Milhares marcham contra a extrema-direita no leste alemão
AFP | Lusa | tms
24 de agosto de 2019
Em manifestação contra o racismo, mais de 30 mil pessoas marcharam na cidade de Dresden, bastião da extrema-direita no leste da Alemanha. Manifestantes defenderam a diversidade e a "solidariedade em vez de rejeição".
Publicidade
Cerca de 35 mil pessoas, segundo os organizadores, marcharam este sábado (24.08) contra o ódio e o racismo no leste alemão, na cidade de Dresden, capital da Saxónia. A manifestação ocorre a uma semana das eleições estaduais, nas quais o partido de extrema-direita AfD está projetado para obter enormes ganhos.
Sob o lema "Solidariedade em vez de rejeição: por uma sociedade aberta e livre", os manifestantes, incluindo ativistas de organizações não-governamentais, artistas, sindicalistas e responsáveis políticos da aliança #Unteilbar ("indivisível", em português) começaram a desfilar pouco depois das 14h locais.
A mobilização parece ter ultrapassado as expetativas dos organizadores da concentração na cidade, uma das mais turísticas do leste da Alemanha, que antes do início da manifestação diziam esperar pelo menos 10 mil participantes. "O racismo não é uma alternativa" e "Não há lugar para os nazis" lia-se em alguns dos cartazes empunhados pelos manifestantes.
"Há muitas pessoas na Alemanha comprometidas com a diversidade", disse à agência France Presse Janna Rakowski, uma professora de 27 anos, que se deslocou de Berlim.
Susann Riske, a porta-voz dos organizadores, indicou: "Queremos fazer qualquer coisa contra o clima político (atual) e apoiar as pessoas que diariamente se opõem ao ódio e à violência".
"As pessoas estão muito insatisfeitas (...) Os grandes partidos sabotaram as suas expectativas", considerou uma reformada de Dresden, Greta Schmidt, 66 anos, presente na manifestação com o cartaz "Avós contra (a extrema) direita".
Expansão da extrema-direita
O contexto é de tensão numa altura em que as sondagens preveem um novo sucesso eleitoral do partido anti-migrantes Alternativa para a Alemanha (AfD) nos escrutínios de 1 de setembro, na Saxónia e no Estado vizinho de Brandemburgo.
Segundo os últimos inquéritos de opinião, a AfD ficará em segundo lugar no seu bastião saxão, atrás dos conservadores de Angela Merkel. Com intenções de voto à volta dos 24%, poderá mais que duplicar o resultado em relação a 2014.
A AfD tem vindo a crescer contando com as preocupações dos alemães depois do afluxo de mais de um milhão de refugiados ao país em 2015 e 2016 e conseguiu entrar no parlamento nas legislativas de 2017.
Também este sábado (24.08), um candidato da AfD na eleição da Saxónia, Nico Koehler, negou que o seu partido seja racista, chamando tais acusações de "propaganda destinada a levar os partidos de esquerda à assembleia estadual".
Os rostos da AfD: Conheça os novos parlamentares da Alemanha
Após as eleições de 2017, o partido de extrema-direita entrará no Parlamento pela primeira vez e ocupará 94 lugares. Mas quem são exatamente os representantes da Alternativa para a Alemanha (AfD) – e o que já disseram?
Foto: Reuters/F. Bensch
Siegbert Droese
O líder da AfD na cidade de Leipzig foi o centro de uma polémica em 2016. Os jornais noticiaram que a matrícula de um dos seus carros era "AH 1818". "AH" são as iniciais de Adolf Hitler. Os números 1 e 8 correspondem à primeira e oitava letra do alfabeto – consideradas um código para "Adolf Hitler" entre os grupos neonazis.
Foto: Imago/J. Jeske
Markus Frohnmaier
Frohnmaier é o chefe da organização da juventude do partido, a Junge Alternative (Alternativa Jovem). O jovem político, de 28 anos, escreveu em agosto de 2016 no Facebook que "nossa geração é a que mais sofrerá" com a decisão da chanceler Angela Merkel de "afundar este país com o proletariado de baixa qualidade de África e do Oriente".
Foto: picture-alliance/dpa/B. Weißbrod
Martin Reichardt
O antigo soldado da Baixa-Saxónia, estado do norte da Alemanha, uma vez disse a jornalistas que não tinha problemas com a frase "Alemanha para os alemães", geralmente utilizada por grupos neonazis. Reichardt também descreveu Os Verdes e o partido A Esquerda como "inimigos constitucionais número 1".
Foto: picture-alliance/dpa/M. Bein
Wilhelm von Gottberg
O político de 77 anos de Brandenburgo, estado do leste da Alemanha, foi vice-presidente da Federação dos Desterrados (BdV) até 2012. No jornal Ostpreussenblatt, ele escreveu, em 2001, que concordava com a afirmação de que o Holocausto era um "mito" e um "efetivo instrumento para incriminar os alemães e a sua história".
Foto: picture-alliance/dpa/T. Brakemeier
Jens Maier
Em janeiro, o juiz de Dresden, leste da Alemanha, protestou contra a "criação de nacionalidades mestiças" que "destroem a identidade nacional". Ele também apelou para o fim da "cultura de culpa" na Alemanha, fazendo referência às ações do país durante a Segunda Guerra Mundial.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Kahnert
Beatrix von Storch
A vice-presidente da AfD é deputada no Parlamento Europeu e é conhecida pela sua visão muito conservadora. Em 2016, ela respondeu afirmativamente a um usuário no Facebook que lhe perguntou se as Forças Armadas deveriam ser usadas para impedir que mulheres com filhos entrassem ilegalmente na Alemanha. Mais tarde, Beatrix von Storch pediu desculpa pelo comentário.
Foto: Reuters/W. Rattay
Alexander Gauland
O candidato de topo da AfD foi amplamente criticado depois de sugerir que a comissária do Governo alemão para a integração, Aydan Özoguz, deveria ser "descartada" na Turquia porque havia dito que não existia cultura específica na Alemanha além da língua alemã.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Murat
Alice Weidel
A economista de 38 anos foi outra candidata de topo da AfD. Apesar de viver na Suíça, Weidel concorreu pelo distrito do Lago de Constança em Baden- Württemberg. Ela foi criticada por descrever a comissária de integração da Alemanha, Aydan Özoguz, de origem turca, como "mancha" e "desgraça". Num suposto e-mail atribuído a Weidel, ela chamou o Governo de Angela Merkel de "porco" e "fantoche".
Foto: Getty Images/S. Schuermann
Frauke Petry
A co-presidente da AfD ganhou um assento parlamentar no estado da Saxónia, mas anunciou que não se unirá ao grupo parlamentar da AfD, embora continue no partido. Em janeiro de 2016, Petry disse que a polícia alemã deveria usar armas de fogo, se necessário, para recuperar o "controlo" da fronteira. Em março de 2017, foi criticada por relativizar o Holocausto, numa entrevista no Wall Street Journal.