Corte no apoio financeiro de Berlim às organizações não-governamentais que resgatam civis no Mediterrâneo suscitou alertas sobre o agravamento da crise humanitária.
O Sea Eye 4 é um dos navios alemães que operam no MediterrâneoFoto: Alberto Lo Bianco/La Presse/AP/picture alliance
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O ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Johann Wadephul, defendeu esta quinta-feira (26.06) a decisão do Governo de suspender o apoio financeiro às organizações civis de salvamento marítimo que operam no Mar Mediterrâneo.
A decisão foi considerada "dramática" pelo partido da oposição Os Verdes, que alertou para o possível agravamento da crise humanitária no Mediterrâneo.
O que disse Berlim?
Falando numa conferência de imprensa no Canadá, Johann Wadephul disse que o fim do financiamento tinha sido "a decisão correta a tomar".
"A Alemanha continua comprometida com a humanidade e sempre estará", disse o ministro. "Mas não creio que seja da competência do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) utilizar fundos para este tipo de salvamento marítimo", acrescentou.
"Temos de estar ativos onde a necessidade é maior", acrescentou, mencionando a emergência humanitária no Sudão, devastado pela guerra.
Na quarta-feira (25.06), o MNE da Alemanha disse que não tinham sido previstas verbas para grupos de salvamento de migrantes nos novos planos orçamentais do ministro das Finanças, Lars Klingbeil.
Parlamento Europeu aprova nova política migratória
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Na anterior coligação, o Ministério dos Negócios Estrangeiros, então liderado por Annalena Baerbock, do partido Os Verdes, tinha dado um apoio financeiro significativo às organizações não-governamentais (ONG) envolvidas no salvamento de migrantes que tentam chegar à Europa provenientes de África.
O financiamento suscitou críticas dos democratas-cristãos de centro-direita de Friedrich Merz, que tomou posse como chanceler em maio e prometeu endurecer a política de imigração. A anterior política gerou também tensões com a Itália, onde desembarcam muitos dos imigrantes resgatados.
De acordo com uma fonte do MNE, o governo alemão deu 2 milhões de euros no ano passado a organizações como a SOS Humanity, Sea-Eye e SOS Mediterrâneo para apoiar as operações de salvamento de migrantes em perigo.
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Que críticas foram feitas?
Gorden Isler, presidente da organização alemã de salvamento marítimo Sea-Eye, classificou esta mudança de política como um "sinal catastrófico".
"Talvez agora tenhamos de ficar no porto apesar das emergências", afirmou.
As ONG que se dedidam ao resgate de migrantes salvaram 175 mil vidas desde 2015, de acordo com a Sea-Eye, que recebeu cerca de 10% do seu rendimento total de cerca de 3,2 milhões de euros do Governo alemão.
Os Verdes também criticaram a decisão. "Esta medida irá certamente agravar a crise humanitária no Mediterrâneo e causar mais sofrimento humano", afirmou a líder do grupo parlamentar do partido, Britta Hasselmann, na quarta-feira (25.06).
A bordo de um navio militar alemão no Mediterrâneo
O "Frankfurt am Main" navega nas águas do Mar Mediterrâneo desde janeiro. Auxilia no resgate de refugiados a caminho da Europa e serve de apoio a outros navios. A DW África viajou na embarcação.
Foto: DW/D. Pelz
Missão delicada
O maior navio da Marinha alemã, o "Frankfurt am Main", prepara-se para levantar âncora. Os militares têm em mãos uma missão delicada no Mar Mediterrâneo, no âmbito da operação naval europeia "Sofia": travar a migração ilegal para a Europa, apanhar os "passadores" e resgatar os refugiados que naufragam.
Foto: DW/D. Pelz
Visão periférica
O navio funciona 24 sobre 24 horas. Os militares revezam-se nos turnos. Na ponte de comando, monitorizam o mar envolvente com a ajuda do radar. Os objetos que aparecem no monitor não são só embarcações de refugiados. Há muitos navios comerciais e de cruzeiro que navegam no Mediterrâneo. O "Frankfurt am Main" cruza-se também frequentemente com outras embarcações da operação "Sofia".
Foto: DW/D. Pelz
Saúde a bordo
O mar está demasiado agitado - os refugiados não se costumam fazer ao Mediterrâneo com este tempo. A tripulação dedica-se, por isso, a outras tarefas. A paramédica Shanice S. conduz um teste auditivo de rotina a um soldado. Os tripulantes fazem exames médicos regularmente. É possível inclusive realizar operações no hospital de bordo. Também há um dentista no navio.
Foto: DW/D. Pelz
Médicos, padeiros e padre a bordo…
Andreas Schmekel (à dir.) comanda mais de 200 pessoas no navio. A bordo seguem marinheiros, médicos, cozinheiros, padeiros e um padre. A maioria dos tripulantes passa vários meses no navio.
Foto: DW/D. Pelz
Sempre alerta
Os tripulantes têm de estar preparados para resgatar refugiados que entrem em apuros. Por isso, o técnico Jan S. testa as lâmpadas num dos contentores na proa. É para aqui que os refugiados são levados inicialmente. É aqui que são revistados pelos militares e que se avalia o seu estado de saúde. Quando centenas de refugiados sobem a bordo ao mesmo tempo, o processo pode demorar um dia inteiro.
Foto: DW/D. Pelz
Dia-a-dia dos militares
Se não há náufragos a bordo, os militares continuam os seus treinos regulares, incluindo de tiro, mesmo que a missão no Mediterrâneo não preveja o uso de armas de fogo. Também são testados o combate a incêndios ou a prontidão da resposta face a possíveis vazamentos no navio. Em caso de emergência, cada decisão e gesto é crucial.
Foto: DW/D. Pelz
Tudo em ordem e pratos limpos
Além dos turnos de vigia e dos treinos também é preciso limpar o navio e preparar a comida. Todos os dias, durante uma hora, os militares limpam todos os quatro cantos do navio - desde a bússola aos corrimões. Sobra pouco tempo livre.
Foto: DW/D. Pelz
Visita de vizinhos
Os vizinhos também fazem visitas no Mar Mediterrâneo. A fragata alemã "Karlsruhe" e o porta-aviões italiano "Cavour" realizam um exercício em conjunto com o navio "Frankfurt am Main". É preciso concentração máxima ao leme. Esta é uma manobra difícil.
Foto: DW/D. Pelz
Um armazém flutuante
O "Frankfurt am Main" costuma servir de apoio a embarcações mais pequenas, fornecendo combustível e água. Feridos podem ser tratados no hospital de bordo. Agora, uma parte do navio é utilizada para acolher refugiados que naufragam e que são, depois, transportados para o porto mais próximo ou transferidos para outro navio.
Foto: DW/D. Pelz
Posto de gasolina em alto mar
A fragata espanhola "Numancia" abastece no "Frankfurt am Main". É uma manobra complicada pois as embarcações navegam a uma velocidade de 20 km/h. Os navios têm de se manter à mesma distância durante a operação. Abastecer em alto mar chega a durar mais de uma hora.
Foto: DW/D. Pelz
Saudades
Este placard serve de motivação aos marinheiros, indicando os dias que faltam para o regresso a casa. Em alto mar os telemóveis não têm rede. Mas, a cada duas semanas, o navio atraca num porto do Mediterrâneo – é uma oportunidade para reabastecer a embarcação e dar aos militares a oportunidade de se recuperarem da vida a bordo.