Alemanha apoia construção de estradas no interior de Angola
Adolfo Guerra (Menongue)
22 de abril de 2021
A falta de estradas asfaltadas no Cuando Cubango é apontada pelos angolanos como um entrave ao desenvolvimento do interior da província. A Alemanha vai apoiar a construção de algumas ligações rodoviárias.
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Uma viagem de Menongue até Cuangar, de cerca de 400 quilómetros, demora quase três dias. Mas fazer o trajeto entre o Cuando Cubango e Luanda, a capital angolana, que fica a 1.000 quilómetros, demora menos de um dia.
Com uma extensão de mais de 4.000 quilómetros, a província do Cuando Cubango tem apenas 10% das estradas asfaltadas. Chegar a alguns dos nove municípios que compõem a província é tarefa árdua.
"O povo passa muito mal. Todos os trabalhadores para virem até Menongue têm de passar muito tempo de viagem, porque não têm estradas. Os únicos carros que lá vão são carros militares para levarem mercadorias às administrações ou aos comandos da polícia e das Forças Armadas Angolanas", diz Freitas Manuel, professor de profissão, referindo-se às localidades mais rurais da província.
Preço dos produtos é mais alto
As dificuldades de comunicação rodoviária tornam o acesso a bens essenciais ainda mais difícil. "Em função da escassez dos meios de transportes para aquelas localidades, o preço da cesta básica é galopante. É um desgaste que o povo está a passar e o Governo não devia cruzar os braços", adverte o professor.
"Tinha de se criar condições para haver ligações entre estradas para que os produtos, nacionais e não só, pudessem chegar a todos", acrescenta.
Manuel, um morador da comuna do Jamba Cuio, a 130 quilómetros de Menongue, também clama por estradas em condições: “Nós queremos asfaltos", frisou.
Gabriel Tomás Dala, o soba da localidade do Jamba Missesse, a 40 quilómetros da aldeia do Dumbo, queixa-se de várias dificuldades decorrentes das fracas ligações rodoviárias.
"Não temos estradas, não temos pontes. Mesmo que apanhe um carro, se disser para ir para a Jamba Missesse, lá não vamos chegar, a não ser de jipe", comenta.
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Dificuldade em obter cuidados médicos
As fracas ligações terrestres dificultam até mesmo a obtenção de cuidados médicos.
"Já faleceram oito cidadãos com malária, no caminho para o Dumbo, por causa da distância", relata o soba.
Samuel Messene, secretário provincial do Partido de Renovação Social (PRS), diz que o problema das estradas é do conhecimento do Executivo do MPLA, o partido no poder, mas falta vontade política para garantir o acesso das populações ao desenvolvimento.
"Se não houver vias de acesso não se fala de desenvolvimento à população. Não se consegue sair de alguns municípios para vir até ao município sede Menongue. É falta de vontade", critica.
Obras com apoio alemão
O governador da província, Júlio Marcelino Viera Bessa, anunciou esta quarta-feira (21.04) o início da execução de obras para ligar os munícipios de Menongue e Dirico ainda este ano. O financiamento da infraestrutura avaliado em 840 milhões de euros tem o apoio do Governo alemão.
"Já está aprovado o financiamento para a execução da obra entre Caiundo (comuna do município de Menongue) e Cuangar e do Cuangar a Dirico. É um financiamento alemão que foi acertado quando esteve cá a chanceler Angela Merkel com o Presidente da República [João Lourenço] e esperamos que as obras tenham início ainda este ano", resumiu.
A chanceler alemã, Angela Merkel, visitou Angola em fevereiro de 2020 e foi recebida pelo chefe de Estado angolano, com quem assinou acordos em vários domínios.
Moradores de Luanda convivem com lixo e mau cheiro nas ruas
A época das chuvas começou e a água espalha os resíduos acumulados nas ruas para todos os cantos da capital angolana. O lixo a céu aberto aumenta o risco de paludismo, a principal causa de morte em Angola.
Foto: Manuel Luamba/DW
Cidadãos deitam lixo fora logo pela manhã
Logo pela manhã, cidadãos deitam resíduos sólidos em contentores. A expectativa desses moradores é de que as operadoras de recolha do lixo façam o seu serviço durante o dia ou à noite. O que acontece, entretanto, é que o dia seguinte chega e o lixo permanece intato nos contentores ou no chão. Fala-se em dívidas de milhões de kwanzas que o Governo Provincial de Luanda teria com as empresas.
Foto: Manuel Luamba/DW
Lixo transborda nos contentores
Os poucos contentores existentes nas ruas de Luanda - quer sejam na periferia, quer sejam na cidade - estão totalmente abarrotados de lixo. Por falta de espaço, os resíduos sólidos caem no chão.
Foto: Manuel Luamba/DW
Aproveitam-se das "montanhas de lixo"
Nem todas ruas de Luanda têm contentores para o depósito de lixo. Muitos cidadãos colocam-no no chão. Algumas pessoas aproveitam-se da existência do lixo como uma espécie de esconderijo para fazer as suas necessidades. É muito comum flagrar alguns citadinos a urinar atrás das "montanhas de lixo".
Foto: Manuel Luamba/DW
Zonas privilegiadas
Há zonas onde existe uma recolha tímida de lixo. Consequentemente, os contentores destas áreas encontram-se vazios. A DW África constatou isso no Bairro Popular, junto ao famoso Hospital da Fé. Aparentemente as autoridades precisam investir mais para ampliar significativamente a recolha a fim de beneficiar toda a capital, não somente algumas poucas zonas.
Foto: Manuel Luamba/DW
Um risco para a saúde pública
O lixo visto por todos os cantos poderá se transformar num problema de saúde pública. As chuvas já começaram a cair e algumas doenças já estão cada vez mais presentes. O paludismo, por exemplo, é a maior causa de morte em Angola e o número de casos desta doença poderá aumentar em consequência do lixo nas ruas. A chuva gera pequenos charcos de água em locais onde há lixo.
Foto: Manuel Luamba/DW
Um atentado ao meio ambiente
A inexistência ou escassez de recolha de lixo tem levado os cidadãos a uma velha prática: a queima do lixo. Ao incinerar os resíduos, o fumo acaba por se tornar nocivo à saúde e faz com que o ambiente à volta seja insuportável para alguns transeuntes. Apesar de não ser em grande quantidade, a queima de lixo não deixa de ser um atentado ao meio ambiente.
Foto: Manuel Luamba/DW
Até nas valas de drenagem
O lixo em Luanda não escolhe o local. Até nas poucas valas de drenagem que a capital angolana tem há resíduos sólidos. A vala do Kariango - que sai do município do Cazenga em direção à cidade - é um exemplo disso. O lixo acaba por obstruir o escoamento da água, o que pode provocar inundações nas ruas.
Foto: Manuel Luamba/DW
O "Senado da Câmara"
O "Senado da Câmara" é umas das maiores valas de drenagem à céu aberto de Luanda. O curso de água também é extremamente afetado pelos resíduos sólidos, que impedem o fluxo normal de água. A acumulação de poluentes neste local acaba por intoxicar o ambiente e colocar em causa a saúde pública.
Foto: Manuel Luamba/DW
Meio de sobrevivência
Se para alguns os amontoados de lixo constituem um risco para a saúde pública, para outros é um meio de sobrevivência. Idosos e jovens encontram no lixo comida, bidões e objetos para comercialização. É um sinal de que resíduos deitados nas ruas podem beneficiar as pessoas em projetos cuidadosos de reciclagem e de aproveitamento de comida. Mas aqui o lixo ainda não está relacionado à economia.