A chanceler interina alemã, Angela Merkel, encontra-se esta quarta-feira com o líder social-democrata para debater a formação de um novo Executivo. Há três meses que na Alemanha funciona apenas um Governo de gestão.
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A chanceler alemã Angela Merkel começa o novo ano como terminou o último: à procura de aliados. As eleições federais foram há mais de três meses, mas Merkel tarda em formar um novo Executivo. Nunca se esperou tanto pela formação de um novo Governo, nas últimas décadas.
2018 será um ano decisivo. "Caros cidadãos: deram-nos a nós, políticos, a tarefa de gerir os desafios futuros e de ter em vista as necessidades de todos os cidadãos. Estou comprometida com esta missão, e também com a tarefa de conseguir no novo ano um governo estável para a Alemanha", garantiu a chanceler no tradicional discurso de Ano Novo.
SPD cauteloso
Nas legislativas de 24 de setembro, a União Democrata-Cristã (CDU), de Merkel, e a União Social-Cristã (CSU) conseguiram, em conjunto, apenas 32,9% dos votos, ficando longe de uma maioria no Parlamento. Após as eleições, Merkel tentou formar uma coligação com o Partido liberal (FDP) e os Verdes. Mas as negociações falharam e as atenções da CDU/CSU voltaram-se para o Partido Social Democrata (SPD).
A formação política de Martin Schulz está, no entanto, reticente. Os últimos quatro anos de coligação com o partido de Merkel feriram os sociais-democratas - o SPD sofreu uma derrota histórica nas últimas eleições, conquistando só 20,5% dos votos, e Schulz está cauteloso.
"Vamos sondar se é possível formar um novo Governo na Alemanha. Não há decisões prévias. Nada é automático. Não estamos pressionados pelo tempo. Temos um Governo de gestão, capaz de agir", afirmou o líder social-democrata no início de dezembro.
Alemanha espera e desespera por novo Governo
Reforma da Europa
As conversações entre a CDU/CSU e o SPD poderão arrastar-se até abril. E Schulz espera mudanças: "um novo Governo neste país tem de ser capaz de enfrentar os grandes desafios políticos. E, para lidar com eles, a nível nacional, europeu ou mundial, não basta que continuemos a agir como até aqui."
Reformar a União Europeia é um dos grandes objetivos de Martin Schulz. O líder social-democrata sonha com a formação de uns "Estados Unidos da Europa" até 2025. Pretende ainda introduzir um orçamento comum e um ministro das Finanças para a zona euro - duas metas partilhadas igualmente pelo Presidente francês, Emmanuel Macron.
Macron apresentou, em setembro, uma série de propostas para reformar a União Europeia. Espera agora pela formação do novo Governo na maior economia do bloco, a Alemanha. Angela Merkel prometeu que a Alemanha não ficará para trás.
"A Europa não funciona sem uma Alemanha forte e uma forte aliança franco-alemã. É por isso que Berlim tem a grande responsabilidade de formar um Governo estável", disse a chanceler.
Nem um Governo minoritário, nem novas eleições são opções para Angela Merkel.
"O mundo não espera por nós"
Mas os alemães parecem esperar e desesperar pelo novo Governo. Numa sondagem divulgada no final de dezembro, 47 por cento dos inquiridos preferiam que Merkel não completasse um quarto mandato; só 36 por cento gostariam de a ver como chanceler.
Tudo dependerá das conversações com os sociais-democratas. Esta quarta-feira (03.01), Merkel debate com Schulz a formação de um novo Governo, antes da primeira fase de negociações efetivas entre a CDU/CSU e o SPD, a partir de domingo, 7 de janeiro.
Para já, não se esperam resultados concretos. Mas Merkel fez um avisou na mensagem de Ano Novo: "O mundo não espera por nós. Temos de criar as condições para que a Alemanha continue a prosperar daqui a 10 ou 15 anos."
Só nas próximas semanas ou meses se poderá confirmar se a espera por um novo Governo terá o fim desejado pela chanceler alemã.
Os rostos da AfD: Conheça os novos parlamentares da Alemanha
Após as eleições de 2017, o partido de extrema-direita entrará no Parlamento pela primeira vez e ocupará 94 lugares. Mas quem são exatamente os representantes da Alternativa para a Alemanha (AfD) – e o que já disseram?
Foto: Reuters/F. Bensch
Siegbert Droese
O líder da AfD na cidade de Leipzig foi o centro de uma polémica em 2016. Os jornais noticiaram que a matrícula de um dos seus carros era "AH 1818". "AH" são as iniciais de Adolf Hitler. Os números 1 e 8 correspondem à primeira e oitava letra do alfabeto – consideradas um código para "Adolf Hitler" entre os grupos neonazis.
Foto: Imago/J. Jeske
Markus Frohnmaier
Frohnmaier é o chefe da organização da juventude do partido, a Junge Alternative (Alternativa Jovem). O jovem político, de 28 anos, escreveu em agosto de 2016 no Facebook que "nossa geração é a que mais sofrerá" com a decisão da chanceler Angela Merkel de "afundar este país com o proletariado de baixa qualidade de África e do Oriente".
Foto: picture-alliance/dpa/B. Weißbrod
Martin Reichardt
O antigo soldado da Baixa-Saxónia, estado do norte da Alemanha, uma vez disse a jornalistas que não tinha problemas com a frase "Alemanha para os alemães", geralmente utilizada por grupos neonazis. Reichardt também descreveu Os Verdes e o partido A Esquerda como "inimigos constitucionais número 1".
Foto: picture-alliance/dpa/M. Bein
Wilhelm von Gottberg
O político de 77 anos de Brandenburgo, estado do leste da Alemanha, foi vice-presidente da Federação dos Desterrados (BdV) até 2012. No jornal Ostpreussenblatt, ele escreveu, em 2001, que concordava com a afirmação de que o Holocausto era um "mito" e um "efetivo instrumento para incriminar os alemães e a sua história".
Foto: picture-alliance/dpa/T. Brakemeier
Jens Maier
Em janeiro, o juiz de Dresden, leste da Alemanha, protestou contra a "criação de nacionalidades mestiças" que "destroem a identidade nacional". Ele também apelou para o fim da "cultura de culpa" na Alemanha, fazendo referência às ações do país durante a Segunda Guerra Mundial.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Kahnert
Beatrix von Storch
A vice-presidente da AfD é deputada no Parlamento Europeu e é conhecida pela sua visão muito conservadora. Em 2016, ela respondeu afirmativamente a um usuário no Facebook que lhe perguntou se as Forças Armadas deveriam ser usadas para impedir que mulheres com filhos entrassem ilegalmente na Alemanha. Mais tarde, Beatrix von Storch pediu desculpa pelo comentário.
Foto: Reuters/W. Rattay
Alexander Gauland
O candidato de topo da AfD foi amplamente criticado depois de sugerir que a comissária do Governo alemão para a integração, Aydan Özoguz, deveria ser "descartada" na Turquia porque havia dito que não existia cultura específica na Alemanha além da língua alemã.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Murat
Alice Weidel
A economista de 38 anos foi outra candidata de topo da AfD. Apesar de viver na Suíça, Weidel concorreu pelo distrito do Lago de Constança em Baden- Württemberg. Ela foi criticada por descrever a comissária de integração da Alemanha, Aydan Özoguz, de origem turca, como "mancha" e "desgraça". Num suposto e-mail atribuído a Weidel, ela chamou o Governo de Angela Merkel de "porco" e "fantoche".
Foto: Getty Images/S. Schuermann
Frauke Petry
A co-presidente da AfD ganhou um assento parlamentar no estado da Saxónia, mas anunciou que não se unirá ao grupo parlamentar da AfD, embora continue no partido. Em janeiro de 2016, Petry disse que a polícia alemã deveria usar armas de fogo, se necessário, para recuperar o "controlo" da fronteira. Em março de 2017, foi criticada por relativizar o Holocausto, numa entrevista no Wall Street Journal.