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EducaçãoEuropa

Colonialismo no ensino alemão: quando será obrigatório?

Peter Hille
14 de outubro de 2020

Muitos estudantes alemães não aprendem nada sobre o passado colonial do seu país. Acontecimentos como o genocídio na Namíbia são ensinados apenas se os professores assim o entenderem. Ativistas pretendem mudar isso.

Tansania Park in Hamburg Askari Relief
Memorial "Askari Relief", em Hamburgo, na AlemanhaFoto: picture-alliance/dpa

Durante 30 anos, a Alemanha manteve colónias sob o seu domínio em África e na região oeste do Pacífico, até 1918. Mas os alemães pouco sabem sobre as atrocidades cometidas contra os povos dominados, porque os estudantes pouco ou nada aprendem sobre o passado colonial do seu país. 

Quem foi, por exemplo, Hendrik Witbooi? Se perguntarmos a alunos alemães sobre o herói namibiano, provavelmente haverá olhares confusos. Quase ninguém conhece a história da luta pela liberdade de Witbooi contra o governo colonial na então África Ocidental Alemã, no final do século XIX e início do século XX. O genocídio dos povos herero e nama é desconhecido por muitos.

Hendrik Witbooi fez frente aos colonos alemães

02:02

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A ficha informativa sobre Witbooi, elaborada pela associação alemã "Gemeinsam für Afrika" (Juntos por África), não faz parte do material pedagógico oficial das escolas alemãs.

Atualmente, nos manuais e currículos escolares oficiais, os 30 anos de história do colonialismo alemão em África e no Pacífico ocidental são praticamente negligenciados. Em alguns estados alemães o tema nem sequer é ensinado e só é abordado noutros.

Entender o racismo

Abigail Fugah, cujos pais são do Gana, iniciou uma petição para tornar obrigatório o ensino deste tema nas escolas alemãs. A iniciativa já conta com quase 100 mil assinaturas.

A jovem ativista disse à DW que o que se ensina hoje em dia nas escolas não é suficiente e que se deviam rever os livros didáticos e os currículos escolares.

"Se as crianças negras são consideradas crescidas o suficiente para vivenciar o racismo, então as crianças brancas também têm idade suficiente para aprender sobre este tema", argumenta.

Abigail Fugah conta que, quando era estudante, os professores quase não abordavam nas aulas a história colonial alemã e o racismo na atualidade. Por isso, a jovem foi muitas vezes vítima de comportamentos racistas.

A ativista argumenta que somente aqueles que conhecem o passado colonial podem entender e superar o racismo. 

Ativista Abigail Fugah foi muitas vezes vítima de comportamentos racistasFoto: Privat

Professores rejeitam ideia?

Fugah conta que a sua petição tem tido reações mistas: "Os maiores críticos da petição são os professores”, lamenta, acrescentando que “deveriam ser progressistas, mas não são. Acusam o nosso movimento de negligenciar o facto de que a história colonial já faz parte do currículo escolar. O problema é que não é uma disciplina obrigatória."

O extermínio de seis milhões de judeus no Holocausto e a história da Guerra Fria são temas de grande importância no currículo escolar alemão. Nas aulas de História, estes temas são tão predominantes que resta pouco tempo para abordar outros assuntos.

Motivar alunos

Imke Stahlmann, professora no Colégio Farmsen, em Hamburgo, faz um esforço adicional para ensinar os alunos sobre o período colonial.

"Temos lidado com o tema da história colonial alemã de forma intensa nos últimos 15 anos com os alunos do ensino secundário. Este é um tema extremamente relevante para a compreensão de muitas questões internacionais da atualidade", justifica.

Para esta professora, é essencial esclarecer a conexão entre a história colonial e o racismo – este ano mais do que nunca, depois dos protestos mundiais do movimento “Black lives matter” (vidas negras importam).

Conta que os seus alunos estão motivados para lidar com este desafio, inclusive fora da sala de aula. Stahlmann levou-os ao memorial de guerra Alemanha-África Oriental em Jenfeld, em Hamburgo, onde a história colonial alemã é realmente celebrada em memoriais criados durante a era nazi.

O Askari Relief, por exemplo, mostra os oficiais coloniais como heróis e líderes obedientemente seguidos por soldados locais. "Pensámos na forma como este memorial é tratado", disse Stahlmann. "E os alunos começaram a apresentar propostas alternativas".

Intercâmbio com a Tanzânia

Estudantes alemães e tanzanianos juntaram-se para fazer um filme sobre o passado colonialFoto: Imke Stahlmann

Desde 2018, a escola secundária Farmsen mantém um intercâmbio com a Escola Secundária Chang'ombe, em Dar es Salaam, na Tanzânia.

"Foi muito emocionante perceber que tratamos de temas muito semelhantes nas aulas de História em ambas as escolas, incluindo o imperialismo e a história colonial. Isso deu origem à ideia de que devemos dar aos nossos alunos a oportunidade de trabalhar juntos neste tópico", conta Imke Stahlmann.

Alunos dos dois países trocaram opiniões sobre a sua história comum - inicialmente pela Internet. Depois, tiveram a oportunidade de realizar visitas mútuas e lidar em conjunto com a herança do passado colonial e racismo dos dias de hoje. Em Hamburgo, os estudantes fizeram um filme juntos naquele monumento colonial.

Abigail Fugah e outros ativistas perceberam que nem todas as escolas podem organizar um intercâmbio como este. Mas espera, ainda assim, que todos os estudantes na Alemanha possam aprender sobre a história colonial do país.

A ativista está pronta para contribuir: está a preparar-se para oferecer formação antirracismo nas escolas.

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