Ciclone Kenneth está a caminho do norte de Moçambique
Lusa
25 de abril de 2019
As Nações Unidas preveem um agravamento do ciclone Kenneth, que se dirige ao norte de Moçambique, zona que não está acostumada a tempestades tão fortes. LAM cancelou ligação Maputo-Pemba prevista para esta quinta-feira.
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A intempérie "ameaça uma área onde a população não está acostumada a ciclones", refere o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês) em comunicado.
Filipe Lúcio, diretor do escritório sobre o quadro Global para os Serviços Climáticos da Organização Meteorológica Mundial, afirmou que este evento "não se compara ao ciclone Idai", mas vai trazer ventos fortes.
Este deverá ser o terceiro ciclone a formar-se na zona norte do Canal de Moçambique, no oceano Índico, desde que há registos por satélite, de acordo com a agência de meteorologia francesa Meteo France citada pelo OCHA: os outros dois, Elinah em 1983 e Doloresse em 1996, não tocaram a costa africana.
A tempestade atual chegou à categoria de ciclone tropical na terça-feira (23.04) no oceano Índico, prevendo-se que atinja a costa de Cabo Delgado na quinta-feira (25.04) ao fim do dia.
Alerta vermelho em Cabo Delgado
As últimas previsões meteorológicas apontam para um agravamento da velocidade do vento e da intensidade da chuva, à medida que o ciclone avança sobre o mar. Durante a madrugada, poderá evoluir para um ciclone de categoria três (numa escala de um a cinco) com ventos entre 178 e 208 quilómetros por hora, de acordo com o prognóstico do Centro Comum de Investigação da União Europeia, divulgado pelo Programa Alimentar Mundial.
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A mesma previsão aponta para a entrada em terra a partir das 18:00 locais de quinta-feira, baixando para categoria dois, ainda assim com grande potencial de destruição.
Depois de chegar ao continente, "espera-se que o ciclone enfraqueça rapidamente e que até se dissipe", mas há "alto risco de uma subida veloz dos caudais dos rios", causando cheias nalguns locais.
As autoridades moçambicanas emitiram um alerta vermelho para a província de Cabo Delgado, ordenando a evacuação de zonas de cheias e povoações costeiras, e o Ministério da Educação de Moçambique anunciou a interrupção das aulas na região até segunda-feira (29.04).
Voo Maputo-Pemba cancelado
As Linhas Aéreas de Moçambique cancelaram hoje a ligação Maputo-Pemba de quinta-feira devido à aproximação do ciclone Kenneth da província de Cabo Delgado. "Devido à passagem do ciclone Kenneth, o voo do percurso Maputo-Pemba referente ao dia 25 de abril foi cancelado", anunciou a companhia em comunicado.
Os passageiros afetados "estão a ser contactados e logo que a situação se normalizar serão transportados nos primeiros voos a serem realizados", acrescenta.
Esta é o segundo ciclone a atingir Moçambique em menos de dois meses, depois de o ciclone Idai, classificado como um dos desastres naturais mais graves de sempre no hemisfério sul, ter provocado 603 mortos e ter afetado 1,5 milhões de pessoas no centro do país em março.
Beira: Depois da tempestade, a reconstrução
A Beira tenta reerguer-se após o ciclone Idai. Autoridades e habitantes estão focados na limpeza da cidade e na reabilitação de infraestruturas.
Foto: DW/A. Kriesch
Beira em obras
Seis semanas depois da passagem do ciclone Idai, reconstruir é palavra de ordem na Beira. Quase todos os telhados foram arrancados ou danificados. O Banco Mundial estima em 2 mil milhões de dólares (1,78 mil milhões de euros) os prejuízos nos países afetados - Moçambique, Malawi e Zimbabué.
Foto: DW/A. Kriesch
Viver sem teto
André Lino ficou sem telhado à passagem do ciclone e não tem como pagar um novo. Vive aqui com a família desde 1977, a 100 metros da praia. "O mar está a aproximar-se", afirma. "Isso assusta-me". Se tivesse dinheiro suficiente, ia-se embora, conta.
Foto: DW/A. Kriesch
O mar cada vez mais perto
Partes da Beira estão abaixo do nível do mar. No passado, a cidade sofreu várias vezes com graves inundações. E há ameaça de novos desastres: o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas estima que o nível do mar deverá subir entre 40 a 80 centímetros até 2100.
Foto: DW/A. Kriesch
Cabanas frágeis à beira-mar
Os habitantes das zonas mais pobres da cidade, como a Praia Nova, foram os mais afetados. As suas cabanas desmoronaram-se rapidamente. Muitos pescadores também perderam os seus barcos devido ao ciclone.
Foto: DW/A. Kriesch
Projeto de gestão das águas contra as cheias
No centro da cidade, foram construídos há alguns anos milhões de quilómetros de canais e estruturas para controlar as marés, com a ajuda do banco estatal alemão de desenvolvimento KfW. A instituição contribuiu com 13 milhões de euros para o financiamento dos trabalhos de construção.
Foto: DW/A. Kriesch
Menos danos graças à cancela
"No dia do ciclone, começou também a chuva", lembra Eduardo dos Santos, que opera uma das cancelas construídas para proteger a Beira de inundações. "Abrimos as comportas para que a água pudesse regressar ao mar. Se não o tivéssemos feito, teria havido cheias ainda piores na cidade".
Foto: DW/A. Kriesch
Edil contra as mudanças climáticas
"Já estamos habituados a inundações", diz o edil Daviz Simango. "Mas um ciclone assim foi algo novo para nós. Agora, temos de reagir". Simango está a organizar uma conferência de doadores na Beira, em junho. O edil espera angariar fundos para preparar a cidade para as mudanças climáticas.
Foto: DW/A. Kriesch
Trabalhos de limpeza continuam
As autoridades continuam empenhadas em restaurar a ordem. Em algumas zonas da cidade já há eletricidade e água corrente. Noutras áreas ainda são visíveis os destroços causados pelo ciclone.
Foto: DW/A. Kriesch
Uma frente de voluntários
Voluntários como Magdalena Louis ajudam nos trabalhos de reconstrução. Há várias semanas que está aqui a trabalhar e, em troca, a cidade da Beira dá-lhe apenas o almoço. "Só quero que a nossa cidade esteja limpa outra vez. Ninguém tem de me pagar por isso", afirma.
Foto: DW/A. Kriesch
Campos de refugiados na cidade
Há organizações humanitárias de todo o mundo por toda a cidade. Milhares de pessoas continuam a viver em tendas e a depender de ajuda alimentar. A saúde também é uma preocupação: a Beira foi atingida por uma crise de cólera e registam-se vários casos de malária.
Foto: DW/A. Kriesch
Sem colheitas, não há comida
Nos arredores da Beira, o ciclone destruiu grandes áreas de cultivo. "Todo o milho, todo o arroz... foi-se tudo", conta a agricultora Elisa Jaque, de 61 anos. Já está a plantar novamente, mas só dentro de seis meses deverá voltar a ser capaz de alimentar a sua família.
Foto: DW/A. Kriesch
Regresso à rotina
Apesar de tudo, há sinais de regresso à rotina e à normalidade. Um jogo amigável do Grupo Desportivo da Companhia Têxtil do Púnguè atrai centenas de adeptos - apesar de o telhado do estádio ter sido também atingido pelo Idai.
Foto: DW/A. Kriesch
Rumo à normalidade
Quem não pode pagar o bilhete para ver o jogo, encontra soluções criativas. À volta do estádio, mini-autocarros e carrinhas estacionados funcionam como bancadas improvisadas gratuitas. O cenário deve repetir-se no fim de semana, com o arranque do Moçambola e o Têxtil do Púnguè - União Desportiva do Songo agendado para 27 de abril.