A chanceler Angela Merkel promete mais apoio às empresas alemãs que queiram investir no continente africano. A ideia agrada aos empresários, mas há várias questões por responder.
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O presidente da Afrika-Verein, a associação de empresas alemãs com negócios no continente africano, não acredita no que acaba de ouvir. "Senhora chanceler, acaba de me pôr no desemprego como representante associativo", disse ironicamente Stefan Liebing, num discurso durante a cimeira de investimento "G20 Compact with Africa", na segunda-feira (29.10).
Liebing tem sido um crítico feroz da estratégia da Alemanha para África. Na sua perspetiva, tem-se feito pouco pelas empresas alemãs. Mas agora o presidente da Afrika-Verein elogia a chanceler Angela Merkel. As palavras de Merkel na abertura da cimeira são "praticamente históricas", comenta.
Merkel: "Queremos ser mais rápidos"
O discurso de Merkel quase poderia ter saído de um documento estratégico da Afrika-Verein. A chanceler alemã disse que, com a cimeira "G20 Compact with Africa", Berlim quer dar um sinal de que "nós, europeus, temos um grande interesse na melhoria das perspetivas económicas em África. Para isso é preciso investimentos públicos, mas sobretudo investimentos privados", afirmou Merkel.
Na cimeira, que teve lugar na capital alemã, estiveram presentes, entre outros, os presidentes da África do Sul, Cyril Ramaphosa, do Ruanda, Paul Kagame e da Guiné, Alpha Condé. 11 países participam na iniciativa "G20 Compact with Africa", criada em 2017: Benim, Costa do Marfim, Egito, Etiópia, Gana, Guiné, Marrocos, Ruanda, Senegal, Togo e Tunísia.
Na segunda-feira, a organização do "G20 Compact with Africa" anunciou a criação de um fundo específico para apoiar os investimentos de pequenas e médias empresas no continente africano. O Governo alemão disse ainda que está a estudar a possibilidade de apoiar empresas privadas alemãs que queiram apostar na formação profissional de jovens africanos. Além disso, a Alemanha e os países africanos do "G20 Compact with Africa" deverão assinar convenções para evitar a dupla tributação.
"Eu sei que é importante ser célere", disse Merkel, dirigindo-se aos líderes africanos presentes na cimeira. "A vossa população espera respostas e resultados rapidamente. Por isso, vamos esforçar-nos para ser mais rápidos", prometeu a chanceler.
Alemães interessados em negócios com África
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Rapidez é a palavra-chave. A conferência de investimento é uma mostra de negócios. Os líderes africanos louvam a iniciativa. "Partilhamos da impaciência da chanceler Merkel de querer ver resultados mensuráveis e palpáveis", diz o Presidente ruandês Paul Kagame.
Os países que participam na iniciativa comprometem-se a fazer reformas políticas e económicas. Em troca, os parceiros ocidentais oferecem ajuda na procura de investidores e conhecimentos técnicos especializados.
"A parceria entre África e os países do G20 tem um imenso potencial de transformar as vidas dos cidadãos e os negócios das empresas e organizações aqui representadas", referiu o Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa.
Ao mesmo tempo, os empresários alemães mostram-se entusiasmados com as muitas oportunidades de investimento em África. Em frente às câmaras, durante a cimeira, foram assinados compromissos de investimento milionários.
Críticas à falta de "standards"
O intuito da cimeira é mostrar que a iniciativa "Compact with Africa" funciona. Mas a realidade não acompanha a velocidade dos discursos. Os países que participam na iniciativa têm feito reformas, mas os investimentos pouco crescem e o número de empresários alemães no país aumenta muito devagar. Os analistas acreditam que só daqui a alguns anos é que se poderão começar a ver frutos desta iniciativa.
Alemanha incentiva investimentos em África
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Os críticos questionam também se as medidas do Governo alemão ajudarão, de facto, a combater a pobreza em África. Stephan Exo-Kreischer, presidente da organização de desenvolvimento ONE, uma associação de várias ONG alemãs, concorda, de um modo geral, com o novo conceito de cooperação. Mas, em entrevista à DW África, pede que se respeitem os direitos humanos e os "standards" ecológicos e sociais.
"Investimentos privados de estrangeiros e nacionais são importantes e devem ser incrementados. No entanto, esses investimentos deveriam contribuir para um crescimento económico sustentável e duradouro nas regiões, ou seja, devem beneficiar as populações", ressalva Exo-Kreischer.
São, em particular, os países mais pobres que ficam de fora dos investimentos, porque não são suficientemente atrativos para as empresas, acrescenta.
No entanto, para a Afrika-Verein, esta segunda-feira foi um dia bom. Christoph Kannengießer não acredita que a cimeira traga resultados de um dia para o outro. "Otimismo é bom, mas temos de permanecer realistas", comenta o diretor-geral da associação. Ainda assim, é importante que se sublinhe o interesse da Alemanha em investir em África, conclui.
Uma relação especial: a Alemanha Oriental e África
A República Democrática Alemã manteve relações estreitas com os países africanos de orientação socialista. Entre eles estavam Angola, Etiópia, Moçambique e Tanzânia. A cooperação terminou com a reunificação em 1990.
Foto: Ismael Miquidade
Formação de profissionais africanos
A República Democrática Alemã (RDA), extinta após a reunificação da Alemanha a 3 de Outubro de 1990, formou muitos trabalhadores vindos de países africanos socialistas. Estes angolanos participam num curso em Dresden, em 1983, no Instituto para Segurança no Trabalho. Angola estava em guerra nessa altura. O chamado "Bloco de Leste" apoiava o Governo marxista-leninista do MPLA.
Foto: Bundesarchiv/183-1983-0516-022 /U. Häßler
Ajuda ao desenvolvimento para aliados políticos
Depois do fim do colonianismo português em África, em 1975, a Alemanha Oriental (RDA) apoiou os partidos socialistas que foram conquistando o poder. A ideia era fazer desses novos Estados africanos aliados e parceiros económicos do Bloco de Leste. Aqui, o angolano Eduardo Trindade recebe formação de mecânico de máquinas agrícolas (1979).
Foto: Bundesarchiv/183-U0213-0014/P. Liebers
Formação para jornalistas africanos
Não havia só formação para profissões técnicas. A Alemanha Oriental também formava jornalistas africanos. Centenas de jornalistas, de quase todos os países de África, passaram pela Escola de Solidariedade da Associação de Jornalistas da RDA, em Berlim-Friedrichshagen. Na foto: jovens jornalistas de Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe durante o curso em dezembro de 1976.
Foto: Bundesarchiv/183-R1210-302
Cooperação no desporto
Esta foto foi tirada em setembro de 1989, em Leipzig, numa aula de atletismo da Escola Superior Alemã para Educação Física (DHfK), com treinadores de Angola, Nicarágua e Moçambique. Em Leipzig, a partir de 4 de setembro, os cidadãos começaram a exigir todas as segundas-feiras mais liberdade na RDA - primeiro eram centenas, depois dezenas de milhares. A 9 de novembro de 1989 caiu o Muro de Berlim.
Foto: Bundesarchiv/183-1989-0929-019/ W. Kluge
Estudantes nas universidades da RDA
Moisés José da Costa, de Angola, fez parte de um grupo de estudantes de 34 países que frequentou a Escola Superior Técnica de Karl-Marx-Stadt em 1986. A cidade passou a chamar-se Chemnitz em 1990. Muitas ruas da Alemanha Oriental, com nomes de políticos marxistas, também foram renomeadas. Hoje, muitos estrangeiros que viveram na RDA têm dificuldade em encontrar endereços antigos.
Foto: Bundesarchiv/183-1986-1112-002/W. Thieme
"Escola da Amizade"
1983: O Presidente de Moçambique, Samora Machel (dir.), e Margot Honecker, ministra da Educação da RDA (esq.), encontram-se com a direção da "Escola de Amizade", na localidade de Staßfurt. Em 1979, ambos os países decidiram que 899 crianças moçambicanas frequentariam essa escola na Alemanha Oriental durante quatro anos. Algumas dessas crianças tinham apenas 12 anos de idade.
Foto: Bundesarchiv/Bild 183-1983-0303-423/H. Link
Escola "Dr. Agostinho Neto"
Em outubro de 1981, durante uma visita do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, à Alemanha, a 26ª Escola de ensino médio da RDA "Berlim-Pankow" recebeu o nome do seu antecessor. Passou a chamar-se Escola "Dr. Agostinho Neto". Jovens da Alemanha Oriental receberam o Presidente angolano com cartazes propagandísticos, como: "Apoiando a União Soviética pela paz e socialismo."
O Presidente angolano José Eduardo dos Santos (o quinto, a partir da esq.) visitou o Muro de Berlim na Porta de Brandemburgo. O muro começou a ser construído em 1961 para impedir que a população da RDA fugisse para Berlim Ocidental, onde se tinha livre-trânsito para o Ocidente. Oficialmente, o muro era chamado de "Muralha Antifascista". Cerca de 200 pessoas morreram ao tentar fugir.
Foto: Bundesarchiv
Congresso do SED com convidados africanos
O Partido Socialista Unificado da Alemanha (SED) gostava de exibir os seus convidados estrangeiros. No 10° Congresso do partido, em 1981, recebeu Ambrósio Lukoki, do MPLA (atrás, à direita), e Berhanu Bayeh (atrás, o segundo à esq.), que mais tarde se tornou chefe da diplomacia da ditadura marxista-leninista etíope do Derg, período em que milhares de pessoas foram mortas.
Foto: Bundesarchiv/183-Z0041-138/M. Siebahn
Visitas a congressos partidários africanos
O contrário também era comum. Konrad Naumann (na segunda fila, à dir.), membro do SED, participou do 3° Congresso do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) em Bissau, em novembro de 1977. O evento foi realizado sob o lema "Independência, Unidade e Desenvolvimento".
Foto: Bundesarchiv/Bild 183-S1118-026/Glaunsinger
Acampamentos de verão para crianças e adolescentes
Também durante o período de férias, a RDA tentava educar as crianças de acordo com os ideais comunistas. E convidavam-nas para acampamentos de verão. Aqui também vinham convidados estrangeiros. Na foto, dois membros da organização juvenil da Alemanha Oriental "Pioneiros" explicam a uma criança da República Popular do Congo uma matéria do jornal "Die Trommel".
Foto: Bundesarchiv/183-T0803-0302
Fim-de-semana em casa de família alemã
As crianças estrangeiras que, em 1982, participaram no acampamento dos "Pioneiros" também passaram um fim-de-semana com famílias alemãs para conhecer o dia-a-dia na Alemanha Oriental. Elas foram de comboio até à cidade de Schwedt, na fronteira com a Polónia. Sandra Maria Bernardo, de Angola, foi recebida pela sua "mãe-anfitriã" Ingeborg Scholz e a filha Petra.
Foto: Bundesarchiv/183-1982-0731-010 /K. Franke
Solidariedade militar
1973: Combatentes do MPLA marcham durante o Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, que teve lugar no estádio da Juventude Mundial, no leste de Berlim. A RDA solidarizou-se com a luta do MPLA contra o poder colonial português. Os outros dois movimentos de libertação de Angola, a UNITA e a FNLA, foram apoiados pela África do Sul e EUA.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-M0814-0734/F. Gahlbeck
Hora do adeus
Depois de formados na RDA, namibianos despedem-se no aeroporto Berlim-Schönefeld. De 1981 a 1984, eles estiveram a receber formação na Alemanha Oriental. No entanto, não puderam regressar às suas casas porque a Namíbia só se tornou independente da África do Sul em 1990. Por isso, voaram para Angola, para trabalhar como técnicos de silvicultura, canalizadores ou mecânicos de automóveis.
Foto: Bundesarchiv/183-1984-0815-031/A. Kämper
A ajuda chega de avião
Na foto, uma aeronave da companhia aérea Interflug, pertencente à extinta RDA, no aeroporto de Luanda. A bordo: material escolar para crianças angolanas. Em 1978, além de Angola, o Comité de Solidariedade da Alemanha Oriental enviou donativos à Etiópia, Moçambique, Vietname, República Popular do Iémen e às organizações de libertação do Zimbabwe (ZANU), da Namíbia (SWAPO) e da África do Sul.
Foto: Bundesarchiv/183-T0517-0022/R. Mittelstädt
Tratores para aliados socialistas
Doação de máquinas agrícolas da fábrica de tratores Schönebeck (da RDA) para a Etiópia. Os tratores do tipo "ZT 300-C" eram comuns na Alemanha Oriental e foram exportados para 26 países. Incluindo Angola e Moçambique. (1979)
Foto: Bundesarchiv/183-U1110-0001/Schulz
Máquinas têxteis da RDA para a Etiópia
Fábrica têxtil na cidade de Kombolcha, na província etíope de Amhara (foto de novembro de 2005). Esta fábrica processa algodão para fazer lençóis e toalhas. Foi construída em 1984 com o apoio da RDA e da hoje extinta Checoslováquia. Quase todas as máquinas foram produzidas pelo consórcio TEXTIMA, na antiga cidade de Karl-Marx-Stadt, hoje Chemnitz.
Foto: picture-alliance/dpa
Construções pré-fabricadas da RDA em Zanzibar
Ainda hoje, é possível ver prédios, construídos a partir de elementos pré-fabricados, em Zanzibar, com os quais a Alemanha Oriental apoiou a Tanzânia socialista criada em 1964 sob o Presidente Julius Nyerere. Os materiais chegaram de navio e tiveram apenas de ser montados. "Michenzani" é o nome do projeto com mais de 1,5 km de comprimento.
Foto: cc-by-sa/Sigrun Lingel
RDA - Nostalgia em Maputo
Cerca de 15 mil moçambicanos trabalharam na Alemanha Oriental no final dos anos 80. A maioria voltou ao seu país de origem após a reunificação da Alemanha, a 3 de Outubro de 1990. Em casa, são chamados de "Madgermanes", uma palavra derivada de "Made in Germany". Até aos dias de hoje, eles reúnem-se com frequência no Jardim 28 de Maio, em Maputo, para reivindicar os seus direitos.