Teme-se o regresso à violência com o prolongamento da família Bongo no poder. Ali Bongo foi empossado Presidente, esta terça-feira (27.09), depois do Tribunal Constitucional ter validado os resultados eleitorias.
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“Prometo dedicar todos os meus esforços para o bem do povo gabonês a fim de assegurar o seu bem-estar, protegê-lo de todo o mal; respeitar e defender a Constituição e o Estado de Direito; prometo cumprir conscientemente os deveres que me são confiados; ser justo para todos”, jurou Ali Bongo no discurso de tomada de posse como Presidente de Gabão, em que apelou à unidade nacional. Vários líderes africanos, incluindo de São Tomé e Príncipe, Mali, Níger e Togo participaram na cerimónia desta terça-feira (27.09), no Palácio Presidencial, em Libreville.
O Tribunal Constitucional reconheceu, no sábado (24.09), a vitória de Ali Bongo, na eleição presidencial de 27 de agosto, com 50,66% dos votos; enquanto o principal candidato da oposição Jean Ping teve 47,24% - uma diferença de cerca de 11 mil votos. Jean Ping considerou, no entanto, a decisão um "erro judicial" e considerou-se o presidente eleito.
O segundo mandato de Ali Bongo não é bem visto pela União Africana, Nações Unidas e União Europeia, que disse que as eleições não foram transparentes. A UE exige uma "solução justa e pacífica" para o conflito entre o vencedor da eleição Ali Bongo e o opositor Jean Ping.
No entanto, Kamissa Camara, especialista no Gabão, da organização norte-americana Fundação Nacional para a Democracia, não acredita que as críticas dos europeus tragam efeitos em Libreville. “A perceção é que a União Europeia e a França são antigos poderes coloniais que estão a tentar exercer a sua influência nos países africanos. Mas, na verdade, o que pensam não interessa”, afirma a especialista.
Ceticismo quanto a uma solução pacífica e de união
O porta-voz do Executivo, Alain-Claude Bilie-By-Nze, disse que Ali Bongo pretende formar em breve um Governo de unidade nacional. Mas Andreas Mehler, diretor do instituti alemão Arnold-Bergstraesser, não credita num diálogo interno.
27.09.16 Gabao OL - MP3-Mono
“Pode-se até esperar um golpe palaciano ou um golpe militar", augura Mehler. "Penso que Bongo está extremamente nervoso. O que o pode levar a restringir mais as liberdades civis. Espero um momento de suspense: uma viragem para mais autoritarismo por parte do regime e uma procura da oposição de ganhar peso através de ligações ao exército", acrescentou o especialista.
Teme-se o regresso à violência no Gabão. O anúncio da vitória de Ali Bongo, pela comissão eleitoral, a 31 de agosto, gerou uma onda de violência que causou mais de 50 mortos, segundo a oposição; enquanto o Governo fala em três mortos.
A família Bongo prolonga assim o poder num país rico em petróleo e minerais com menos de dois milhões de habitantes. Ali Bongo chegpi ao poder em 2009, depois da morte do seu pai, Omar Bongo que esteve 41 anos no poder.
Procura por vacina contra o ébola no Gabão
Lambarene no Gabão é famosa pelo Hospital Albert Schweitzer, nome do médico e Nobel da Paz que trabalhou aqui muitos anos. Nesta cidade estão agora reunidos investigadores que procuram uma vacina contra o vírus do ébola.
Foto: DW/J.-P. Scholz/A. Kriesch
Pacata cidade de pescadores
Lambarene é uma cidade no Gabão, país que se situa na África ocidental. Uma grande parte dos seus 25 000 habitantes depende da pesca para a subsistência. Mas Lambarene é conhecida sobretudo por ser a sede do Hospital Albert Schweitzer.
Foto: DW/J.-P. Scholz/A. Kriesch
Orçamento apertado
Schweitzer, que nasceu alemão, mas naturalizou-se francês, foi um filósofo, teólogo e musicólogo. Mais tarde formou-se em medicina e, em 1913, fundou um hospital em Lambarene, como reparação pelo colonialismo, que sentia como uma culpa europeia. Em 1952 foi distinguido com o Prémio Nobel da Paz. O hospital ainda existe, embora o seu equipamento esteja completamente ultrapassado.
Foto: DW/J.-P. Scholz/A. Kriesch
Combater o ébola através da investigação
Ao lado do Hospital Albert Schweitzer abriu um novo centro de pesquisa. Aqui, cientistas africanos e europeus preparam uma vacina contra o ébola. Produziram um vírus enfraquecido e geneticamente modificado, ao qual foi acrescentado uma proteína superficial. Os investigadores esperam que o sistema imunitário reaja ao vírus modificado, produzindo anticorpos.
Foto: DW/J.-P. Scholz/A. Kriesch
Da Alemanha para o Gabão
O médico José Fernandes controla os testes com a nova vacina num grupo de 60 voluntários que não estão doentes. Nesta primeira sase dos testes é verificado apenas se a nova substância é segura. Fernandes interrompeu os seus estudos na Alemanha para se instalar no Gabão. “Foi uma decisão fácil. Encontrar uma vacina para esta doença é um dos desafios centrais da ciência médica”, explica.
Foto: DW/J.-P. Scholz/A. Kriesch
Voluntários corajosos
Antoine Maganga Mombo é um dos voluntários. Desloca-se ao centro de pesquisa pelo menos uma vez por mês para fazer um teste de sangue. “É só para ver se está tudo bem”, diz o jovem de22 anos, que não parece preocupado com a possibilidade de sofrer efeitos secundários. “Assim posso ajudar as pessoas nas áreas atingidas pelo surto”, diz.
Foto: DW/J.-P. Scholz/A. Kriesch
Pobreza apesar do petróleo
A família orgulha-se de Mombo. “É preciso muita coragem”, diz o tio. Mas também o dinheiro é importante para Mombo. Pela participação neste teste recebe o equivalente a 400 euros. Apesar de ser um país rico em recursos naturais, a maioria dos gabuneses vive na pobreza. Mombo trabalha numa posto de gasolina.
Foto: DW/J.-P. Scholz/A. Kriesch
OMS recolhe os dados dos testes
Paul Pitzinger, da Organização Mundial de Saúde (OMS), ocupa-se da recolha dos dados resultantes dos testes. Pitzinger, que estuda medicina na Universidade de Viena de Áustria, está a passar vários meses no Gabão. A OMS correlaciona os resultados no Gabão com outros obtidos em testes paralelos na Europa, nos Estados Unidos da América e noutras regiões de África.
Foto: DW/J.-P. Scholz/A. Kriesch
Ainda não há data para a vacina
A segunda fase dos testes será para constatar a eficácia da vacina. Ela deverá ser iniciada nos países africanos afectados dentro em breve. Bettram Lell, coordenador do projeto em Lambarene, não sabe dizer quando ou se a vacina será aprovada pelos reguladores. Mas mantém o otimismo: “Coisas que normalmente levam anos, agora estão a ser feitas em poucos meses”, diz.
Foto: DW/J.-P. Scholz/A. Kriesch
Schweitzer cada vez mais esquecido
“Não temos dinheiro para a modernização”, diz o director do hospital, Hansjörg Fotouri. “Nos últimos anos, os donativos recuaram drasticamente. E já há pouca gente que conheceu pessoalmente Albert Schweitzer”, acrescenta. Fotouri quer criar um centro para promover o diálogo entre as medicinas tradicional e ocidental.