A chanceler Angela Merkel deverá procurar, esta segunda-feira (20.11), uma saída para a crise depois do fracasso das negociações para formar um novo Governo. Eleições antecipadas estão em cima da mesa.
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Após um mês de negociações, na noite de domingo (19.11), os conservadores da CDU-CSU, de Angela Merkel, os liberais do FDP e o partido ecologista Os Verdes não chegaram a acordo sobre a formação de um novo Executivo.
É uma crise política sem precedentes desde a formação da República Federa da Alemanha, em 1949. Em cima da mesa está a possibilidade de eleições antecipadas no início de 2018. Na história da República Federal da Alemanha, nunca houve um Governo de minoria a nível federal e formaram-se sempre coligações com acordos prévios.
Os pontos críticos das negociações têm que ver com a política de refugiados, a luta contra as alterações climáticas e os desejos de reduções fiscais por parte do FDP.
Na segunda-feira de manhã, os liberais eram o principal alvo de críticas, com alguns políticos e editoriais a acusá-los de falhar as negociações com fins eleitorais.
Angela Merkel já tinha excluído a possibilidade de governar com um Executivo minoritário e os antigos aliados do SPD recusaram uma nova aliança.
Angela Merkel após a reunião com partidos para a tentativa de formação de um novo Governo (19.11.2017)Foto: Reuters/A. Schmidt
Após o fracasso das negociações, a chanceler prometeu "tudo fazer para que o país seja bem dirigido nas semanas difíceis que se seguem". As próximas semanas serão praticamente de paralisia na Alemanha, tanto no plano interno como europeu.
Angela Merkel deverá encontrar-se, esta segunda-feira (20.11), com o Presidente Frank-Walter Steinmeier, que desempenha um papel importante na abertura do complexo processo de dissolução.
Devido à crise política, a chanceler cancelou uma conferência de imprensa que estava prevista para o início da tarde com o primeiro-ministro holandês Mark Rutte.
Fim da era Merkel?
No poder desde 2005, Angela Merkel venceu as eleições legislativas, em setembro, mas com o pior resultado desde 1949 para o partido conservador, que perdeu muitos votos para a força de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD). A governante de 63 anos arrisca-se assim a uma saída do poder sem glória.
"Fora da Alemanha, continua-se a olhar para ela [Angela Merkel] com admiração, quando entra no 13º ano de poder. Mas na Alemanha, a admiração diminuiu", escreveu o semanário alemão Der Spiegel. "É o seu fracasso, o que mostra que o método de Merkel - pragmatismo ilimitado e máxima flexibilidade ideológica - chegou ao fim", pode ler-se ainda naquele semanário. O jornal conservador Frankfurter Allgemeine Zeitung diagnostica uma "erosão do poder" da chanceler.
Nos últimos anos, Angela Merkel foi retratada como a prossecutora das políticas de austeridade na Europa, a defensora do acolhimento de refugiados e a líder da nova ordem mundial. No entanto, o acolhimento de centenas de milhares de refugiados conferiu a Merkel visibilidade e semeou as bases do seu declínio.
Chefes de Governo da Alemanha: de Adenauer a Merkel
Desde 1949, a Alemanha teve oito chanceleres: sete homens e uma mulher. A chanceler atual, Angela Merkel, conseguiu um quarto mandato nas eleições legislativas de setembro de 2017.
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Konrad Adenauer (CDU), 1949-1963
A eleição de Konrad Adenauer do partido democrata-cristão CDU como primeiro chefe de Governo da Alemanha, em 15 de setembro de 1949, marcou o início de um longo processo de reestruturação política no país. Reeleito em 1953, 1957 e 1961, renunciou ao cargo apenas aos 87 anos de idade, em 1963. Fortaleceu a aliança com os Estados Unidos da América. Na foto: no seu escritório em Bona.
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Ludwig Erhard (CDU), 1963-1966
O segundo chanceler da Alemanha também pertenceu à CDU, mas esteve apenas três anos no Governo. Erhard renunciou devido ao rompimento da coligação com o partido liberal FDP. Mesmo assim, participou de forma ativa da reforma monetária alemã do pós-guerra. O fumador convicto ficou famoso como "pai" da economia social de mercado ("Soziale Marktwirtschaft") e do milagre económico alemão.
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Kurt Georg Kiesinger (CDU), 1966-1969
Foi eleito por uma grande coligação dos dois partidos CDU e SPD (de esquerda). O seu Governo teve que combater uma crise económica. Kiesinger foi duramente criticado pelo seu passado como membro ativo do partido nacional-socialista NSDAP durante a ditadura fascista na Alemanha. Com a ausência de uma oposição forte no Parlamento, formou-se em 1968 um movimento de protesto estudantil na Alemanha.
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Willy Brandt (SPD), 1969-1974
A onda de protestos teve reflexos nas eleições: Willy Brandt tornou-se no primeiro chanceler social-democrata no pós-guerra. Melhorou as relações com os países comunistas do leste. Durante uma visita à Polónia, ajoelhou-se no monumento pelas vítimas do nazismo no Gueto de Varsóvia. Gesto que ficou famoso como pedido de desculpas. Renunciou ao cargo em consequência de um caso de espionagem.
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Helmut Schmidt (SPD), 1974-1982
Após a renúncia de Brandt, Helmut Schmidt prestou juramento como chanceler. O social-democrata teve de combater o terrorismo do grupo extremista de esquerda RAF. Negou negociar com os terroristas alemães. Enfrentou a oposição por causa do estacionamento de mísseis nucleares dos EUA na Alemanha. Depois da saída do Governo do parceiro FDP (liberais), perdeu um voto de confiança no Parlamento.
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Helmut Kohl (CDU), 1982-1998
Helmut Kohl formou uma nova coligação centro-direita com os liberais. Ficou 16 anos no poder, um recorde. Ficou famoso pela sua teimosia e por não gostar de reformas. Depois da queda do Muro de Berlim, Kohl consegui reunificar as duas Alemanhas, a RFA ocidental e a RDA oriental. Ficou conhecido como "chanceler da reunificação". T ambém é lembrado pelo seu empenho na construção da União Europeia.
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Gerhard Schröder (SPD), 1998-2005
Depois de quatro mandatos de Kohl, o desejo de mudança aumentou. Gerhard Schröder foi eleito primeiro chanceler de uma coligação de esquerda entre o SPD e os Verdes. Durante o seu Governo, o exército alemão, Bundeswehr, teve as primeiras missões no estrangeiro com a participação na guerra no Afeganistão. Reduziu os subsídios sociais, medida que foi criticada dentro do seu partido social-democrata.
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Angela Merkel (CDU), desde 2005
Em 2005, Merkel é eleita como primeira mulher na chefia do Governo alemão. Durante o primeiro e terceiro mandato, governou numa grande coligação com o SPD, no segundo mandato numa coligação de centro-direita com os liberais do FDP. Merkel é conhecida pelo estilo pragmático de liderança. Durante a crise financeira, assumiu um papel de liderança na UE. Em 2017, conseguiu o seu quarto mandato.