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CulturaAlemanha

Entrega "histórica" ​​de artefactos de bronze à Nigéria

Philipp Jedicke | Rosalia Romaniec
20 de dezembro de 2022

Primeiros 20 bronzes que pertenceram ao Reino de Benim e que estavam em museus alemães regressaram à Nigéria. Ministras Annalena Baerbock e Claudia Roth iniciaram entrega dos tesouros roubados na época colonial.

Foto: Oliver Berg/dpa/picture alliance

"É um dia histórico em que estamos a trazer de volta o que nunca nos pertenceu", disse a ministra da Cultura da Alemanha, Claudia Roth, à margem da sua visita à capital nigeriana, Abuja.

Juntamente com uma delegação enviada por Berlim, a governante acompanha pessoalmente o regresso à Nigéria de valiosos artefactos de bronze que pertenciam à cidade de Benim e que estavam em cinco museus alemães. Em entrevista à DW, Claudia Roth explicou: "Esta devolução representa o reconhecimento da injustiça de um passado colonial que se apropriou de propriedades saqueadas".

Roth espera que o regresso dos objetos artísticos sare feridas abertas, "porque também estamos a devolver um pouco da identidade cultural que roubámos".

Ao todo, Claudia Roth e a ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, Annalena Baerbock, devolvem esta terça-feira (20.12), em Abuja, Nigéria, 20 valiosos tesouros àquele país da África Ocidental. Os artefactos fazem parte de um acervo de cerca de 1.100 objetos culturais roubados do palácio do então Reino de Benim, hoje parte da Nigéria, distribuídos por 20 museus alemães.

Ministra da Cultura alemã, Claudia Roth, à chegada a AbujaFoto: Annette Riedl/dpa/picture alliance

Os objetos de bronze, marfim e de outros materiais preciosos estão entre as obras de arte mais importantes do continente africano. A maioria foi saqueada por colonialistas britânicos por volta de 1897.

"O regresso não é uma derrota para a Alemanha"

As ministras alemãs fazem-se acompanhar pelos diretores de vários museus germânicos na deslocação a África. Os objetos restituídos procedem de cidades como Berlim, Hamburgo, Colónia, Dresden, Leipzig e Estugarda.

Os museus envolvidos e os seus patrocinadores já tinham transferido a propriedade de todos os bronzes de Benim. No entanto, também foram estabelecidos acordos de empréstimo para que alguns dos tesouros artísticos possam continuar a ser exibidos na Alemanha.

Leonien Meijer-von Mensch, diretora das Coleções Etnológicas Estaduais em Dresden e Leipzig, faz parte da delegação de visita a Abuja. "Não é sobre nós, é sobre as pessoas na Nigéria que estão a recuperar as suas propriedades", disse à DW.

Para a responsável, esta devolução não se trata de uma perda para a Alemanha, mas de um ganho, já que o processo de reconciliação com o passado está em curso: "As instituições etnográficas serão agora lugares importantes onde lidaremos com o nosso passado mais do que nunca".

A deslocação ministerial vai ainda contar com uma visita a zonas histórias de Benim. O grupo terá contacto com escultores nigerianos que ainda trabalham na tradição dos seus ancestrais, fundindo obras de arte em bronze e latão.

Um deles é Ewaen Aigbe, que se dedica a esse ofício há três gerações. Aigbe acha "ótimo" que os bronzes estejam de volta à Nigéria, porque ele pode finalmente estudá-los em detalhe. Até agora só trabalhou com imagens históricas de catálogos antigos, mas em breve poderá olhar para os originais e ver com os seus próprios olhos "o que os nossos antepassados ​​produziram".

A fundição de bronze tem uma longa tradição e ainda hoje é praticada como profissão na cidade de BeninFoto: Rosalia Romaniec/DW

Promessas cumpridas

Godwin Obaseki, governador da região, expressou o seu grande alívio em entrevista à DW: "Hoje podemos dizer que a restituição é uma realidade. As promessas feitas estão agora a ser cumpridas. Hoje é muito importante porque os alemães estão realmente a fazer o que prometeram".

Uma jovem transeunte também se mostra "feliz” com a restituição dos artefactos e agradece a "todos os que trabalharam arduamente" no retorno dos bronzes, afirmou.

Um prédio moderno será construído na Nigéria e dará lugar a um novo museu para a exposição dos bronzes. Segundo Claudia Roth, o retorno é também "um pré-requisito para falarmos de arte moderna, de cooperação museológica no aqui e agora e desenvolvermos planos conjuntos para ajudar a construir um campus moderno, promover o trabalho arqueológico - em suma: criar um espaço comum para gerar o futuro".

A Alemanha apoiará o museu com ajuda financeira, cooperação e escavações arqueológicas conjuntas. Roth acrescentou: "Acho que faríamos bem em ajudar os bronzes a encontrar o seu lar aqui novamente". Este é o início de uma nova relação "entre a Alemanha e a Nigéria e entre a Europa e a África", concluiu Roth.

A Alemanha também entregou este ano à Namíbia artefactos roubados durante a colonização.

As entrevistas foram conduzidas por Rosalia Romaniec.

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