Após a derrota do seu partido em eleições regionais, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, não vai recandidatar-se à presidência da União Democrata Cristã (CDU). "É tempo de abrir um novo capítulo", afirmou.
Publicidade
Depois da derrota do seu partido nas eleições regionais de Hesse, a chanceler alemã, Angela Merkel, anunciou que não se vai recandidatar à presidência da União Democrata Cristã (CDU) num congresso partidário agendado para dezembro.
Merkel garantiu, por outro lado, que vai continuar a chefiar o Governo da Alemanha, mas que o mandato atual como chanceler, que termina em 2021, será o seu último.
"Hoje, é tempo de abrir um novo capítulo", afirmou Angela Merkel esta segunda-feira (29.10). "Esta decisão é o meu contributo para que a coligação se possa focar no seu esforço para uma boa governação."
Eleições regionais: voto contra grande coligação de Merkel
Merkel anunciou a decisão um dia depois das eleições no estado federado de Hesse, onde os dois partidos da grande coligação de Berlim sofreram grandes perdas.
A União Democrata Cristã, de Angela Merkel, perdeu 11,3 pontos percentuais, obtendo apenas 27,0% dos votos. Por sua vez, o parceiro de coligação da chanceler, o Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), perdeu 10,9 pontos percentuais, ficando em segundo lugar com 19,8% - foi o pior resultado dos social-democratas nesta região desde a Segunda Guerra Mundial.
Hesse é o estado onde, tradicionalmente, CDU e SPD conquistam mais votos. Por isso, os resultados da votação de domingo (29.10) são vistos como uma punição do eleitorado à grande coligação de Merkel em Berlim.
Os Verdes, que empataram com 19,8% com o SPD (+8,7%), e o partido populista de extrema direita AfD (Alternativa para a Alemanha) com 13,1% (+9,0%) foram os partidos que mais subiram nas preferências dos eleitores. Na última legislatura, o estado de Hesse foi governado por uma coligação entre a CDU e os Verdes e é provável que haja uma reedição deste governo regional, mesmo com uma maioria menos confortável de um deputado no parlamento regional.
A 14 de outubro, os partidos da grande coligação de Berlim sofreran uma outra derrota histórica, nas eleições regionais no estado da Baviera. A União Social Cristã (CSU), partido irmão da CDU na Baviera, teve com 37,2% (-10,5%) o seu pior resultado desde 1950. O SPD alcançou apenas 9,7% dos votos (-10,9%), o pior resultado desde a Segunda Guerra Mundial em eleições regionais, ficando apenas em quinto lugar.
Fim da simbiose entre chefia do partido e da chancelaria
Até agora, Angela Merkel sustentava que a liderança da CDU e da chancelaria eram duas posições que deveriam ser ocupadas pela mesma pessoa, enquanto o partido estivesse à frente do Governo, e já havia manifestado a sua intenção de concorrer a um novo mandato à frente da CDU no congresso do partido em dezembro.
No entanto, os setores mais conservadores do partido mostraram-se insatisfeitos com a intenção de Merkel de se recandidatar à eleição. Porém, até agora não havia nenhuma candidatura contrária com peso político.
Quem será o sucessor de Merkel?
A atual secretária-geral da CDU, Annegret Kramp-Karrenbauer já anunciou a sua candidatura à presidência do partido, segundo relatou o semanário "Die Zeit". Kramp-Karrenbauer já foi primeira-ministra do estado de Sarre (de 2011 a 2018) e é vista por muitos analistas como a sucessora designada por Angela Merkel. O atual ministro
Na ala mais crítica da CDU à liderança de Merkel, o atual ministro da Saúde, Jens Spahn, também já anunciou a sua candidatura. Além dele, o ex-presidente do grupo parlamentar Friedrich Merz, também se manifestou disposto a assumir a liderança, "se o partido assim o quiser". Friedrich Merz é tido como um representante da ala conservadora do partido e abandonou a linha de frente da política depois de um conflito com Merkel em 2002.
Sobre o seu sucessor, Angela Merkel disse esta segunda-feira que aceitará "qualquer decisão democrática que seja tomada" pelo seu partido.
Chefes de Governo da Alemanha: de Adenauer a Merkel
Desde 1949, a Alemanha teve oito chanceleres: sete homens e uma mulher. A chanceler atual, Angela Merkel, conseguiu um quarto mandato nas eleições legislativas de setembro de 2017.
Foto: picture-alliance-dpa/O. Dietze
Konrad Adenauer (CDU), 1949-1963
A eleição de Konrad Adenauer do partido democrata-cristão CDU como primeiro chefe de Governo da Alemanha, em 15 de setembro de 1949, marcou o início de um longo processo de reestruturação política no país. Reeleito em 1953, 1957 e 1961, renunciou ao cargo apenas aos 87 anos de idade, em 1963. Fortaleceu a aliança com os Estados Unidos da América. Na foto: no seu escritório em Bona.
Foto: picture-alliance/akg-images
Ludwig Erhard (CDU), 1963-1966
O segundo chanceler da Alemanha também pertenceu à CDU, mas esteve apenas três anos no Governo. Erhard renunciou devido ao rompimento da coligação com o partido liberal FDP. Mesmo assim, participou de forma ativa da reforma monetária alemã do pós-guerra. O fumador convicto ficou famoso como "pai" da economia social de mercado ("Soziale Marktwirtschaft") e do milagre económico alemão.
Foto: picture-alliance/dpa
Kurt Georg Kiesinger (CDU), 1966-1969
Foi eleito por uma grande coligação dos dois partidos CDU e SPD (de esquerda). O seu Governo teve que combater uma crise económica. Kiesinger foi duramente criticado pelo seu passado como membro ativo do partido nacional-socialista NSDAP durante a ditadura fascista na Alemanha. Com a ausência de uma oposição forte no Parlamento, formou-se em 1968 um movimento de protesto estudantil na Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa
Willy Brandt (SPD), 1969-1974
A onda de protestos teve reflexos nas eleições: Willy Brandt tornou-se no primeiro chanceler social-democrata no pós-guerra. Melhorou as relações com os países comunistas do leste. Durante uma visita à Polónia, ajoelhou-se no monumento pelas vítimas do nazismo no Gueto de Varsóvia. Gesto que ficou famoso como pedido de desculpas. Renunciou ao cargo em consequência de um caso de espionagem.
Foto: picture-alliance/dpa
Helmut Schmidt (SPD), 1974-1982
Após a renúncia de Brandt, Helmut Schmidt prestou juramento como chanceler. O social-democrata teve de combater o terrorismo do grupo extremista de esquerda RAF. Negou negociar com os terroristas alemães. Enfrentou a oposição por causa do estacionamento de mísseis nucleares dos EUA na Alemanha. Depois da saída do Governo do parceiro FDP (liberais), perdeu um voto de confiança no Parlamento.
Foto: picture-alliance/dpa
Helmut Kohl (CDU), 1982-1998
Helmut Kohl formou uma nova coligação centro-direita com os liberais. Ficou 16 anos no poder, um recorde. Ficou famoso pela sua teimosia e por não gostar de reformas. Depois da queda do Muro de Berlim, Kohl consegui reunificar as duas Alemanhas, a RFA ocidental e a RDA oriental. Ficou conhecido como "chanceler da reunificação". T ambém é lembrado pelo seu empenho na construção da União Europeia.
Foto: imago/imagebroker
Gerhard Schröder (SPD), 1998-2005
Depois de quatro mandatos de Kohl, o desejo de mudança aumentou. Gerhard Schröder foi eleito primeiro chanceler de uma coligação de esquerda entre o SPD e os Verdes. Durante o seu Governo, o exército alemão, Bundeswehr, teve as primeiras missões no estrangeiro com a participação na guerra no Afeganistão. Reduziu os subsídios sociais, medida que foi criticada dentro do seu partido social-democrata.
Foto: picture-alliance/dpa
Angela Merkel (CDU), desde 2005
Em 2005, Merkel é eleita como primeira mulher na chefia do Governo alemão. Durante o primeiro e terceiro mandato, governou numa grande coligação com o SPD, no segundo mandato numa coligação de centro-direita com os liberais do FDP. Merkel é conhecida pelo estilo pragmático de liderança. Durante a crise financeira, assumiu um papel de liderança na UE. Em 2017, conseguiu o seu quarto mandato.