O chefe da diplomacia alemã, Sigmar Gabriel, terminou um périplo por África com uma visita a Juba, na quinta-feira. A Alemanha pretende relançar as negociações de paz para travar a crise humanitária no Sudão do Sul.
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Em declarações aos jornalistas, depois de se ter reunido com funcionários da missão da ONU no país e com o Presidente sul-sudanês, Salva Kiir, o chefe alemão deixou uma mensagem clara: "O Governo tem a co-responsabilidade de fazer avançar o processo de paz e de respeitar os acordos de reconciliação. Esta situação não é apenas da responsabilidade dos rebeldes, mas também das autoridades".
As relações entre Berlim e Juba são boas desde a criação do Sudão do Sul, sobretudo porque a Alemanha presidia ao Conselho de Segurança quando a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu a independência do país africano, em julho de 2011.
Alemanha apela à paz no Sudão do Sul
No entanto, a rivalidade entre o Presidente Salva Kiir e o ex-vice-presidente Riek Machar conduziram este jovem estado a uma guerra aberta em dezembro de 2013.
A trégua declarada em 2015 nunca foi implementada na maioria das regiões. Há poucos dias, as forças governamentais tomaram a sede dos rebeldes em resposta a um ataque. "Os rebeldes atacaram posições militares e o Governo retorquiu", justificou o ministro dos Negócios Estrangeiros sul-sudanês, Deng Kuol.
Crise humanitária
A violência provocou quase quatro milhões de deslocados e mais de 10 mil mortos. Todos os dias, organizações não-governamentais (ONG) que trabalham no terreno denunciam casos de tortura, saque, detenções arbitrárias, execuções e violência sexual.
A assistência humanitária prestada pela comunidade internacional cobre apenas metade das necessidades da população. "Dão-nos comida, mas falta-nos água e também sofremos pela falta de ensino e de cuidados médicos", conta Susan Keji, uma refugiada sul-sudanesa que vive num campo de deslocados no Uganda.
A Alemanha é o quarto maior doador internacional do Sudão do Sul, ao qual presta assistência humanitária, avaliada em 83 milhões de euros. Mas tal como outros países participantes na missão da ONU no país (UNMISS), a Alemanha também foi fortemente criticada por ter retirado, há um ano, vários oficiais do Sudão do Sul durante um surto de violência.
Berlim justificou-se com uma "suspensão temporária" por razões de segurança, mas os oficiais nunca voltaram. Atualmente já só há 16 soldados alemães estacionados em Juba. A missão da ONU no país conta com 12 mil homens.
Sudão do Sul: Crianças da zona de guerra
No Sudão do Sul, deslocados internos são acolhidos nos campos de proteção das Nações Unidas. Muitos são crianças sem os pais. A Nonviolent Peaceforce (NP), uma organização não-governamental, tem ajudado essas crianças.
Foto: DW / F. Abreu
Entre os deslocados, pais desaparecidos
Mais de 30.000 pessoas vivem nos campos de acolhimento das Nações Unidas em Juba, capital do Sudão do Sul. Cerca de 7.000 são crianças que perderam contacto com os pais. Agora, a ONG Nonviolent Peaceforce está tentando reunir as famílias.
Foto: DW / F. Abreu
Encontrando as famílias
O primeiro passo é definir a identidade da criança. Em seguida, recolhe-se o máximo de informações possíveis que possam ajudar a localizar os pais. Os dados ficam então disponíveis na internet e podem ser acessados por todas as organizações que trabalham pela protecção das crianças no Sudão do Sul. Se uma família não pôde ser localizada, as crianças são encaminhadas para adoção.
Foto: DW / F. Abreu
Forças de Paz femininas
No Sudão do Sul, a Nonviolent Peaceforce protege mulheres e crianças. Esses grupos raramente participam dos conflitos armados, mas são muito afetados. Por isso, a organização está a criar equipas femininas de luta pela paz. Essas mulheres são especialmente treinadas para combater a violência sexual e de gênero nas comunidades.
Foto: DW / F. Abreu
Mulheres pela Paz
Além de treinamento, as equipas de Mulheres pela Paz recebem acompanhamento constante. Elas ajudam outras mulheres vulneráveis nas comunidades contra a violência sexual, de gênero e também a identificarem os riscos. Em contacto com as autoridades, contribuem para que os culpados sejam levados à justiça.
Foto: DW / F. Abreu
Ulang, no Estado do Alto Nilo
A guerra civil começou como uma disputa política. Entretanto, reacendeu o conflito entre as etnias Dinka, do Presidente Salva Kiir; e Nuer, liderada pelo rebelde Riek Machar. Ulang, região localizada no Estado do Alto Nilo, é dominada pelos Nuer. Em maio de 2015, foi alvo das tropas do Governo. O resultado? Dezenas de pessoas mortas. A única área de paz tornou-se palco de mais um conflito.
Foto: DW / F. Abreu
Proteção para as crianças de Ulang
Em Ulang, a Nonviolent Peaceforce desenvolve um projeto de proteção para as crianças. Esse é um dos seis projetos dessa organização não-governamental no Sudão do Sul. Tais projetos variam de acordo com as necessidades locais. Em Ulang, por exemplo, voluntários da comunidade garantem o lazer e o esporte às crianças.
Foto: DW / F. Abreu
Futebol num antigo campo de batalha
Na escola primária Kopuot, em Ulang, as crianças que participam do projeto agora podem jogar futebol. O prédio ao fundo ainda tem as marcas de balas nas paredes. Uma triste lembrança de que, durante a ofensiva de maio, essa escola foi alvo das tropas do Governo.
Foto: DW / F. Abreu
De volta à escola
Em maio, durante a ofensiva do Governo, todos os materiais escolares e muitos outros materiais foram destruídos. Agora, em salas de aula improvisadas, luta-se para que as crianças da comunidade tenham acesso à educação. Autoria: Fellipe Abreu