O Parlamento alemão aprovou esta quinta-feira (26.01) o aumento da presença militar no Mali, que passa a contar com cerca de mil soldados da Bundeswehr. Integram a missão da ONU, atualmente com mais de 12 mil militares.
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A MINUSMA, a missão das Nações Unidas responsável por garantir a paz no norte do Mali, onde grupos rebeldes e o Governo travam uma longa luta pelo controlo da região, é considerada uma das mais perigosas missões.
"Em termos de vítimas mortais, é a mais perigosa operação das Nações Unidas no mundo", confirma o especialista Paul Melly, do instituto britânico de relações internacionais Chatham House, em Londres.
Na semana passada, mais de 70 pessoas morreram num ataque a um acampamento de forças de segurança locais e antigos rebeldes na cidade de Gao. As forças de manutenção da paz na região têm sido também um alvo dos extremistas.
Operação necessária
A missão da ONU, integrada por mais de 12 mil soldados, sobretudo de África, vai passar a contar com cerca de mil soldados da Bundeswehr- até agora, o limite era de 650 soldados. Os países europeus - França, Holanda e Alemanha - forneceram grande parte do material, como drones e helicópteros.
Para além do aumento do número de soldados, o Parlamento alemão aprovou também o envio de oito helicópteros adicionais para o Mali - metade de salvamento e outra metade de combate. O primeiro é enviado para o país já esta sexta-feira (27.01).
Antes da votação no Parlamento, membros da coligação do Governo alemão CDU/CSU - a União Cristã-Democrata da chanceler Angela Merkel (CDU) e a União Cristã-Social (CSU), o partido-irmão bávaro - e o Partido Social Democrata (SPD) sublinharam o perigo da intervenção no Mali.
Ainda assim, o deputado Henning Otte, da CDU, admitiu que esta é uma operação necessária. Segundo o parlamentar, o colapso do Mali significaria "reacções em cadeia" com "consequências imprevisíveis" para a Europa.
"Por isso, temos de garantir a estabilidade do país, para impedir movimentos migratórios, para combater o terrorismo. E o exército alemão é uma componente essencial", sublinhou.
Missão impossível?
O Mali está em crise desde 2012. Depois da revolta dos tuaregues, rebeldes e extremistas islâmicos passaram a controlar várias zonas do país. As tropas francesas travaram o avanço para a capital, Bamako.
Em 2015, Governo e grupos rebeldes assinaram um acordo de paz. As tropas da ONU tentam assegurar a trégua no terreno, mas a região ainda é palco de violência.
27.01 (edit) Actualidade: aumento da presença militar alemã no Mali - MP3-Stereo
Dos partidos de esquerda chegaram argumentos contra o alargamento da missão alemã no Mali. Niema Movassat, deputado do partido Die Linke, defendeu o combate às causas sociais do terrorismo em vez do envio de mais soldados para todo o mundo, lembrando o caso do Afeganistão.
"As semelhanças com a operação falhada no Afeganistão são assustadoras", salientou. "De acordo com a Comissão de Defesa, a missão no Mali é tão perigosa como os tempos da campanha da NATO contra os talibã".
Já Agnieszka Brugger, dos Verdes, rejeita comparações com o Afeganistão: "Não podemos classificar como 'guerra' uma missão de paz das Nações Unidas, sob liderança civil, com elementos civis, cuja missão é monitorizar a implementação de um acordo de paz e acompanhar o processo de reconciliação".
A participação alemã na missão no Mali promete continuar a dar que falar. Mesmo no seio do exército alemão, a questão é controversa: a última edição da revista da associação dos membros do exército na reserva pergunta mesmo se esta é uma "missão impossível".
Eleições no Mali de 2013: Um novo começo?
Gao, nas margens do rio Níger, é a cidade comercial mais importante do norte do Mali. As mercadorias são transportadas pelo rio em grandes canoas. Gao também abastece a cidade de Kidal. A normalidade regressa lentamente.
Foto: Katrin Gänsler
Gao anseia por normalidade
Gao, nas margens do rio Níger, é a cidade comercial mais importante do norte do Mali. As mercadorias são transportadas pelo rio em grandes canoas. Gao também abastece a cidade de Kidal.
Foto: Katrin Gänsler
De centro de comércio a teatro de guerra
Com a chegada do Movimento Nacional de Libertação de Azawad (MNLA), em março de 2012, a vida agitada da cidade mudou drasticamente. “Eles destruíram tudo”, queixa-se Mamai, que trabalha como vigilante na escola católica de Gao, da qual só resta o edifício. Por que é que fizeram isso? Mamai encolhe os ombros: “Só queriam causar estragos. Não encontro outro motivo.”
Foto: Katrin Gänsler
Confrontos em Gao deixam marcas
Rapidamente o MNLA teve de devolver o poder. Em abril de 2012, houve batalhas com o Movimento para a Unidade e a Jihad na África Ocidental (MUJAO). O movimento derrotou os rebeldes tuaregues e estabeleceu a sua sede numa esquadra da polícia em Gao. Testemunhas dos renhidos confrontos são os buracos aí deixados pelas balas.
Foto: Katrin Gänsler
Edifício da polícia é tabu
Quem quebrou as regras da Sharia, ficou detido no edifício da polícia. Foi aqui que os islamitas mantiveram as mulheres. As mulheres mais bonitas foram levadas para o primeiro andar, onde se encontrava o comando da MUJAO. Seis meses após a libertação da cidade, ainda é tabu entrar no antigo edifício da polícia.
Foto: Katrin Gänsler
Não há números oficiais de vítimas
Também Faty Walett Mohamed tem saudades do marido. A mãe de seis filhos não sabe onde ele está. Luta todos os dias para, de alguma forma, voltar a reunir a família. Fugir está fora de questão. “Noutros lugares, a situação não é melhor”. Até agora não foram divulgados os números oficiais de vítimas.
Foto: Katrin Gänsler
Mulheres ficavam em casa
Foram as mulheres quem mais sofreu. Tiveram de se cobrir completamente e mal podiam sair de casa. Além disso, muitas delas trabalhavam no mercado ou vendiam frutas e legumes à beira da estrada.
Foto: Katrin Gänsler
Túmulo de Askia
O MUJAO não atacou o Túmulo de Askia, Património Mundial da UNESCO. Com a chegada do MUJAO, era grande o receio de que fosse destruído. “Os jihadistas diziam: em Gao, os muçulmanos não vão enaltecer edifícios como em Timbuktu. Por isso, deixem-nos em paz”, relatou um dos guardas do túmulo.
Foto: Katrin Gänsler
Uma rádio contra a ocupação
O MUJAO ofereceu muitas vezes dinheiro ao jornalista Malick Aliou Maïga para este trabalhar para o movimento. Ele recusou-se e preferiu lutar aos microfones da “Rádio Aadar Koïma Aadar” por uma Gao livre - contra as agressões do MUJAO. Como sinal de gratidão para com os franceses, que ocuparam Gao no final de janeiro de 2013, o estúdio chama-se hoje “Operação Serval”.
Foto: Katrin Gänsler
Capacetes azuis da ONU ocupam-se da segurança
Os franceses ainda estão presentes na cidade, sobretudo em redor do aeroporto. Os soldados da MINUSMA, a força de manutenção de paz, também se ocupam da segurança. Um grupo de 12 mil soldados começou a trabalhar no Mali no início de julho de 2013. Gao é um dos principais locais da missão.
Foto: Katrin Gänsler
Falta de infra-estruturas
Mas mesmo que a situação de segurança tenha voltado a ser classificada como melhor, ainda falta algo para se poder voltar à normalidade da vida quotidiana. Em Gao, ainda nenhum banco voltou a abrir. E as atividades económicas continuam difíceis.
Foto: Katrin Gänsler
Eleições porão fim à crise?
Por isso, muitas pessoas depositam grandes esperanças nas eleições presidenciais de 28 de julho (primeira volta) e de 11 de agosto (segunda volta). Um chefe de Estado eleito democraticamente significa, eventualmente, o fim do governo de transição e uma maior capacidade de acção para o país. A normalidade do dia-a-dia poderia, então, regressar a Gao.
Foto: Katrin Gänsler
Um país indivisível
Algo particularmente importante é que, apesar dos recentes distúrbios causados pelos rebeldes do MNLA na cidade vizinha de Kidal, muitas pessoas em Gao desejam um Mali unido e pacífico.