Alemanha entrega à Namíbia artefactos roubados
31 de maio de 2022A Alemanha entregou à Namíbia, na segunda-feira (30.05), 23 objetos antigos roubados durante a colonização, na forma de empréstimo ao Museu Nacional de Windhoek. Segundo a presidente da Associação de Museus da Namíbia, Hilma Kautondokwa, os objetos foram levados para a Europa na segunda metade do século XIX.
"Todos os artefactos foram recolhidos durante a era colonial alemã em diferentes comunidades da Namíbia. Os 23 foram retirados, de acordo com os nossos registos, entre a década de 1860 e o início da década de 1890. A seleção foi baseada na raridade dos artefactos, entre outros critérios", afirmou Hilma Kautondokwa.
Finalidade e destino das peças
A coleção de 23 peças, que será estudada por investigadores locais e inclui um recipiente decorado com três cabeças, uma boneca com um vestido tradicional, joias e lanças.
Os objetos foram escolhidos por especialistas na Namíbia pelo seu significado histórico, cultural e estético e serão exibidos num museu.
"Este exercício académico pretende reescrever as narrativas em torno da coleção de artefactos a partir de um olhar namibiano e encontrar as verdadeiras origens, uso e significado dos artefactos, bem como foram recolhidos. Portanto, queremos que os artefactos interajam com o público namibiano e passaremos os próximos dois anos a ter consultas aprofundadas com as comunidades namibianas", disse Kautondokwa.
Devolução de mais peças
Centenas de antiguidades da Namíbia ainda estão em coleções alemãs. O Museu de Etnologia de Berlim debate há três anos o destino destas peças com a Namíbia, como parte do compromisso da Alemanha em melhorar as relações com a antiga colónia.
Goodman Gwasira, professor na UNAM – Universidade da Namíbia e um dos parceiros no projeto, é da opinião de que existe uma necessidade do país ter pessoas qualificadas e preparadas para uma melhor gestão de mais peças que deveram ser devolvidas nos próximos tempos.
"Precisamos de enfatizar isso, uma das razões para nos negarem a devolução dos objetos é que não estaríamos preparados, não teríamos as habilidades necessárias. Vemo-nos como uma instituição de formação que se pode preparar para futuros retornos e, nesse caso, precisamos de historiadores treinados, gestores de património, investigadores e até conservadores", defendeu o professor.
Reconciliação
Em 2021, Berlim admitiu oficialmente ter cometido genocídio na Namíbia. Os colonos alemães mataram dezenas de milhares de indígenas Herero e Nama entre 1904 e 1908. A Alemanha devolveu crânios e outros restos humanos usados em experiências "científicas", mas os dois países até agora não chegaram a um acordo sobre o pagamento de indemnizações.
Esta devolução parcial é agora uma aproximação entre os dois países.
"É o primeiro passo para recuperar a dignidade e também dar urgência e audácia para falar por nós mesmos como africanos", disse Goodman Gwasira.