Berlim ajuda com 120 milhões de euros vítimas do Boko-Haram
Lusa | AFP | DPA | rl
24 de fevereiro de 2017
Numa conferência, esta sexta-feira (24.02), em Oslo, 14 países prometeram 633 milhões de euros para ajudar a Nigéria e os países da região do Lago Chad. Alemanha contribui com 120 milhões nos próximos três anos.
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Decorreu esta sexta-feira (24.02) em Oslo, Noruega, a conferência de doadores para ajudar as cerca de 10,7 milhões de pessoas vítimas dos conflitos, em grande parte causados pelo grupo Boko Haram, na Nigéria e na região do Lago Chad. No encontro, organizado pela Alemanha, Noruega e Nigéria, e que reuniu 14 países, a maioria da Europa Ocidental, mas também outros como o Japão e a Coreia do Sul, ficaram prometidos 633 milhões de euros, num prazo de três anos.
Alemanha participa com 120 milhões de euros
Na presença do seu ministro dos negócios estrangeiros, Sigmar Gabriel, a Alemanha comprometeu-se a ajudar as vítimas desta região com 120 milhões de euros nos próximos três anos.
No âmbito da realização desta conferência, Melanie Müller, especialista em assuntos da África Ocidental no Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança, reforçou o papel da Alemanha nas causas referentes ao continente africano.
"Não é surpreendente que a Alemanha se comprometa com a região e seja um dos países coorganizadores da conferência. No ano passado, e especialmente nos últimos meses, a Alemanha tem anunciado novas parcerias com o continente africano e tem repetido a sua intenção em lutar contra as causas da migração”, afirmou a responsável, acrescentando que, na sua opinião, "o objetivo é alcançar a estabilidade na região, resolvendo os problemas que levam as pessoas a sair”.
No ano passado, a chanceler alemã, Angela Merkel, fez uma viagem ao Níger, prometendo ajudas no valor de 17 milhões de euros.
633 milhões de euros em três anos
As estimativas da ONU apontam para que, em 2017, a região do lago Chade, rodeado pela Nigéria, Níger, Camarões e Chade tenha necessidades avaliadas em cerca de 1,4 mil milhões de euros, o que faz com que estes 633 milhões agora angariados fiquem um pouco aquém do objetivo. No entanto, o Subsecretário-Geral da ONU, Stephen O'Brien, mostrou-se confiante em alcançar a meta anual. "Numa manhã conseguimos um terço" do objetivo, lembrou.
Ausência dos EUA
Uma das maiores ausências na conferência foi a dos Estados Unidos da América. O país, cujo novo presidente, Donald Trump, anunciou a intenção de reduzir a ajuda internacional, não apresentou esta sexta-feira qualquer promessa.
"Os Estados Unidos disseram que comunicariam posteriormente a sua contribuição, portanto ela não foi contabilizada" explicou à imprensa Borge Brende, ministro norueguês dos Negócios Estrangeiros.
O ministro do Exterior da Nigéria, Geoffrey Onyeama, agradeceu a solidariedade internacional. "Debaixo dos nosso olhos está-se a desenrolar uma grande tragédia”,afirmou o nigeriano,relembrando que a comunidade internacional deve estar consciente da dimensão do problema e da importância que a educação das crianças tem para que, no futuro, se possam tornar mais fortes perante as ideologias extremistas.
Sabe-se que o conflito nesta região tirou já a vida a cerca de 20 mil pessoas. Mais de 2,6 milhões já tiveram que se mudar, uma realidade que piora a situação humanitária nesta região que já por si é díficil. "O terrorismo do Boko Haram provocou uma crise de deslocados que se converteu numa grave crise de alimentação e nutrição”, concluiu Borge Brende.
Reféns do Boko Haram libertados na Nigéria: "Ainda dói"
As 293 mulheres e crianças libertadas na semana passada pelo exército nigeriano das mãos do Boko Haram foram levadas para um campo de refugiados perto da cidade de Yola. Mas o seu sofrimento está longe de terminar.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
O sorriso perdido
"O que se percebe imediatamente é que as crianças aqui quase não riem", conta um funcionário do acampamento de Malkohi, na periferia da cidade nigeriana de Yola. Cerca de metade das perto de 300 pessoas que eram mantidas em cativeiro pelo Boko Haram tem menos de 18 anos. Um terço das crianças no acampamento sofre de desnutrição.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Primeiros dias de vida no acampamento
Lami Musa é mãe da mais recente moradora do acampamento de Malkohi. Deu à luz na semana passada. Um dia depois foi salva por soldados nigerianos. Durante a operação de resgate várias mulheres foram mortas pelos terroristas. "Apertei firmemente a minha filha contra o meu corpo e inclinei-me sobre ela", recorda a jovem mãe.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Filho perdido durante o cativeiro
Halima Hawu não teve tanta sorte. Um dos seus três filhos foi atropelado enquanto os terroristas a raptavam. Durante a operação de resgate um soldado nigeriano atingiu-a numa perna, porque os membros do Boko Haram usam as mulheres como escudos humanos. "Ainda dói, mas talvez agora o pior já tenha passado", espera Halima Hawu.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Poucos alimentos para as crianças
Babakaka, de três anos, teve de passar seis meses com o Boko Haram. Só raramente havia algum milho para as crianças, contam antigos prisioneiros. Quando foram libertados pelos soldados, Babakaka estava quase a morrer de fome. Babakaka continua extremamente fraco e ainda não recebeu tratamento médico adequado no acampamento.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Sobrevivência por um triz
A mãe de Babakaka foi levada para o Hospital de Yola juntamente com cerca de outras vinte pessoas gravemente feridas. Durante a fuga, alguém que seguia à sua frente pisou uma mina. A explosão foi tão forte que a mulher ficou gravemente ferida. Perdeu o bebé que carregava.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Roupas usadas do Ocidente
Exceptuando algumas doações de roupas velhas, ainda não chegou muita ajuda internacional às mulheres e crianças do acampamento de Malkohi. Aqui há falta de muitas coisas, sobretudo de pessoal médico. Não há qualquer vestígio do médico de serviço no acampamento. Apenas duas enfermeiras e uma parteira mantêm em funcionamento o posto de saúde temporário.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Dependentes de voluntários
"Não entendo por que motivo o nosso serviço de emergência nacional não faz mais", reclama a assistente social Turai Kadir. Por sua própria iniciativa, Turai Kadir chamou uma médica para tratar das crianças mais desnutridas. Na verdade, essa é a tarefa da NEMA, a agência nigeriana de gestão de emergências, que está sobrecarregada.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
"Incrível capacidade de resistência"
Regina Musa voltou há poucos meses dos Estados Unidos para dar aulas de Psicologia na Universidade de Yola. Agora, a psicóloga presta aconselhamento psicológico a mulheres e crianças. "As mulheres têm demonstrado uma incrível capacidade de resistência", diz Musa. Durante o período traumático, muitas delas também se preocupavam com os filhos de outras pessoas. Autor: Jan-Philipp Scholz (em Yola)