Educação, turismo e protecção do meio ambiente são áreas a apostar em São Tomé e Príncipe. A garantia é dada pelo novo embaixador alemão no arquipélago, Burkhard Ducoffre, em entrevista à DW África.
Publicidade
O novo embaixador da Alemanha em São Tomé e Príncipe quer estreitar os laços de cooperação e amizade entre os dois países. E uma das áreas-chave é a educação. Um centro de formação de língua alemã está a funcionar há um ano na Universidade pública de São Tomé e Príncipe. Agora, a ideia é alargar a oferta de formação.
"É do nosso interesse expandir a língua alemã pelo mundo fora", afirma Burkhard Ducoffre. "Na visita que fiz à escola germânica foi avançada a ideia de não haver só aulas de alemão, mas também promover uma formação específica na área de hotelaria".
Alemanha quer reforçar cooperação com São Tomé e Príncipe
O embaixador lembra que o arquipélago lusófono tem grandes potencialidades turísticas.
Nos últimos anos, São Tomé e Príncipe tem participado na Feira Internacional de Turismo de Berlim para atrair mais turistas alemães - daí também a aposta no ensino de alemão.
"São Tomé procura desenvolver a área do turismo. E, nessa área, as línguas são importantes para que os turistas sejam também recebidos na sua língua materna", afirma Burkhard Ducoffre.
Interesses em comum
A Alemanha e São Tomé e Príncipe cooperam desde a independência em 1975. Burkard Ducoffre sublinha que os dois países têm interesses em comum, como "o empenho na protecção do meio ambiente".
Recentemente, o Governo de São Tomé e Príncipe assinou um acordo com a União Europeia (UE) no âmbito da proteção do meio ambiente e proteção da água.
"Enquanto embaixador, fico contente por, juntamente com o Governo são-tomense, poder discutir nos próximos tempos mais oportunidades de intensificar a cooperação entre São Tomé e Príncipe e a Alemanha", revela Burkard Ducoffre.
Em janeiro, a UE disponibilizou 6 milhões e 750 mil euros para financiar o programa de apoio à melhoria da produção das culturas de exportação como o cacau, café, baunilha e pimenta, para a criação de um sistema de indicação geográfica nacional e para o reforço das áreas de pesquisa e serviços estatísticos. E em fevereiro, São Tomé e Príncipe recebeu mais 3,5 milhões de euros para financiar projetos de infra-estruturas.
Cacau: semente do desenvolvimento de São Tomé
Após a nacionalização das fazendas de cacau, as roças, em 30 de setembro de 1975, a produção diminuiu. Hoje, as roças voltaram a ser privadas e há esperanças que contribuam novamente para o desenvolvimento do país.
Foto: DW/R. Graça
Trabalho na roça começa cedo
Antes do sol penetrar na mata da Roça Olivais Marim, na zona sul de São Tomé, os poucos agricultores já trabalham nas plantações de cacau - principal produto de exportação do país. Após a nacionalização das roças, em 30 de setembro de 1975, a produção diminuiu. A exportação do cacau não passou de 12.000 toneladas/ano. Nos anos 80, a exportação baixou ainda mais, para 3.000 toneladas.
Foto: DW/R. Graça
Má gestão levou a êxodo rural
A nacionalização das fazendas em 1975 deu origem à formação de 15 grandes empresas estatais, que entraram em declínio. A queda da produção do cacau abriu o caminho às privatizações nos anos 90. Porém, muitas terras continuaram improdutivas e iniciou-se um êxodo rural das populações nas zonas das roças. Agora, 2.500 hectares de terras estão a ser desbravadas e reaproveitadas.
Foto: DW/R. Graça
Clima ideal
Agricultora prepara viveiros para reabilitar as plantações abandonadas da Roça Granja. São Tomé e Príncipe possui as condições climáticas favoráveis ao cultivo do cacau: terras de origem vulcânica, solo fértil e boa temperatura. Estatísticas do período colonial revelam que, com apenas 15 unidades agroindustriais numa área de 60 mil hectares, os portugueses chegaram a produzir 36.000 toneladas/ano.
Foto: DW/R. Graça
Raízes brasileiras
Em São Tomé e Príncipe, a cultura do cacau começou na Ilha do Príncipe. Os primeiros cacaueiros, plantados pelos colonos portugueses em 1822, vieram do Brasil. No século XIX, durante o "Ciclo do Cacau", por falta de mão de obra local, os portugueses contrataram trabalhadores de outras colónias africanas – como Angola, Cabo Verde e Moçambique. Muitos tiveram que trabalhar sob condições desumanas.
Foto: DW/R. Graça
Produção biológica de cacau
No interior da Roça Santa Luzia, na Ilha de São Tomé, os tratores adquiridos pela Cooperativa de Exportação do Cacau Biológico (CECAB) regam os viveiros nas parcelas dos agricultores. O cacau é ideal para a produção biológica, pois cresce sob árvores de outras espécies – o que conserva uma maior biodiversidade em comparação com monoculturas de outras plantas como a soja.
Foto: DW/R. Graça
De olho no mercado internacional
O cacau amelonado, variedade proveniente da Amazônia, foi o primeiro a chegar ao arquipélago de São Tomé e Príncipe. Este tipo de cacau é muito procurado no mercado internacional por ter características genéticas de qualidade superior a outras variantes de cacau.
Foto: DW/R. Graça
Recuperação de outras variedades
Produtores de cacau tipo exportação estão a recuperar outras variedades, como o cacau híbrido. O cacaueiro tem folhas longas que nascem avermelhadas e logo ficam de um verde intenso, medindo até 30 centímetros. Seus frutos também podem medir até 30 centímetros de comprimento, apresentando coloração verde, vermelha ou amarronzada e que tendem ao amarelo quando amadurecido o fruto.
Foto: DW/R. Graça
Secagem depois da colheita
A seguir à colheita da fruta dos cacaueiros, é preciso secá-la. No caso da Roça Morro Peixe, a secagem é feita com uso da energia solar natural. Um secador solar construído de madeira e coberto de plástico garante uma boa temperatura para a secagem do cacau, antes de ser embalado.
Foto: DW/R. Graça
Trabalho minucioso
Descendentes de cabo-verdianos, no interior do secador da Roça Santa Margarida, separam o cacau na peneira. Um trabalho minucioso que antecede a embalagem. Estas trabalhadoras fazem parte dos poucos agricultores que resistiram ao êxodo rural em São Tomé e Príncipe. Já no período colonial, uma boa parte da mão de obra das roças veio de Cabo Verde, outra colónia portuguesa.
Foto: DW/R. Graça
Embalar e despachar para a Europa
O último passo antes do processamento e da exportação do cacau é a sua embalagem em sacos. Uma boa parte da produção de cacau de São Tome e Príncipe é exportada para a Europa – principalmente para a França e a Suíça, os dois principais mercados consumidores do cacau de excelência e de fama internacional reconhecida.