Alerta: Previsão de tempestade severa no norte de Moçambique
Sitoi Lutxeque (Nampula)
23 de abril de 2019
Região norte de Moçambique poderá ser afetada por uma tempestade tropical severa. Autoridades e organizações não-governamentais pedem às famílias para abandonarem locais considerados de risco.
Publicidade
Depois do ciclone Idai, que fustigou o centro de Moçambique há pouco mais de um mês, prevê-se agora que uma tempestade tropical severa atinja em breve a região norte do país. Os cidadãos estão a tomar medidas de precaução, mas temem muitos danos, como aconteceu com o Idai.
"Estou assustado com essa previsão de 150km/h. É uma velocidade assustadora. Se assim acontecer, esperamos muitos danos", afirmou o cidadão Francisco Ramos.
Alerta: Tempestade tropical ameaça norte de Moçambique
Segundo um comunicado do Instituto Nacional de Meteorologia, divulgado na segunda-feira (22.04), "formou-se um sistema de baixas pressões a norte de Madagáscar", que poderá resultar numa "tempestade tropical severa ao aproximar-se da costa norte de Moçambique", afetando a região norte de Cabo Delgado e o sul da Tanzânia.
Os distritos costeiros de Nacala-Porto e Nacala-A-Velha, na província de Nampula, também deverão ser severamente atingidos.
Aviso a famílias em locais de risco
O Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) em Nampula diz ter enviado uma equipa multissectorial para sensibilizar as famílias a abandonarem os locais considerados de risco.
"A equipa multissetorial foi trabalhar em Nacala-Porto e Nacala-A-Velha no sentido de verificar, no terreno, as zonas potencialmente perigosas. Com base nessa informação [da equipa], vamos passar a disseminar informações a nível das rádios locais", disse o delegado provincial do INGC, Alberto Armando.
Armando assegura ainda que a instituição tem mantimentos para ajudar possíveis vítimas, pelo menos nos primeiros três dias. Além disso, o INGC conta "com algumas igrejas e salas de aulas para serem usadas como abrigos temporários, enquanto se faz uma mobilização de tendas para o efeito."
A Cruz Vermelha de Moçambique garante que está preparada. De acordo com José Miguel, secretário provincial da organização em Nampula, foram destacados 100 ativistas para alertar a população.
"A primeira prioridade será sensibilizar aquelas comunidades que estão nas zonas de risco de inundações e propensas a erosão, não deixando de sensibilizar o resto da comunidade nos distritos de Nacala-Porto e Nacala-A-Velha", disse.
As autoridades de gestão de calamidades renovam o apelo às populações em zonas de risco para começarem a abandonar esses sítios, como forma de evitar o pior.
Ciclone Idai: Um mês após a tragédia
O ciclone Idai já é uma das maiores tragédias da história de Moçambique. Atingiu a cidade da Beira a 14 de março, seguindo para oeste, em direção ao Zimbabué e ao Malawi, e a afetar milhões de pessoas.
Foto: Reuters/M. Hutchings
Depois do ciclone, ruínas
Na cidade da Beira, Ester Thoma caminha com o filho junto às ruínas da sua antiga casa, que foi quase completamente destruída pelo ciclone Idai. A cidade foi uma das mais afetadas pela passagem do ciclone, a 14 de março de 2019. Uma catástrofe que deixou um rasto de destruição e que já é uma das maiores tragédias da história do país.
Foto: Reuters/Z. Bensemra
O ciclone Idai visto pela NASA
Esta imagem de satélite foi feita pela NASA e mostra a aproximação do ciclone Idai à costa dos países africanos. "A situação é terrível, a magnitude da devastação é enorme", disse na ocasião o líder da equipa de avaliação da Cruz Vermelha na Beira, Jamie LeSueur.
Foto: NASA
Crise humanitária sem precedentes
Em Moçambique, o ciclone Idai afetou mais de 1,5 milhões de pessoas, segundo o mais recente balanço. Deixou pelo menos 602 mortos e 1.641 feridos. A 27 de março, as autoridades do país declararam um surto de cólera. Isso porque, após a passagem do ciclone, a 14 março, seguiram-se chuvas intensas e inundações.
Foto: Reuters/S. Sibeko
Moisés, o bebé que nasceu em cima de uma árvore
Enquanto Moçambique avaliava os estragos do ciclone Idai, em toda a província de Sofala, cerca de 5 mil pessoas esperavam por socorro em cima de árvores e tetos de casas. Em Búzi, um dos distritos mais afetados pelo Idai, um bebé, que recebeu o nome de Moisés, nasceu em cima de uma árvore. Como a personagem bíblica, este Moisés também foi salvo das águas.
Foto: DW
Cheias em Tete
Em Tete, as cheias que seguiram à passagem do ciclone afetaram pelo menos 900 famílias. Dessas, cerca de 600 foram acolhidas no centro de acomodação do Instituto Industrial e Comercial de Matundo. Entretanto, as dificuldades foram enormes. Com a falta de tendas, as famílias juntavam os seus pertences debaixo de árvores.
Foto: DW/A. Zacarias
OMS contra a cólera
Uma mulher vítima de cólera é transportada por profissionais de saúde. Após o devastador ciclone Idai, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou estar a preparar-se para um possível aumento acentuado da doença. 900 mil vacinas contra a cólera foram enviadas para o país. Na cidade mais afetada, a Beira, foram instalados três centros de tratamento.
Foto: picture-alliance/dpa/T. Mukwazhi
Depois do desastre, a cólera
Cerca de 800 mil pessoas foram vacinadas contra a cólera até 11 de abril, numa campanha para evitar a propagação da doença em quatro distritos afetados pelo ciclone Idai na província de Sofala. Dados oficiais indicam que pelo menos sete pessoas morreram devido ao surto, até 9 de abril, registando-se 535 casos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
Solidariedade alemã
O Governo da Alemanha aumentou a ajuda humanitária para um total de 5 milhões de euros. Diversas organizações humanitárias e igrejas cristãs pediram donativos. Cruz Vermelha alemã, Caritas Alemanha, Diocese de Hamburgo, Diakonie Katastrophenhilfe, Action Medeor, foram algumas das instituições alemãs que estiveram a apoiar os moçambicanos.
Foto: Aktionsbündnis Katastrophenhilfe
Artistas e desportistas apoiam vítimas
O concerto solidário "Mão dada a Moçambique" promovido pela cantora moçambicana Selma Uamusse, decorreu no dia 2 de abril em Lisboa e conseguiu angariar cerca de 300 mil euros para as vítimas do Idai. Surfistas e futebolistas em Portugal uniram-se ao movimento de solidariedade em vários eventos. Houve também concertos para angariar fundos em Nampula e no Niassa, no norte de Moçambique.
Foto: Vera Marmelo
Falta de médicos e medicamentos nos hospitais da Beira
Equipas da cruz vermelha trabalham para ajudar sobreviventes. Mas nos postos de saúde da Beira, a cidade mais afetada pelo ciclone Idai, há longas filas de pacientes, todos os dias. Queixam-se da falta de médicos e de medicamentos. A Cruz Vermelha Portuguesa montou um hospital de campanha em Macurungo, que diariamente atende mais de 300 pessoas.
Foto: Reuters/IFRC/RCRC Climate Centre
Sem electricidade
Um mês após o ciclone, a empresa estatal Electricidade de Moçambique (EDM) anunciou que precisa de 106 milhões de euros para a recuperação das infraestruturas destruídas pelo ciclone Idai no centro do país. Mais de 95% dos clientes da EDM nas províncias de Sofala, Manica, Tete e Zambézia ficaram sem energia elétrica.
Foto: Getty Images/AFP/A. Barbier
Ajuda para reconstruir o futuro
Enquanto os moçambicanos tentam reconstruir as suas vidas, a Comissão Europeia anunciou na terça-feira (09.04) uma verba adicional de 12 milhões de euros de ajuda humanitária para as populações afetadas pelo ciclone Idai em Moçambique. Esse país receberá a maior fatia da ajuda (sete milhões de euros), seguido por Zimbabué (quatro milhões) e Malawi (um milhão de euros).