Aliança entre Luanda e Malabo é “coligação de fracos”
Marta Melo
28 de março de 2017
Para o analista Rui Verde a Guiné Equatorial procura reconhecimento internacional e afirmar-se na CPLP. O jurista defende ainda que Portugal devia tomar uma posição junto da comunidade lusófona face a este núcleo.
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Foi uma visita de poucas horas do Presidente Teodoro Obiang Nguema a Angola para se reunir o homólogo, José Eduardo dos Santos, esta segunda-feira (27.03). Nenhum chefe de Estado prestou declarações. O encontro focou vários temas, desde a cooperação bilateral aos problemas em países da África Central e da região dos Grandes Lagos. Mas para o jurista português Rui Verde esta é "uma coligação de fracos".
"São dois países com dois ditadores há demasiado tempo no poder, que vão perdendo o apoio internacional e que se têm que se juntar. Mas é uma espécie de coligação de fracos. Não vejo nada de força nestas atividades. Pelo contrário, é um sinónimo de decadência talvez de final de regime. Veremos”.
Reforço das relações
Ao mesmo tempo que o Presidente da Guiné Equatorial se reunia José Eduardo dos Santos, delegações ministeriais dos dois países discutiam, em conversações oficiais, novos mecanismos de cooperação.
Ficou decidido a realização da segunda Comissão Bilateral de Cooperação a ter lugar já no próximo ano. Sendo que os governos de Angola e da Guiné Equatorial pretendem reforçar a cooperação bilateral nos domínios da formação de quadros, transportes, agricultura e pescas.
O estabelecimento de ligações aéreas entre as duas capitais, Luanda e Malabo, está igualmente em cima da mesa.
Para além disso, Angola está a formar 200 oficiais das forças de segurança da Guiné Equatorial.
As petrolíferas estatais dos dois países estão também a estudar um reforço da cooperação, nomeadamente na área do gás.
Sobre o que procura a Guiné Equatorial em Angola, Rui Verde, aponta o "reconhecimento internacional, sobretudo porque tem sido muito fustigada pelos Estados Unidos”. "E os angolanos sabem defender-se melhor dos Estados Unidos do que a Guiné”, acrescenta.
Aliança entre Luanda e Malabo é “coligação de fracos”
Afirmação na CPLP
Rui Verde não vê implicações políticas nesta aliança entre Angola e a Guiné Equatorial, ainda assim considera que vai colocar, "mais uma vez, a diplomacia portuguesa em cheque”.
"Acho que Portugal devia tomar posições em relação à permanência da Guiné Equatorial na comunidade lusófona e, sobretudo, à criação deste núcleo duro Angola-Guiné Equatorial. É preocupante para Portugal que, supostamente, é um Estado de Direito”, defende.
Segundo o analista, esta aliança "balança demasiado a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) no sentido autoritário e ditatorial e Portugal devia ter uma espécie de contrabalanço”.
O apoio angolano permitiu a adesão da Guiné Equatorial, em 2014, à CPLP. Este aproximar dos dois países é, para Rui Verde, também uma forma de a Guiné Equatorial se afirmar na comunidade lusófona, ainda assim sem efeitos práticos, "uma vez que não tem novidade”.
"Acho que, para já, é mais uma espécie de um efeito bandeira”, afirma.
Famílias influentes em África
Para muitos, a política continua a ser um negócio de família: o filho recebe a Presidência de herança, a filha dirige a empresa estatal, a esposa torna-se ministra. Há vários exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa
Filha milionária
Isabel dos Santos, a filha mais velha do Presidente angolano, é uma das dez pessoas mais ricas de África. Do império da empresária constam a maior empresa de telecomunicações do país e uma cadeia de hipermercados. Além disso, dos Santos lidera a petrolífera angolana Sonangol. O irmão José Filomeno dirige o Fundo Soberano de Angola, que gere mais de cinco mil milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/dpa
O meu pai decide…
Teodoro Nguema Obiang Mangue é vice-Presidente da Guiné Equatorial – e o filho do chefe de Estado. O pai, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, dirige o país desde 1979. O seu enteado, Gabriel Mbaga Obiang, é ministro das Minas e Hidrocarbonetos. A petrolífera estatal GEPetrol é controlada pelo cunhado do Presidente, Nsue Okomo.
Foto: Picture-alliance/AP Photo/F. Franklin II
O meu filho, o guarda-costas
Muhoozi Kainerugaba é o filho mais velho do Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, que está desde 1986 no poder. Ele é um oficial superior no Exército ugandês e comanda a unidade especial responsável pela proteção do chefe de Estado. A mulher de Museveni, Janet, é ministra da Educação e do Desporto. O cunhado, Sam Kutesa, é ministro dos Negócios Estrangeiros.
Foto: DW/E. Lubega
Uma irmã gémea influente
Jaynet Désirée Kabila Kyungu é filha do ex-Presidente congolês, Laurent Kabila. Agora, é o seu irmão gémeo, Joseph Kabila, que governa o país. Jaynet está no Parlamento; além disso, tem uma empresa de comunicação. Os "Panama Papers" revelaram que ela foi co-presidente de uma empresa offshore que terá tido participações no maior operador móvel no Congo.
Foto: Getty Images/AFP/J. D. Kannah
De secretária a primeira-dama
Grace Mugabe é a segunda mulher do Presidente zimbabueano, Robert Mugabe. Começaram a namorar enquanto ela ainda era a sua secretária. Entretanto, Grace é presidente da "Liga das Mulheres" do partido no poder e tem bastante influência. Grace, de 51 anos, é vista como a sucessora do marido, de 92 anos, embora ela tenha afastado essa hipótese.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
A ex-mulher ambiciosa
Nkosazana Dlamini-Zuma foi a primeira mulher eleita como presidente da Comissão da União Africana. Antes, foi ministra dos Negócios Estrangeiros no Governo do Presidente sul-africano Thabo Mbeki. Foi também ministra do Interior no Executivo do ex-marido, Jacob Zuma. O casamento desfez-se antes de Dlamini-Zuma ocupar esses cargos ministeriais.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Prinsloo
A empresa familiar, o Estado
Nas mãos da família do Presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, estão numerosas empresas estratégicas e altos cargos na política. O irmão Maurice é dono de várias empresas, a filha Claudia (na foto) dirige o gabinete de comunicação do pai e pensa-se que o filho Denis Christel esteja já a ser preparado para assumir a Presidência.
Foto: Getty Images/AFP/G. Gervais
Autorizado: Presidente Bongo II
O autocrata Omar Bongo Ondimba governou o Gabão durante 41 anos até falecer, em 2009. Numas eleições polémicas, em que bastou uma maioria simples na primeira volta, o filho do ex-Presidente, Ali Bongo, derrotou 17 opositores. Ele foi reeleito em 2016. A família Bongo já governa o país há meio século.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Tal pai, tal filho
Dos cerca de 50 filhos do ex-Presidente do Togo Gnassingbé Eyadéma, Faure Gnassingbé foi o único a enveredar pela política. Entretanto, governa o país. Os pais dos atuais chefes de Estado do Quénia e do Botswana também já tinham estado na Presidência.