Extrema-direita alemã apresenta-se como "real oposição"
DW (Deutsche Welle) | DPA | AFP | Lusa
10 de abril de 2021
O partido Alternativa para a Alemanha (AfD) iniciou o congresso que aprovará o seu programa para as eleições de setembro. Evento no leste do país desrespeitou medidas contra a Covid-19.
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O partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) iniciou este sábado (10.04) a sua conferência de dois dias na cidade de Dresden, no leste do país, demonstrando um desrespeito pelas medidas de combate à pandemia de Covid-19 ao ter cerca de 570 delegados a assistir pessoalmente ao evento.
A conferência visa finalizar o manifesto do partido antes das eleições nacionais previstas para setembro. Sob o slogan eleitoral "Alemanha, mas normal", o partido também deve eleger os seus candidatos à chancelaria este fim de semana.
Simon Young, que está a cobrir a conferência pela DW, avançou que o debate sobre questões concretas poderia ser ofuscado pela atual clivagem no partido entre elementos de extrema-direita e elementos mais conservadores. Contudo, o correspondente da DW disse que "normalidade" para o partido significava coisas como o regresso ao serviço militar obrigatório e a "proibição dos minaretes"no país.
Apelos à unidade
O co-líder Tino Chrupalla, que é visto como um dos principais candidatos a chanceler, exortou os delegados a porem as lutas internas dos últimos meses para trás e a irem para as eleições unidos. Ele disse que a lição a retirar das recentes e pesadas perdas de apoio nas eleições estatais foi que o seu partido precisava de um "perfil claro, unidade, coragem e solidariedade".
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O outro co-líder, Jörg Meuthen, usou o seu discurso para atacar os partidos rivais. E, fazendo referência à Angela Merkel, disse que a Alemanha tem sido governada durante 16 anos por uma chanceler e partidos que destruíram a "normalidade" na no país pouco a pouco.
O co-presidente do AfD disse que o partido conservador de Angela Merkel, CDU, está "esvaziado" e "abalado por escândalos", pelo que já não tem condições para continuar a ser "a força motriz política" da Alemanha.
Perante as eleições marcadas para setembro, Meuthen afirmou que os eleitores apenas precisam de conhecer dois programas eleitorais: o do AfD - partido que ele afirma ser de liberdade - e o dos "chamados Verdes" - que disse estarem "camuflados de supostos ambientalistas" e representarem o socialismo - acrescentando que todas outras forças políticas são "irrelevantes".
Oposição às medidas contra a pandemia
Na conferência, o partido também aprovou uma resolução sobre a gestão da pandemia de Covid-19, apelando ao fim dos confinamentos e dizendo que a prevenção contra a infeção deveria ser deixada ao critério dos "cidadãos responsáveis".
A resolução acusava também os partidos no poder de criarem uma "política de medo", rejeitando mesmo a pressão indireta para a vacinação ou testagem em massa contra a Covid-19.
O AfD está a depositar grandes expetativas nas eleições de 6 de junho no estado da Saxónia-Anhalt, onde obteve um quarto dos votos em 2016.
Meuthen disse no seu discurso que o partido, "se fizermos as coisas bem desta vez", terá a oportunidade de se tornar "a força política mais forte de um estado alemão" pela primeira vez.
No entanto, as mais recentes sondagens indicam que o AfD - que nos oito anos desde sua fundação conseguiu ganhar lugares em todos os governos regionais e que desde 2017 tem presença no Parlamento federal - não deve alcançar os 12,6% de votos que teve nas últimas eleições gerais.
Os rostos da AfD: Conheça os novos parlamentares da Alemanha
Após as eleições de 2017, o partido de extrema-direita entrará no Parlamento pela primeira vez e ocupará 94 lugares. Mas quem são exatamente os representantes da Alternativa para a Alemanha (AfD) – e o que já disseram?
Foto: Reuters/F. Bensch
Siegbert Droese
O líder da AfD na cidade de Leipzig foi o centro de uma polémica em 2016. Os jornais noticiaram que a matrícula de um dos seus carros era "AH 1818". "AH" são as iniciais de Adolf Hitler. Os números 1 e 8 correspondem à primeira e oitava letra do alfabeto – consideradas um código para "Adolf Hitler" entre os grupos neonazis.
Foto: Imago/J. Jeske
Markus Frohnmaier
Frohnmaier é o chefe da organização da juventude do partido, a Junge Alternative (Alternativa Jovem). O jovem político, de 28 anos, escreveu em agosto de 2016 no Facebook que "nossa geração é a que mais sofrerá" com a decisão da chanceler Angela Merkel de "afundar este país com o proletariado de baixa qualidade de África e do Oriente".
Foto: picture-alliance/dpa/B. Weißbrod
Martin Reichardt
O antigo soldado da Baixa-Saxónia, estado do norte da Alemanha, uma vez disse a jornalistas que não tinha problemas com a frase "Alemanha para os alemães", geralmente utilizada por grupos neonazis. Reichardt também descreveu Os Verdes e o partido A Esquerda como "inimigos constitucionais número 1".
Foto: picture-alliance/dpa/M. Bein
Wilhelm von Gottberg
O político de 77 anos de Brandenburgo, estado do leste da Alemanha, foi vice-presidente da Federação dos Desterrados (BdV) até 2012. No jornal Ostpreussenblatt, ele escreveu, em 2001, que concordava com a afirmação de que o Holocausto era um "mito" e um "efetivo instrumento para incriminar os alemães e a sua história".
Foto: picture-alliance/dpa/T. Brakemeier
Jens Maier
Em janeiro, o juiz de Dresden, leste da Alemanha, protestou contra a "criação de nacionalidades mestiças" que "destroem a identidade nacional". Ele também apelou para o fim da "cultura de culpa" na Alemanha, fazendo referência às ações do país durante a Segunda Guerra Mundial.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Kahnert
Beatrix von Storch
A vice-presidente da AfD é deputada no Parlamento Europeu e é conhecida pela sua visão muito conservadora. Em 2016, ela respondeu afirmativamente a um usuário no Facebook que lhe perguntou se as Forças Armadas deveriam ser usadas para impedir que mulheres com filhos entrassem ilegalmente na Alemanha. Mais tarde, Beatrix von Storch pediu desculpa pelo comentário.
Foto: Reuters/W. Rattay
Alexander Gauland
O candidato de topo da AfD foi amplamente criticado depois de sugerir que a comissária do Governo alemão para a integração, Aydan Özoguz, deveria ser "descartada" na Turquia porque havia dito que não existia cultura específica na Alemanha além da língua alemã.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Murat
Alice Weidel
A economista de 38 anos foi outra candidata de topo da AfD. Apesar de viver na Suíça, Weidel concorreu pelo distrito do Lago de Constança em Baden- Württemberg. Ela foi criticada por descrever a comissária de integração da Alemanha, Aydan Özoguz, de origem turca, como "mancha" e "desgraça". Num suposto e-mail atribuído a Weidel, ela chamou o Governo de Angela Merkel de "porco" e "fantoche".
Foto: Getty Images/S. Schuermann
Frauke Petry
A co-presidente da AfD ganhou um assento parlamentar no estado da Saxónia, mas anunciou que não se unirá ao grupo parlamentar da AfD, embora continue no partido. Em janeiro de 2016, Petry disse que a polícia alemã deveria usar armas de fogo, se necessário, para recuperar o "controlo" da fronteira. Em março de 2017, foi criticada por relativizar o Holocausto, numa entrevista no Wall Street Journal.