Alemanha segue de perto as eleições na Nigéria
25 de fevereiro de 2023Muita coisa está em jogo neste sábado, 25 de fevereiro, e não apenas para os 211 milhões de nigeriano. O mundo está atento às eleições na Nigéria e aguarda quem sairá vencedor. Isto porque a Nigéria não é um país qualquer, mas "uma voz que tem peso internacional", como a ministra dos Negócios Estrangeiros alemã Annalena Baerbock afirmou no ano passado.
A Nigéria é a maior economia e o país mais populoso de África, e tem cada vez mais influência. Por exemplo, na forma como a União Africana (UA) se posiciona sobre questões internacionais - quer se trate da guerra da Rússia contra a Ucrânia ou das alterações climáticas.
"Queremos trabalhar mais estreitamente com este importante parceiro", disse Baerbock antes da sua viagem à Nigéria em dezembro de 2022.
Os observadores acreditam que se isto vai ou não acontecer, depende de como decorrerem as eleições.
"É a primeira vez que estamos a realizar eleições num estado de incerteza geral. A integridade territorial da Nigéria está em jogo", diz Nkwachukwu Orji, da Universidade da Nigéria.
Separatistas e bandos criminosos no sul, conflitos sangrentos entre agricultores e pastores no centro e terrorismo no norte mergulharam grandes partes do país no caos.
Tensões crescentes
Os observadores políticos em Berlim e noutras capitais europeias receiam que a situação se deteriore ainda mais. As eleições anteriores levaram a surtos de violência, embora a situação de segurança fosse melhor nessa altura. Estas eleições estão a ser muito contestadas porque o Presidente nigeriano Muhammadu Buhari não pode concorrer novamente após cumprir dois mandatos.
Três candidatos presidenciais tentam suceder-lhe. Para além de Bola Tinubu, do partido no poder Congresso de Todos os Progressistas, e do antigo vice-Presidente Atiku Abubakar, do Partido Democrático Popular - dois partidos que têm dominado a política da Nigéria desde os anos 90 - há outro forte candidato: Peter Obi, empresário milionário do Partido Trabalhista, um candidato particularmente popular entre os eleitores mais jovens.
Os doadores ocidentais estão preocupados que o resultado das eleições possa levar à violência ou a longas disputas sobre o vencedor, enfraquecendo o papel de liderança da Nigéria em África. Mas não é necessário chegar a esse ponto.
"O resultado das eleições na Nigéria é difícil de prever. Várias vezes na história da Nigéria houve receios de violência após uma eleição, e nada aconteceu", avalia Lynda Iroulo, da Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos. O então Presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, que renunciou pacificamente ao poder após a sua derrota em 2015, é um exemplo.
Países ocidentais preocupados com a emigração
Mas se as coisas correrem mal desta vez, ou se o novo Governo não conseguir administrar os problemas da Nigéria, haverá consequências adicionais para os países ocidentais.
"Haverá enormes problemas em torno da migração, porque as pessoas já estão de partida. Os nigerianos estão a deixar o país está em grupos por causa da descrença na capacidade do país em cuidar do seu povo", diz o Orji.
A incerteza tem deixado parceiros como a Alemanha inquietos.
Durante muito tempo, a Nigéria esteve entre os 10 principais países de origem dos requerentes de asilo na Alemanha. E a Alemanha tem pressionado a Nigéria a abrandar a emigração e a facilitar o regresso mais rápido dos requerentes de asilo rejeitados.
A questão esteve sempre no centro das conversações bilaterais entre a ex-chanceler Angela Merkel e o Presidente Buhari.
O resultado das eleições de 2023 poderia também ter um impacto na cooperação futura em matéria de migração.
"Peter Obi é o único dos três candidatos que não só prometeu relações mais estreitas com países estrangeiros, mas também quer mudar a forma como os nigerianos são tratados nos países ocidentais", explica Iroulo.
Nesta perspetiva, um Governo Obi poderia exigir, por exemplo, que a Alemanha facilitasse a concessão de vistos aos cidadãos nigerianos - algo que Berlim dificilmente aceitaria.
Um parceiro comercial importante para a Alemanha
A comunidade empresarial alemã aguarda com expetativa a próxima mudança de poder na Nigéria, independentemente de quem ganhe a corrida.
"Todos os candidatos na corrida são mais favoráveis aos negócios do que o atual Governo", afirma Christoph Kannengiesser, da Associação Empresarial Alemanha-África.
Ele vê potencial para uma cooperação mais estreita. A Nigéria é o segundo parceiro comercial mais importante para as empresas alemãs na África subsaariana, depois da África do Sul. "A Nigéria é um mercado difícil, mas interessante para as empresas alemãs", avalia Kannengiesser.
Os políticos e investidores estão especialmente interessados em desenvolver a cooperação no domínio das energias renováveis. A Alemanha quer atingir a neutralidade climática até 2045. Para atingir esse objetivo, necessita urgentemente de hidrogénio verde, que a Nigéria também poderia fornecer. O Governo alemão abriu um gabinete de ligação em Abuja ainda em 2021.
Kannengiesser instou Berlim a convidar rapidamente a recém-eleita liderança nigeriana para a Alemanha e a enviar rapidamente os seus mais altos representantes a Abuja. Se tudo permanecer pacífico e um resultado credível emergir da votação, é provável que o Governo alemão concorde com esta proposta.