Alemanha vai a votos para eleger sucessor de Merkel
26 de setembro de 2021A votação começou em toda a Alemanha às 8h da manhã deste domingo, 26 de setembro. Os cerca de 60,4 milhões de eleitores têm até às 18h locais para votar nos seus candidatos nestas eleições históricas, que marcam o fim da era de Angela Merkel.
No entanto, estima-se que, especialmente por causa da pandemia de Covid-19, mais de metade dos eleitores já tenha optado pelo voto por correio, inclusive a chanceler Angela Merkel. Se os números se confirmarem, é um novo recorde.
O Presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, apelou hoje ao voto, lembrando que este é o momento em que se decide o rumo do país para os próximos quatro anos e que "quem vota vive a democracia".
O Chefe de Estado chegou ao colégio eleitoral no distrito de Dahlem, em Berlim, por volta das 9h locais e, depois de votar, sublinhou que "quem vota vive a democracia".
"A democracia vive da participação. Quem participa é ouvido. Quem não vota, deixa que os outros decidam por eles", disse em declarações aos jornalistas, repetindo a ideia já partilhada no artigo que publicou no jornal Bild.
"Um dia muito bonito"
O candidato a chanceler do Partido Social-Democrata (SPD), Olaf Scholz, que lidera ligeiramente as pesquisas, votou às 10h na secção de voto de Dortu, centro da cidade de Potsdam, capital do Estado de Brandeburgo, nos arredores de Berlim, com sorrisos e saudações aos eleitores locais.
Scholz, atual vice-chanceler e ministro das Finanças, votou acompanhado da mulher, Brita Ernest, que pertence ao executivo do Estado de Brandenburg pelo SPD, sendo responsável pela pasta da Educação.
Olaf Scholzfalou aos repórteres depois de ter votado: "Hoje está um dia muito bonito, o tempo já é um sinal muito bom".
"E agora espero que o maior número possível de cidadãos vá às urnas, vote e torne possível o que se tornou aparente, nomeadamente que haverá um resultado muito forte para os social-democratas e que os cidadãos me deem o mandato para me tornar o próximo chanceler da República Federal da Alemanha", acrescentou o candidato a chanceler do SPD.
O voto do candidato da CDU
Em Aachen, no oeste alemão, o líder dos democratas-cristãos Armin Laschet também votou logo pela manhã. Depois de votar, disse que a próxima paragem era Berlim e apelou a todos os eleitores para irem às urnas, porque o resultado "descerá a cada votação".
"É um dia excitante", disse ele aos repórteres fora da mesa de voto. "É um dia em que os eleitores falam, não os políticos", acrescentou.
Depois de ter sido eleito chefe da União Democrata Cristã (CDU), partido de Merkel, Laschet foi durante algum tempo o favorito claro para se tornar o próximo chanceler da Alemanha.
Apesar disso, a sua campanha eleitoral foi marcada por gafes e as pesquisas recentes mostraram a CDU e o seu partido irmão bávaro, a União Social Cristã (CSU), atrás dos social-democratas.
A chanceler Angela Merkel tentou manter-se fora da disputa eleitoral. Mas, com o feaco desempenho do seu partido, ela abraçou a campanha na reta final, na esperança de aumentar as chances do seu pretenso sucessor.
Apelo dos Verdes
A candidata do Partido Verde, Annalena Baerbock, que aparece em terceiro nas pesquisas, usou o Twitter para exortar os eleitores a exercerem o seu direito democrático.
"Viver em democracia significa ter uma escolha. É sobre todos os nossos futuros", escreveu Baerbock.
Sistema eleitoral alemão
A Alemanha tem um sistema distrital misto e cada eleitor dispõe de dois votos. No primeiro, o voto é direto e escolhe-se um candidato do distrito e é escolhido quem conseguir mais votos, sendo que cada partido tem direito a um nome por distrito ou zona eleitoral.
No segundo voto, a decisão recai num partido e o eleitor escolhe uma lista com candidatos definida por uma das forças políticas aptas a concorrer no seu estado federal. Este segundo voto determina o tamanho das bancadas no Parlamento alemão.
Isto é, se um partido tiver elegido, no primeiro voto, mais representantes do que teria direito pelo segundo voto, o número total de deputados do Parlamento é aumentado até que a proporcionalidade seja alcançada. O número mínimo de deputados equivale ao dobro do número de distritos, ou seja 598.
O atual Parlamento tem 709 deputados. Para que um partido tenha uma bancada, necessita de obter, no mínimo 5% dos votos válidos no segundo voto, ou eleger pelo menos três deputados no primeiro voto, mas nenhum deputado, eleito diretamente, fica de fora, caso o partido não tenha chegado aos 5%.
São sete os partidos com representação no Bundestag: a União Democrata Cristã (CDU) e a União Social Cristã (CSU), que partilham a mesma bancada, o Partido Social Democrata alemão (SPD), os Verdes, a Esquerda, o Partido Liberal Democrático (FDP) e a Alternativa para a Alemanha (AfD), pertencendo 10 cadeiras do parlamento a deputados sem partido.
Quem será o próximo chanceler?
O chanceler é escolhido por votação indireta, isto é, os nomes indicados pelos partidos servem apenas para dizer que, caso vençam, aquele será o escolhido.
Nos principais partidos, Olaf Scholz, atual vice-chanceler e ministro das Finanças, é o candidato pelo SPD. Armin Laschet, ministro-presidente da Renânia do Norte-Vestefália, é o candidato da CDU. Os Verdes escolheram um nome pela primeira vez, a co-líder Annalena Baerbock.
Scholz foi o primeiro a apresentar-se como candidato, e, nesta altura, lidera as sondagens, mas de acordo com os vários estudos divulgados, nenhum partido deverá conseguir a maioria necessária para governo, sendo necessária uma coligação.
Entre algumas das formações possíveis estão as coligações "Semáforo" (Ampelkoalition), com o SPD, Verdes e Liberais, "Jamaica", com a CDU, os Verdes e os Liberais, "Quénia", com a CDU/CSU, SPD e Verdes, ou uma coligação de esquerda, com o SPD, Verdes e a Esquerda.
As negociações não têm prazo limite para terminar, sendo, até lá, nomeado um governo de gestão. Vários analistas acreditam que Angela Merkel ainda deverá fazer o habitual discurso de Natal na Alemanha.