As eleições regionais na Baviera ameaçam terminar com o domínio de seis décadas da União Social Cristã (CSU). Este partido é parceiro da CDU da chanceler Angela Merkel no Governo federal.
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A iminência de um revés no quadro político no estado da Baviera, no sul da Alemanha, deve-se aos mesmos do costume: a extrema-direita.
"É a AfD [Alternativa para a Alemanha] que preenche as lacunas dos outros partidos políticos em relação à política migratória, ainda que isso não aconteça tanto na Baviera como noutros estados", comenta Ursula Münch, diretora da Academia de Educação Política, sediada no estado federado alemão.
O partido populista, que critica ferozmente a política migratória seguida pela chanceler Angela Merkel, não tem cabeça de lista para as eleições Baviera, mas "está na corrida, com a questão dos refugiados em cima da mesa, e está a roubar eleitores" não só da União Social Cristã (CSU), como também do Partido Social Democrata (SPD).
Nas últimas seis décadas, a CSU tem governado quase sempre sozinha na Baviera. Além disso, o partido é um dos parceiros de coligação do Executivo de Merkel, em Berlim. No entanto, perdeu votos nas últimas eleições legislativas na Alemanha, em setembro do ano passado, enquanto a AfD conseguiu um resultado histórico (12,6%), entrando pela primeira vez para o Parlamento federal alemão, o Bundestag.
Ameaças da esquerda e da direita
Segundo as últimas sondagens, a AfD deverá conquistar cerca de 14% dos votos nas eleições de domingo, na Baviera. Já a CSU não deverá ir além dos 36%, o que coloca esta formação longe dos 47,7% do último pleito em 2013. A ascensão da direita é acompanhada também por uma subida das intenções de voto à esquerda. Os Verdes reúnem 15% da simpatia do eleitorado, de acordo com as últimas estatísticas. O partido ecologista estabeleceu um objetivo claro: acabar com a maioria absoluta da CSU e assumir as rédeas da governação na Baviera.
A CSU tem, no entanto, um trunfo que tem sabido usar na campanha: a Baviera é o estado federado alemão com a menor taxa de desemprego: 2,9%.
Ainda assim, internamente a situação na CSU não prima pela concórdia. A relação entre o ministro do Interior alemão, Horst Seehofer, e o atual líder estadual da Baviera, Markus Söder, já teve melhores dias. Söder acusa Seehofer de estar à deriva e sob a alçada das políticas de Merkel. Por outro lado, Seehofer foi responsável pela pior crise no Governo federal dos últimos tempos: o ministro do Interior da CSU ameaçou fechar os aeroportos se a chanceler não alterasse a sua política migratória.
Alemanha: Coligação de Merkel vai a exame no domingo
Nas últimas ações de campanha, Markus Söder criticou a AfD e pediu um voto de confiança por parte do eleitorado: "se quiserem que a Baviera continue forte, então é fácil… Não caiam em especulações sobre coligações. Votem no partido que vos liberta de qualquer necessidade de coligação", afirmou.
Testes a Merkel
No domingo, Angela Merkel estará certamente a acompanhar o desempenho do partido-irmão. As eleições poderão afetar a estabilidade do Governo federal. Em Berlim fala-se inclusive na possibilidade do afastamento do ministro do Interior, Horst Seehofer. A concretizar-se, seria a primeira baixa no Executivo de Merkel. O atual ministro do Interior da Baviera, Joachim Hermann, é apontado como possível substituto.
Daqui a duas semanas, o Governo de Merkel enfrentará um novo teste, com as eleições para o parlamento do estado federado de Hesse. O partido de Merkel, a União Democrata Cristã (CDU) governa atualmente o estado, em coligação com os Verdes. Porém, se a CDU for afastada da governação, a chanceler poderá enfrentar tempos difíceis.
Os rostos da AfD: Conheça os novos parlamentares da Alemanha
Após as eleições de 2017, o partido de extrema-direita entrará no Parlamento pela primeira vez e ocupará 94 lugares. Mas quem são exatamente os representantes da Alternativa para a Alemanha (AfD) – e o que já disseram?
Foto: Reuters/F. Bensch
Siegbert Droese
O líder da AfD na cidade de Leipzig foi o centro de uma polémica em 2016. Os jornais noticiaram que a matrícula de um dos seus carros era "AH 1818". "AH" são as iniciais de Adolf Hitler. Os números 1 e 8 correspondem à primeira e oitava letra do alfabeto – consideradas um código para "Adolf Hitler" entre os grupos neonazis.
Foto: Imago/J. Jeske
Markus Frohnmaier
Frohnmaier é o chefe da organização da juventude do partido, a Junge Alternative (Alternativa Jovem). O jovem político, de 28 anos, escreveu em agosto de 2016 no Facebook que "nossa geração é a que mais sofrerá" com a decisão da chanceler Angela Merkel de "afundar este país com o proletariado de baixa qualidade de África e do Oriente".
Foto: picture-alliance/dpa/B. Weißbrod
Martin Reichardt
O antigo soldado da Baixa-Saxónia, estado do norte da Alemanha, uma vez disse a jornalistas que não tinha problemas com a frase "Alemanha para os alemães", geralmente utilizada por grupos neonazis. Reichardt também descreveu Os Verdes e o partido A Esquerda como "inimigos constitucionais número 1".
Foto: picture-alliance/dpa/M. Bein
Wilhelm von Gottberg
O político de 77 anos de Brandenburgo, estado do leste da Alemanha, foi vice-presidente da Federação dos Desterrados (BdV) até 2012. No jornal Ostpreussenblatt, ele escreveu, em 2001, que concordava com a afirmação de que o Holocausto era um "mito" e um "efetivo instrumento para incriminar os alemães e a sua história".
Foto: picture-alliance/dpa/T. Brakemeier
Jens Maier
Em janeiro, o juiz de Dresden, leste da Alemanha, protestou contra a "criação de nacionalidades mestiças" que "destroem a identidade nacional". Ele também apelou para o fim da "cultura de culpa" na Alemanha, fazendo referência às ações do país durante a Segunda Guerra Mundial.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Kahnert
Beatrix von Storch
A vice-presidente da AfD é deputada no Parlamento Europeu e é conhecida pela sua visão muito conservadora. Em 2016, ela respondeu afirmativamente a um usuário no Facebook que lhe perguntou se as Forças Armadas deveriam ser usadas para impedir que mulheres com filhos entrassem ilegalmente na Alemanha. Mais tarde, Beatrix von Storch pediu desculpa pelo comentário.
Foto: Reuters/W. Rattay
Alexander Gauland
O candidato de topo da AfD foi amplamente criticado depois de sugerir que a comissária do Governo alemão para a integração, Aydan Özoguz, deveria ser "descartada" na Turquia porque havia dito que não existia cultura específica na Alemanha além da língua alemã.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Murat
Alice Weidel
A economista de 38 anos foi outra candidata de topo da AfD. Apesar de viver na Suíça, Weidel concorreu pelo distrito do Lago de Constança em Baden- Württemberg. Ela foi criticada por descrever a comissária de integração da Alemanha, Aydan Özoguz, de origem turca, como "mancha" e "desgraça". Num suposto e-mail atribuído a Weidel, ela chamou o Governo de Angela Merkel de "porco" e "fantoche".
Foto: Getty Images/S. Schuermann
Frauke Petry
A co-presidente da AfD ganhou um assento parlamentar no estado da Saxónia, mas anunciou que não se unirá ao grupo parlamentar da AfD, embora continue no partido. Em janeiro de 2016, Petry disse que a polícia alemã deveria usar armas de fogo, se necessário, para recuperar o "controlo" da fronteira. Em março de 2017, foi criticada por relativizar o Holocausto, numa entrevista no Wall Street Journal.