Annegret Kramp-Karrenbauer: A "mini Merkel" da CDU
AFP | Lusa | ni
7 de dezembro de 2018
Annegret Kramp-Karrenbauer é a nova líder da CDU, o partido que integra o Governo de coligação na Alemanha. A formação muda de liderança depois de 18 anos. Angela Merkel continua só como chanceler do país até 2021.
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Foi com as seguintes palavras que a nova mulher forte da União Democrata Cristã (CDU), o partido que integra o Governo de coligação na Alemanha, se dirigiu aos seus correlegionários depois do anúncio da vitória: "Caro Presidente, cara Angela Merkel, caro Friedrich Merz, caro Jens Spahn, caros delegados e convidados, eu aceito a eleição e agradeço pela confiança e pelo cargo, especialmente ao Jens Spahn e Friedrich Merz pela justa corrida em que participamos."
Annegret Kramp-Karrenbauer, de 56 anos de idade, obteve 517 dos votos, contra 482 de Friedrich Merz. A eleição foi renhida, o que obrigou a realização de uma segunda volta. Dos 1001 membros da CDU, 999 votaram durante o congresso que decorreu nesta sexta-feira (07.12.) em Hamburgo, norte do país..
Quem é Kramp-Karrenbauer?
A vencedora é também a secretária-geral da CDU. Teve o apoio de Angela Merkel, embora não declarado, e por isso apelidada de "Mini-Merkel". Ela é apoiada pela ala liberal do partido e com a sua vitória espera-se que Angela Merkel permaneça como chanceler da Alemanha até 2021. Advinha-se então uma espécie de continuidade do projeto político de Angela Merkel.
No discurso de empossamento fez referência a sua alcunha: "Li sobre o dizem de mim, as pessoas consideram-me uma "mini", uma cópia, uma simples "mais do mesmo", mas digo-vos que aqui estou aqui como uma pessoa própria, como a vida moldou-me e com muito orgulho."
Candidato derrotado pede apoio para a vencedora
E o candidato que ficou em segundo lugar, Friedrich Merz, no seu discurso pediu apoio para a vencedora: "Parabenizo-te e desejo-te sucessos. E agradeço-vos muito, senhoras e senhores, especialmente aos que votaram em mim e que me ajudaram nas últimas seis semanas. E quero pedir-vos que dêm toda a força e que apoiem a nova líder do partido, Annegret Kramp-Karrenbauer"
Friedrich Merz é advogado e empresário, a quem muitos chamam "Anti-Merkel". Foi afastado pela ex-líder, em 2002, do cargo de líder parlamentar dos democratas cristãos. Tem o apoio de Wolfgang Schäuble, presidente do Parlamento, e pela ala conservadora do partido.
Annegret Kramp-Karrenbauer, Friedrich Merz e Jens Spahn, o atual ministro da Saúde, eram os principais candidatos à corrida para a liderança da CDU. Mas os favoritos eram Kramp-Karrenbauer e Merz.
O último discurso de Merkel E na hora da despedida, enquanto líder da CDU, Angela Merkel fez alguns apelos, um deles especial no contexto do crescimento da extrema direita no país:"Desejo que nestes momentos difíceis, mesmo que as nossas tarefas sejam complexas e os desafios sejam fortes, não nos esqueçamos dos nossos valores democrata-cristãos."
Emocionada, a ex-líder da CDU disse: "é altura de abrir um novo capítulo, em meio a sentimentos que me dominam, gostaria especialmente de vos agradecer. Foi uma grande alegria e honra para mim."
De lembrar que Angela Merkel surpreendeu o país e o seu partido ao anunciar em finais de outubro que não iria recandidatar-se à liderança da CDU. A queda de popularidade de Merkel nos últimos anos por causa da sua política liberal de refugiados levou-a tomar essa decisão.
Chefes de Governo da Alemanha: de Adenauer a Merkel
Desde 1949, a Alemanha teve oito chanceleres: sete homens e uma mulher. A chanceler atual, Angela Merkel, conseguiu um quarto mandato nas eleições legislativas de setembro de 2017.
Foto: picture-alliance-dpa/O. Dietze
Konrad Adenauer (CDU), 1949-1963
A eleição de Konrad Adenauer do partido democrata-cristão CDU como primeiro chefe de Governo da Alemanha, em 15 de setembro de 1949, marcou o início de um longo processo de reestruturação política no país. Reeleito em 1953, 1957 e 1961, renunciou ao cargo apenas aos 87 anos de idade, em 1963. Fortaleceu a aliança com os Estados Unidos da América. Na foto: no seu escritório em Bona.
Foto: picture-alliance/akg-images
Ludwig Erhard (CDU), 1963-1966
O segundo chanceler da Alemanha também pertenceu à CDU, mas esteve apenas três anos no Governo. Erhard renunciou devido ao rompimento da coligação com o partido liberal FDP. Mesmo assim, participou de forma ativa da reforma monetária alemã do pós-guerra. O fumador convicto ficou famoso como "pai" da economia social de mercado ("Soziale Marktwirtschaft") e do milagre económico alemão.
Foto: picture-alliance/dpa
Kurt Georg Kiesinger (CDU), 1966-1969
Foi eleito por uma grande coligação dos dois partidos CDU e SPD (de esquerda). O seu Governo teve que combater uma crise económica. Kiesinger foi duramente criticado pelo seu passado como membro ativo do partido nacional-socialista NSDAP durante a ditadura fascista na Alemanha. Com a ausência de uma oposição forte no Parlamento, formou-se em 1968 um movimento de protesto estudantil na Alemanha.
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Willy Brandt (SPD), 1969-1974
A onda de protestos teve reflexos nas eleições: Willy Brandt tornou-se no primeiro chanceler social-democrata no pós-guerra. Melhorou as relações com os países comunistas do leste. Durante uma visita à Polónia, ajoelhou-se no monumento pelas vítimas do nazismo no Gueto de Varsóvia. Gesto que ficou famoso como pedido de desculpas. Renunciou ao cargo em consequência de um caso de espionagem.
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Helmut Schmidt (SPD), 1974-1982
Após a renúncia de Brandt, Helmut Schmidt prestou juramento como chanceler. O social-democrata teve de combater o terrorismo do grupo extremista de esquerda RAF. Negou negociar com os terroristas alemães. Enfrentou a oposição por causa do estacionamento de mísseis nucleares dos EUA na Alemanha. Depois da saída do Governo do parceiro FDP (liberais), perdeu um voto de confiança no Parlamento.
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Helmut Kohl (CDU), 1982-1998
Helmut Kohl formou uma nova coligação centro-direita com os liberais. Ficou 16 anos no poder, um recorde. Ficou famoso pela sua teimosia e por não gostar de reformas. Depois da queda do Muro de Berlim, Kohl consegui reunificar as duas Alemanhas, a RFA ocidental e a RDA oriental. Ficou conhecido como "chanceler da reunificação". T ambém é lembrado pelo seu empenho na construção da União Europeia.
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Gerhard Schröder (SPD), 1998-2005
Depois de quatro mandatos de Kohl, o desejo de mudança aumentou. Gerhard Schröder foi eleito primeiro chanceler de uma coligação de esquerda entre o SPD e os Verdes. Durante o seu Governo, o exército alemão, Bundeswehr, teve as primeiras missões no estrangeiro com a participação na guerra no Afeganistão. Reduziu os subsídios sociais, medida que foi criticada dentro do seu partido social-democrata.
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Angela Merkel (CDU), desde 2005
Em 2005, Merkel é eleita como primeira mulher na chefia do Governo alemão. Durante o primeiro e terceiro mandato, governou numa grande coligação com o SPD, no segundo mandato numa coligação de centro-direita com os liberais do FDP. Merkel é conhecida pelo estilo pragmático de liderança. Durante a crise financeira, assumiu um papel de liderança na UE. Em 2017, conseguiu o seu quarto mandato.