Em Moçambique, garimpeiros tomaram conta da atividade mineira, principalmente de ouro. Trabalhando por conta própria, arriscam a vida e a saúde. A Alemanha propõe a Moçambique uma forma de minimizar os riscos.
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As autoridades moçambicanas não controlam a atividade mineira do setor artesanal. Muitos garimpeiros das regiões onde é feita a prospeção de ouro, nomeadamente em Manica e Tete, no centro, e em Niassa e Cabo Delgado, no norte, morrem soterrados devido à falta de segurança.
Para resolver este problema, uma entidade do Estado alemão sugere que os recursos minerais sejam explorados juntamente com os garimpeiros. Max Winchenbach, diretor de projeto do Instituto Federal de Geociências e Recursos Naturais (BGR, na sigla em alemão), explica que o país pode ter maiores rendimentos se transformar os garimpeiros em trabalhadores das empresas mineiras: "As populações vão ganhar com isso. Elas têm mais capacidades, mais conhecimentos sobre a área." O instituto alemão desenvolveu um projeto com o Ministério dos Recursos Minerais e Energia de Moçambique (MIREM), a qual apresentou um conjunto de ferramentas para a "viabilidade económica de recursos naturais."
Dar emprego aos garimpeiros
O Governo moçambicano, as empresas e os garimpeiros devem coordenar esforços para viabilizar a exploração dos recursos, defende Max Winchenbach, que salienta que o Governo moçambicano precisa ter maior presença reguladora. "O Estado moçambicano não tem muita influência sobre todas as áreas de mineração. "É uma situação que convém a muitas empresas que não informam devidamente o Governo sobre as suas atividades", diz o especialista.
É por isso que o BGR desenvolveu um projeto com o MIREM para criar modalidades para o trabalho com os garimpeiros: "Neste momento trabalhamos com um agente do MIREM e as direções provinciais. Estes por sua vez trabalham diretamente com a população em Manica, Tete e Cabo Delgado. É uma atividade planificada entre nós e o Governo e já temos orçamento para esse sentido."
empresario alemao e garimepiros - MP3-Stereo
Atividades alternativas
O representante em Moçambique da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial Jaime Comiche concorda que é preciso transformar os garimpeiros em trabalhadores dignos. Comiche admite que o garimpo é a única fonte de subsistência de muitas pessoas, mas os riscos são imensos. Por isso os garimpeiros precisam de apoio: "Temos a parte da comunicação e educação e temos a parte da técnica de mitigar e reduzir o risco. Mas temos que olhar também para a parte de gradualmente retirar no bom sentido as pessoas desta atividade de garimpo, dando-lhes atividades alternativas que sejam mais dignificantes e que permitam melhorias das condições de vida."
O empresário moçambicano Mubarak Razak reconhece que o setor está a ser dominado por garimpeiros e, por isso, é preciso alterar este quadro: "Sabem que a indústria neste momento está moribunda. Mas contamos que com a descoberta de recursos naturais e com a implementação de políticas do setor industrial consigamos dar um input para alavancar o setor, que muito precisa porque é o que mais emprego dá depois da agricultura".
Os filhos perdidos de Chimanimani
Todos os dias há jovens a subir. São eles que alimentam os garimpeiros em Chimanimani, a reserva natural que separa Moçambique do Zimbabué. Quando descem, trazem pepitas de ouro nos bolsos.
Foto: DW/M.Barroso
O ouro de Chimanimani
Em 2006, conta-se, a produção diária em Chimanimani era de 5g por garimpeiro por dia. Hoje, queixam-se, não passa de 3g por garimpeiro por dia.
Foto: DW/M.Barroso
Preciosidades em notas sem valor
É em notas de milhões de dólares zimbabueanos que se transporta o ouro por aqui. Papel não é seguro, porque, quando molha, rasga. A nota é mais fiável: dobra-se uma e outra vez, dobra-se umas quantas vezes e prende-se com um fio de ráfia. E as notas do Zimbabué há muito que não valem os milhões que prometem na figura.
Foto: DW/M.Barroso
Matzundzo, o régulo
Toda a zona que se estende até ao mercado do ouro de Baco Ramambo se encontra sob a autoridade do régulo Matzundzo.
Foto: DW/M.Barroso
Ao almoço, uma pausa
Mateus tem 24 anos. Há três ganha a vida a carregar produtos em Chimanimani. Para conseguir chegar a Baco Ramambo, é preciso fumar, conta. Para ter "power".
Foto: DW/M.Barroso
Para lá dos montes
Por aqui, todos dizem que o caminho até ao mercado demora "duas horas de relógio". Na realidade, o percurso toma dias. Pausas são luxo raro.
Foto: DW/M.Barroso
Quem passa, leva ensopadas as calças
Em Chimanimani, os rios não têm pontes. Os rapazes seguem em frente, água dentro, sem grandes paragens, sem hesitações, vestidos, calçados, a mercadoria a balançar nas cabeças.
Foto: DW/M.Barroso
Neto, o negocianteNeto, o negociante
António Neto Coco com a sua balança de ouro. Desde que foi agredido por bandidos, tem regularmente três rapazes a vender produtos na zona do mercado de Baco Ramambo.
Foto: DW/M.Barroso
Vida sob camuflagem
Muitos em Chimanimani vêm do Zimbabué. Por 600 meticais, nem 14 euros, compram identidade moçambicana. Assim, se forem descobertos com ouro, evitam ser deportados para o país do lado, um país sem futuro.
Foto: DW/M.Barroso
Entre o fumo
Carregadores e garimpeiros moram em cavernas. Aqui cozinham, aqui se aquecem com lenha do mato e aqui dormem. A fuligem que sobe do lume pinta as paredes da rocha, crava-se nos pulmões, queima os olhos.
Foto: DW/M.Barroso
Natureza em erosão
Desde que os fiscais do parque sobem ao planalto para escurraçar os infratores da lei, os garimpeiros dispersam ao longo de vários rios. Assim, a vegetação ribeirinha é destruída, a erosão dos solos espalha-se e os sedimentos são transportados pela corrente, causando turvação das águas.
Foto: DW/M.Barroso
Baco Ramambo, o mercado
Em dias de chuva como hoje, cada um se refugia na sua caverna e o mercado de Baco Ramambo adquire um ar triste. Das negociatas que aqui se fazem em dias bons não há sinal.
Foto: DW/M.Barroso
A camarata do mercado...
Poucos são os que se aventuram a pernoitar na zona de Baco Ramambo com medo dos fiscais. Ainda assim, esta camarata serve de abrigo aos que por aqui ficam.
Foto: DW/M.Barroso
... e a cozinha
O rádio que traz música na caverna da cozinha de Baco Ramambo foi vendido num dia húmido como o de hoje. Em dias assim, só os carregadores faturam, já que poucos garimpeiros ousam entrar nos riachos – nestas condições impiedosas, a água provoca febres.
Foto: DW/M.Barroso
Chimanimani - um El Dorado
É aos americanos, aos sul-africanos e aos libaneses que carregadores e garimpeiros vendem o seu ouro. São eles que fazem as verdadeiras fortunas vindas de Baco Ramambo.