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PolíticaAlemanha

Alemanha e China: Uma parceria agridoce

Matthias von Hein | DPA
20 de junho de 2023

O chanceler alemão, Olaf Scholz, recebeu hoje, em Berlim, o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, com honras militares, no início das consultas germano-chinesas. Um diálogo em tempos de rivalidade geopolítica.

Sétima ronda de consultas governamentais China-Alemanha arranca em Berlim
Sétima ronda de consultas governamentais China-Alemanha arranca em BerlimFoto: Thomas Koehler/photothek/imago images

No total, cerca de 20 ministros participam nas consultas entre os dois governos, desta vez sob o lema "Agir em conjunto de forma sustentável". O tema principal será a luta contra as alterações climáticas e a reestruturação da economia que lhe está associada, mas também é provável que as conversações incidam também sobre as relações comerciais e a guerra russa contra a Ucrânia, que a China está a tentar mediar.

As consultas intergovernamentais entre a Alemanha e a China costumavam ser uma expressão de relações particularmente estreitas. Atualmente, fala-se mais de rivalidade estratégica do que de parceria. Mas, pelo menos, fala-se.

No que diz respeito a pontos em comum, a distância entre Pequim e Berlim parece estar a aumentar. Isso ficou evidente no mais recente encontro entre o ministro alemão da Defesa, Boris Pistorius, e seu homólogo chinês, Li Shangfu, à margem de uma conferência de segurança em Singapura. Em cima da mesa esteve um programa de treino da força aérea chinesa, com a participação de ex-pilotos de caça alemães. Em termos muito claros, Pistorius exigiu "o fim imediato desta prática".

Este incidente é "uma indicação de que temos de estar muito atentos", considera Thorsten Benner, do Instituto Alemão de Políticas Públicas (GPPI), em Berlim. "Porque Pequim aproveita todas as oportunidades para ter acesso a tecnologias ou capacidades críticas, para reforçar a sua própria base industrial e militar", lembra.

Treino de pilotos chineses por ex-militares alemães: Boris Pistorius já pediu o fim imediato da práticaFoto: picture-alliance/dpa/B. Wüstneck

Potencial de conflito aumenta

Seja por causa da transferência de tecnologia da Alemanha para a China, a insistência de Pequim em manter a sua "amizade sólida" com Moscovo apesar da invasão russa da Ucrânia, o aumento das tensões no Estreito de Taiwan ou devido à repressão da China contra a minoria uigure, a possibilidade de desenvolvimento de um conflito está a crescer. E é intensificado pela rivalidade geopolítica da grande potência emergente com os Estados Unidos.

Ao mesmo tempo, a China continua a ser o parceiro comercial mais importante da Alemanha. Em 2022, o fluxo comercial chegou a quase 300 mil milhões de euros, com um enorme défice comercial do lado alemão de mais de 80 mil milhões de euros.

As relações entre os dois países não são apenas significativas, mas também complexas. A natureza contraditória das relações germano-chinesas está patente nos documentos oficiais que se referem  à China como um parceiro estratégico, concorrente e rival ao mesmo tempo.

Antes, Berlim sublinhava precisamente este aspeto da parceria. As consultas governamentais, que se realizam desde 2011, são um testemunho desse diálogo intergovernamental de alto nível, unicamente realizado com parceiros particularmente próximos. 

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Em 2014, as relações entre a Alemanha e a China foram até elevadas ao estatuto de "parceria estratégica abrangente". Mas, desde então, o tom mudou, tanto em Berlim como noutras capitais europeias. O peso das relações passou claramente para a rivalidade estratégica.

E isso também deverá ter impacto na sétima ronda de consultas governamentais, acredita Barbara Pongratz, do grupo de reflexão Merics, com sede em Berlim. "O governo alemão quer despedir-se do business as usual", diz a especialista em relações germano-chinesas, acrescentando que há sinais de que as consultas governamentais não culminarão com a assinatura de grandes contratos comerciais.

O novo estilo da política alemã para a China já estava perceptível no acordo da coligação de governo, celebrado entre sociais-democratas, Verdes e liberais. A China é mencionada 12 vezes no documento. "Para viabilizar nossos valores e interesses na rivalidade sistémica com a China, precisamos de uma estratégia abrangente para a China na Alemanha dentro da estrutura da política conjunta UE-China. Queremos prosseguir com as consultas intergovernamentais e torná-las mais europeias", refere o texto.

"Mas não existe de facto um debate real sobre a europeização das relações da Alemanha com a China, a estratégia para a China ou a consulta governamental", critica Barbara Pongratz. Além disso, a estratégia anunciada para a China nem sequer está ainda disponível - mas deverá basear-se na recém-lançada Estratégia de Segurança Nacional

O politólogo alemão Eberhard Sandschneider tem poucas expectativas de resultados concretos. Para o analista, o mais importante é que as consultas se realizem, depois de três anos sem reuniões presenciais em grande escala. "Concordo com os colegas chineses com quem falo: é urgente que se voltem a encontrar. E não apenas nas sessões oficiais da conferência, mas também nos famosos intervalos para café, para trocarem uma palavra uns com os outros. Isso muda a atmosfera", diz. E talvez torne possível uma "ação sustentável conjunta", pelo menos em alguns pontos.

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