Alemanha: SPD aprova coligação e garante mandato de Merkel
EFE | DPA | Lusa | AFP | Reuters | tms
4 de março de 2018
66% dos votantes disseram "sim" à coligação para um novo Governo liderado por Angela Merkel, que iniciará o seu quarto mandato, mais de cinco meses após as eleições.
Publicidade
Os militantes do Partido Social-Democrata alemão aprovaram, este domingo (04.03), o acordo com a União Democrata-Cristã (CDU), liderado pela chanceler Angela Merkel. A decisão garante a formação de um Governo de coligação na Alemanha e o quarto mandato consecutivo de Merkel, a partir de 14 de março, segundo confirmou a direção dos sociais-democratas.
Na votação interna do SPD, o "sim" à coligação com Merkel obteve 238.604 (66,02%) votos, enquanto o "não" alcançou 123.329 (33,98%). No total, 78,8% dos mais de 460 mil militantes do partido votaram – número superior ao obtido no referendo de há quatro anos, quando o SPD consultou os seus militantes a respeito de uma grande coligação.
O líder dos sociais-democratas, Olaf Scholz, disse que o resultado é uma "luz verde" para o partido entrar numa nova coligação com o Governo de Angela Merkel. "Os militantes apoiaram maioritariamente a opção da direção [do partido]", ressaltou.
"Informei o Presidente [Frank-Walter Steinmeier] e a chanceler [Angela Merkel] sobre os resultados", acrescentou Olaf Scholz, salientando que a "força" do partido vai entrar agora no Executivo para iniciar, paralelamente, o processo de renovação proposto pela direção.
Segundo Scholz, na próxima semana o SPD deverá divulgar os nomes dos seis ministros que participarão do novo Governo, sendo três homens e três mulheres.
CDU celebra o "sim" do SPD
A chanceler Angela Merkel elogiou, neste domingo, o "claro resultado" da militância social-democrata, "Parabenizo o SPD por este claro resultado e me alegro de poder prosseguir com a colaboração para o bem do nosso país", disse Merkel na conta do Twitter da CDU.
A secretária-geral da CDU, Annegret Kramp-Karrenbauer, celebrou também o resultado da consulta entre os sociais-democratas. "É uma boa decisão para o SPD e, sobretudo, para o nosso país".
Para Annegret Kramp-Karrenbauer, o SPD assume assim sua "responsabilidade" institucional num "Governo conjunto" que tem perante si "muito trabalho que deve realizar rapidamente", acrescentando que "agora é o momento de trabalhar para tornar isso realidade".
Definição na política alemã
É a primeira vez que a Alemanha fica tanto tempo sem Governo após uma eleição legislativa. Depois do resultado da votação de 24 de setembro, a chanceler tentou formar diferentes coligações – primeiro com os Verdes e os liberais, a chamada "Jamaica", e depois com os sociais-democratas –, no entanto, sem sucesso.
Um acordo entre a CDU e o SPD deu abertura a mais uma negociação. Este documento, porém, precisava ser aprovado pelos militantes do partido. Sem o aval dos sociais-democratas, a formação de um novo Executivo, sob a direção de Merkel, não seria possível.
Críticas à nova coligação
Entretanto, o líder da juventude do SPD, Kevin Kühnert, disse estar "dececionado" com a derrota do "não". "Fomos para ganhar. Perdemos. Daí a deceção. A crítica à grande coligação, porém, mantém-se. O SPD deve ser mais como nas últimas semanas e menos como nos últimos anos. Disso os jovens vão se ocupar. Não haverá renovação sem nós. Começaremos amanhã", declarou Kühnert no Twitter.
De acordo com o crítico da coligação, "os jovens vão seguir à lupa o que faz o Governo". "Exigiremos que haja novamente debate político", afirmou, referindo que as seis pastas governamentais atribuídas ao SPD, entre elas os Negócios Estrangeiros e as Finanças, devem ser abarcadas pela renovação.
Com a nova coligação entre CDU e SPD, o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) passa a ser a maior grupo parlamentar da oposição. A líder do AfD, Alice Weidel, prometeu que as consequências da nova coligação "virão mais tardar em 2021".
Chefes de Governo da Alemanha: de Adenauer a Merkel
Desde 1949, a Alemanha teve oito chanceleres: sete homens e uma mulher. A chanceler atual, Angela Merkel, conseguiu um quarto mandato nas eleições legislativas de setembro de 2017.
Foto: picture-alliance-dpa/O. Dietze
Konrad Adenauer (CDU), 1949-1963
A eleição de Konrad Adenauer do partido democrata-cristão CDU como primeiro chefe de Governo da Alemanha, em 15 de setembro de 1949, marcou o início de um longo processo de reestruturação política no país. Reeleito em 1953, 1957 e 1961, renunciou ao cargo apenas aos 87 anos de idade, em 1963. Fortaleceu a aliança com os Estados Unidos da América. Na foto: no seu escritório em Bona.
Foto: picture-alliance/akg-images
Ludwig Erhard (CDU), 1963-1966
O segundo chanceler da Alemanha também pertenceu à CDU, mas esteve apenas três anos no Governo. Erhard renunciou devido ao rompimento da coligação com o partido liberal FDP. Mesmo assim, participou de forma ativa da reforma monetária alemã do pós-guerra. O fumador convicto ficou famoso como "pai" da economia social de mercado ("Soziale Marktwirtschaft") e do milagre económico alemão.
Foto: picture-alliance/dpa
Kurt Georg Kiesinger (CDU), 1966-1969
Foi eleito por uma grande coligação dos dois partidos CDU e SPD (de esquerda). O seu Governo teve que combater uma crise económica. Kiesinger foi duramente criticado pelo seu passado como membro ativo do partido nacional-socialista NSDAP durante a ditadura fascista na Alemanha. Com a ausência de uma oposição forte no Parlamento, formou-se em 1968 um movimento de protesto estudantil na Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa
Willy Brandt (SPD), 1969-1974
A onda de protestos teve reflexos nas eleições: Willy Brandt tornou-se no primeiro chanceler social-democrata no pós-guerra. Melhorou as relações com os países comunistas do leste. Durante uma visita à Polónia, ajoelhou-se no monumento pelas vítimas do nazismo no Gueto de Varsóvia. Gesto que ficou famoso como pedido de desculpas. Renunciou ao cargo em consequência de um caso de espionagem.
Foto: picture-alliance/dpa
Helmut Schmidt (SPD), 1974-1982
Após a renúncia de Brandt, Helmut Schmidt prestou juramento como chanceler. O social-democrata teve de combater o terrorismo do grupo extremista de esquerda RAF. Negou negociar com os terroristas alemães. Enfrentou a oposição por causa do estacionamento de mísseis nucleares dos EUA na Alemanha. Depois da saída do Governo do parceiro FDP (liberais), perdeu um voto de confiança no Parlamento.
Foto: picture-alliance/dpa
Helmut Kohl (CDU), 1982-1998
Helmut Kohl formou uma nova coligação centro-direita com os liberais. Ficou 16 anos no poder, um recorde. Ficou famoso pela sua teimosia e por não gostar de reformas. Depois da queda do Muro de Berlim, Kohl consegui reunificar as duas Alemanhas, a RFA ocidental e a RDA oriental. Ficou conhecido como "chanceler da reunificação". T ambém é lembrado pelo seu empenho na construção da União Europeia.
Foto: imago/imagebroker
Gerhard Schröder (SPD), 1998-2005
Depois de quatro mandatos de Kohl, o desejo de mudança aumentou. Gerhard Schröder foi eleito primeiro chanceler de uma coligação de esquerda entre o SPD e os Verdes. Durante o seu Governo, o exército alemão, Bundeswehr, teve as primeiras missões no estrangeiro com a participação na guerra no Afeganistão. Reduziu os subsídios sociais, medida que foi criticada dentro do seu partido social-democrata.
Foto: picture-alliance/dpa
Angela Merkel (CDU), desde 2005
Em 2005, Merkel é eleita como primeira mulher na chefia do Governo alemão. Durante o primeiro e terceiro mandato, governou numa grande coligação com o SPD, no segundo mandato numa coligação de centro-direita com os liberais do FDP. Merkel é conhecida pelo estilo pragmático de liderança. Durante a crise financeira, assumiu um papel de liderança na UE. Em 2017, conseguiu o seu quarto mandato.