Idai: Alemanha oferece 50 milhões de euros para reconstrução
Leonel Matias (Maputo)
16 de abril de 2019
Alemanha vai participar na conferência internacional de doadores para a reconstrução das zonas afetadas pelo ciclone Idai. No centro de Moçambique, a situação "é extremamente difícil", diz o embaixador Detlev Wolter.
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O embaixador da Alemanha em Moçambique, Detlev Wolter, disse à DW África que o seu país vai seguramente participar na conferência internacional de doadores para a reconstrução da zona centro, recentemente afetada pelo ciclone Idai.
"A situação continua a ser muito difícil. É necessário um trabalho conjunto da comunidade internacional com o Governo moçambicano", afirma Wolter.
A conferência de doadores está agendada para a segunda quinzena de maio na cidade da Beira, e está em curso o levantamento das necessidades.
O Governo alemão deverá disponibilizar 50 milhões de euros para a reconstrução pós-ciclone Idai, em Moçambique e em outros dois países atingidos por aquela calamidade natural, Zimbabué e Malawi.
São precisas "infraestruturas resilientes"
Cerca de um mês após a passagem do ciclone, o embaixador da Alemanha visitou nos dias 10 e 11 de abril uma das zonas mais afetadas, a Beira.
A cidade havia beneficiado há dois anos de um projeto que contou com financiamento da Alemanha, de reabilitação e ampliação do canal do Chiveve, na Beira, destinado a minimizar o impacto de eventuais fenómenos climáticos.
Segundo o embaixador alemão, Detlev Wolter, "o sistema [de drenagem do Chiveve] permitiu que o centro da cidade da Beira não fosse tão inundado, como teria acontecido sem aquele projeto".
"Vamos rapidamente reparar os danos sofridos pelo sistema de drenagem do Chiveve", adiantou o diplomata. "A restauração do rio Chiveve e dos mangais deve ter um efeito positivo a médio e longo prazo contra as mudanças climáticas."
O embaixador considerou também importante a implantação de infraestruturas resilientes.
Para Detlev Wolter, uma das lições a tirar do ciclone Idai é como responder "mais preventivamente" em situações do género, para evitar um elevado número de vítimas.
Idai: Alemanha oferece 50 milhões de euros para reconstrução
Reação a mudanças climáticas
O diplomata disse que a Cruz Vermelha da Alemanha trabalha há dois anos com a sua congénere moçambicana na prevenção de mudanças climáticas e, uma semana antes do ciclone, prepararam kits para assistir as pessoas afetadas.
Na sequência desta calamidade, o Governo da Alemanha colocou à disposição de Moçambique uma ajuda humanitária de cinco milhões de euros para as vítimas do ciclone, assim como das inundações e da seca.
Detlev Wolter afirmou que o apoio humanitário é canalizado através de organizações internacionais como o Programa Alimentar Mundial e a UNICEF, assim como através de organizações não-governamentais como a Cruz Vermelha Alemã, Caritas ou CARE, além da Agência Federal para Alívio Técnico, em acordo com o Governo moçambicano e em coordenação com o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC).
Por seu turno, o Comité Nacional da UNICEF na Alemanha doou seis milhões de euros em ajuda humanitária.
Estima-se que cerca de 50 alemães estiveram envolvidos, até ao momento, na assistência às vítimas do ciclone e inundações, através de programas de purificação da água, em Nhangau.
O embaixador alemão sublinhou ainda que "é com muita gratificação que constatamos que, na Alemanha, há uma resposta da sociedade muito forte com doações."
Ciclone Idai: Um mês após a tragédia
O ciclone Idai já é uma das maiores tragédias da história de Moçambique. Atingiu a cidade da Beira a 14 de março, seguindo para oeste, em direção ao Zimbabué e ao Malawi, e a afetar milhões de pessoas.
Foto: Reuters/M. Hutchings
Depois do ciclone, ruínas
Na cidade da Beira, Ester Thoma caminha com o filho junto às ruínas da sua antiga casa, que foi quase completamente destruída pelo ciclone Idai. A cidade foi uma das mais afetadas pela passagem do ciclone, a 14 de março de 2019. Uma catástrofe que deixou um rasto de destruição e que já é uma das maiores tragédias da história do país.
Foto: Reuters/Z. Bensemra
O ciclone Idai visto pela NASA
Esta imagem de satélite foi feita pela NASA e mostra a aproximação do ciclone Idai à costa dos países africanos. "A situação é terrível, a magnitude da devastação é enorme", disse na ocasião o líder da equipa de avaliação da Cruz Vermelha na Beira, Jamie LeSueur.
Foto: NASA
Crise humanitária sem precedentes
Em Moçambique, o ciclone Idai afetou mais de 1,5 milhões de pessoas, segundo o mais recente balanço. Deixou pelo menos 602 mortos e 1.641 feridos. A 27 de março, as autoridades do país declararam um surto de cólera. Isso porque, após a passagem do ciclone, a 14 março, seguiram-se chuvas intensas e inundações.
Foto: Reuters/S. Sibeko
Moisés, o bebé que nasceu em cima de uma árvore
Enquanto Moçambique avaliava os estragos do ciclone Idai, em toda a província de Sofala, cerca de 5 mil pessoas esperavam por socorro em cima de árvores e tetos de casas. Em Búzi, um dos distritos mais afetados pelo Idai, um bebé, que recebeu o nome de Moisés, nasceu em cima de uma árvore. Como a personagem bíblica, este Moisés também foi salvo das águas.
Foto: DW
Cheias em Tete
Em Tete, as cheias que seguiram à passagem do ciclone afetaram pelo menos 900 famílias. Dessas, cerca de 600 foram acolhidas no centro de acomodação do Instituto Industrial e Comercial de Matundo. Entretanto, as dificuldades foram enormes. Com a falta de tendas, as famílias juntavam os seus pertences debaixo de árvores.
Foto: DW/A. Zacarias
OMS contra a cólera
Uma mulher vítima de cólera é transportada por profissionais de saúde. Após o devastador ciclone Idai, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou estar a preparar-se para um possível aumento acentuado da doença. 900 mil vacinas contra a cólera foram enviadas para o país. Na cidade mais afetada, a Beira, foram instalados três centros de tratamento.
Foto: picture-alliance/dpa/T. Mukwazhi
Depois do desastre, a cólera
Cerca de 800 mil pessoas foram vacinadas contra a cólera até 11 de abril, numa campanha para evitar a propagação da doença em quatro distritos afetados pelo ciclone Idai na província de Sofala. Dados oficiais indicam que pelo menos sete pessoas morreram devido ao surto, até 9 de abril, registando-se 535 casos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
Solidariedade alemã
O Governo da Alemanha aumentou a ajuda humanitária para um total de 5 milhões de euros. Diversas organizações humanitárias e igrejas cristãs pediram donativos. Cruz Vermelha alemã, Caritas Alemanha, Diocese de Hamburgo, Diakonie Katastrophenhilfe, Action Medeor, foram algumas das instituições alemãs que estiveram a apoiar os moçambicanos.
Foto: Aktionsbündnis Katastrophenhilfe
Artistas e desportistas apoiam vítimas
O concerto solidário "Mão dada a Moçambique" promovido pela cantora moçambicana Selma Uamusse, decorreu no dia 2 de abril em Lisboa e conseguiu angariar cerca de 300 mil euros para as vítimas do Idai. Surfistas e futebolistas em Portugal uniram-se ao movimento de solidariedade em vários eventos. Houve também concertos para angariar fundos em Nampula e no Niassa, no norte de Moçambique.
Foto: Vera Marmelo
Falta de médicos e medicamentos nos hospitais da Beira
Equipas da cruz vermelha trabalham para ajudar sobreviventes. Mas nos postos de saúde da Beira, a cidade mais afetada pelo ciclone Idai, há longas filas de pacientes, todos os dias. Queixam-se da falta de médicos e de medicamentos. A Cruz Vermelha Portuguesa montou um hospital de campanha em Macurungo, que diariamente atende mais de 300 pessoas.
Foto: Reuters/IFRC/RCRC Climate Centre
Sem electricidade
Um mês após o ciclone, a empresa estatal Electricidade de Moçambique (EDM) anunciou que precisa de 106 milhões de euros para a recuperação das infraestruturas destruídas pelo ciclone Idai no centro do país. Mais de 95% dos clientes da EDM nas províncias de Sofala, Manica, Tete e Zambézia ficaram sem energia elétrica.
Foto: Getty Images/AFP/A. Barbier
Ajuda para reconstruir o futuro
Enquanto os moçambicanos tentam reconstruir as suas vidas, a Comissão Europeia anunciou na terça-feira (09.04) uma verba adicional de 12 milhões de euros de ajuda humanitária para as populações afetadas pelo ciclone Idai em Moçambique. Esse país receberá a maior fatia da ajuda (sete milhões de euros), seguido por Zimbabué (quatro milhões) e Malawi (um milhão de euros).