1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
PolíticaAlemanha

Como o ataque em Magdeburg mobilizou a extrema-direita alemã

Hans Pfeifer
24 de dezembro de 2024

Aumentaram os ataques racistas contra migrantes após o atentado mortal no mercado de Natal de Magdeburg. Observadores alertam para a mobilização da extrema-direita alemã em torno do incidente.

Homens vestidos de preto e de punho erguido numa manifestação de extrema-direita em Magdeburg no dia 21 de dezembro
Manifestações de extrema-direita ocorreram em Magdeburg após o ataque a um mercado de Natal na cidadeFoto: Christian Mang/REUTERS

O motivo de Talib A., o alegado autor do ataque ao mercado de Natal em Magdeburg, continua por esclarecer. O que se sabe é que é cidadão saudita e está sob custódia. No entanto, pouco depois do ataque, a extrema-direita na Alemanha começou a antagonizar os migrantes.

"Eu nunca vivi um ambiente tão hostil e ameaçador", disse um estudante de engenharia automóvel em Magdeburg, a capital do estado da Saxónia-Anhalt.

A Salam, um centro de prevenção da violência na Saxónia-Anhalt, deu um relato semelhante. A associação observou um aumento significativo nos incidentes contra pessoas vistas como estrangeiras pelos extremistas de direita.

Segundo a Salam, "migrantes percebidos como tal são rotulados de 'terroristas', 'criminosos' e 'escumalha'; alguns são empurrados e cuspidos."

As ameaças chegaram ao ponto de as comunidades migrantes se avisarem mutuamente em grupos de WhatsApp e no Facebook para evitarem sair em público.

Que o autor do ataque em Magdeburg seja suspeito de ser islamofóbico e extremista de direita é um paradoxo, afirmou Hans Goldenbaum, especialista em radicalização na Salam, à emissora alemã MDR. "Isto demonstra o poder deste discurso extremista de direita e o quão isolado da realidade ele está."

Mobilização nacional de extremistas de direita

Desde o ataque ao mercado de Natal, partidos, associações e indivíduos da extrema-direita e neo-nazis têm-se mobilizado por toda a Alemanha, exigindo a deportação massiva de migrantes.

Centenas de neo-nazis reuniram-se num comício da extrema-direita em Magdeburg no domingo (22.12), dois dias após o ataque. A manifestação foi marcada por ataques a jornalistas.

Com cinco mortos e mais de 200 feridos, o ataque ao mercado de Natal chocou Magdeburgo e a AlemanhaFoto: Michael Probst/AP/picture alliance

Um dos oradores do comício foi Thorsten Heise, um militante neo-nazi com várias condenações anteriores. Num dos casos, tentou atropelar um refugiado com o carro. Vídeos do comício mostram Heise a incitar os manifestantes a infiltrarem-se em associações, corporações de bombeiros e autoridades.

Jornalistas e observadores relataram que os participantes do comício gritaram "Acorda, Alemanha", uma frase usada durante o regime nazi de Adolf Hitler, cujo uso é punível na Alemanha.

Segundo estimativas da polícia, cerca de 3.500 pessoas — incluindo líderes partidários e conhecidos extremistas— participaram numa manifestação promovida pelo partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD).

Enquanto a líder da AfD, Alice Weidel, discursava, a audiência gritava: "Expulsar, expulsar, expulsar." Após a manifestação, os participantes foram para as ruas, atacaram fotógrafos, gritaram slogans nacionalistas e testaram a resistência da polícia presente.

Politização do ataque já começou

David Begrich, especialista em extremismo de direita da associação Miteinander, em Magdeburg, prevê uma politização mais ampla do ataque ao mercado de Natal. O partido AfD organizou grandes manifestações em Magdeburg. Begrich criticou fortemente as manifestações, afirmando que o foco após o ataque deveria permanecer nas cinco vítimas mortais e nas outras 200 feridas.

"Estou a testemunhar grande perplexidade e choque em Magdeburg", disse à DW. "Este ataque feriu profundamente a cidade. Isso aplica-se também a mim pessoalmente: a minha esposa foi uma das pessoas feridas."

Begrich acredita que ninguém deveria politizar o ataque enquanto houver vítimas hospitalizadas: "O destino das vítimas deve ser o foco principal. A reavaliação vem depois. As comunidades não querem qualquer tipo de politização."

Apesar das notícias falsas, especulações e tentativas de politizar o ataque mortal nas redes sociais, Begrich vê a cidade como verdadeiramente afetada: "A cidade está a unir-se."

As consequências devastadoras do terrorismo racista

02:50

This browser does not support the video element.