através do genocídio e limpeza étnica. O regime nazi pretendia também recuperar as colónias perdidas em África, como demonstra este mapa escolar de 1938. Os territórios eram vistos como fonte de recursos para a Alemanha.
Foto: DW/J. Hitz
Processo espinhoso
As negociações para uma declaração conjunta do genocídio dos povos Herero e Nama entraram numa fase difícil. Enquanto a Alemanha trava quanto a compensações financeiras, há também deficiências nas estruturas políticas internas da Namíbia. Representantes Herero apresentaram, recentemente, uma queixa à ONU contra a sua exclusão nas negociações em curso.