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PolíticaGuiné-Conacri

Guiné-Conacri: Líder da oposição confia em Mamady Doumbouya

Bob Barry
7 de setembro de 2021

Cellou Dalein Diallo diz que vê a ação dos militares como ato patriótico e está confiante que o cenário de 2009, quando o capitão Dadis Camará estava no poder, não se irá repetir.

Guinea Politiker Cellou Dalein Diallo
Cellou Dalein Diallo da União das Forças Democráticas da Guiné (UFDG)Foto: picture-alliance/dpa/Maxppp/S. Souici

Cellou Dalein Diallo, ex-primeiro-ministro da Guiné-Conacri e presidente da União das Forças Democráticas da Guiné (UFDG), principal partido da oposição, falou à DW sobre a sua visita à sede do seu partido após esta ter sido destruída e também sobre a tomada de poder por militares após o golpe de estado no país contra o Governo de Alpha Condé.

DW: Já faz dez meses que os escritórios e a sede da UFDG, partido do qual é presidente, estão fechados. Conseguiu visitar esses espaços no dia 6 de setembro (segunda-feira). Em que condições encontrou esses lugares?

Cellou Diallo (CD): Eu fiquei atônito porque tudo havia sido destruído. Foi o reflexo do ódio e da brutalidade do regime de Alpha Condé. Contudo, estou eu satisfeito de reencontrar um lugar que pertence ao meu partido e que poderia abrigar as nossas reuniões. Admito que não entendo porque tanto ódio e destruição desnecessária. Alpha Condé não precisou passar pela justiça ou pela administração para a realização do crime, mas nos negaram o acesso a esses escritórios por quase dez meses, sem base legal. Mas é como é. Eu estou ansioso para voltar à sede. Verei o que foi destruído e roubado e chamarei um oficial de justiça para fazer o boletim de ocorrência.

DW: A situação sócio-política mudou muito na Guiné desde domingo (05.09). O Presidente Alpha Condé foi capturado por soldados que o retiraram do palácio presidencial. Aceitou este golpe militar, é isso mesmo?

CD: Sim, é isso mesmo.

Alpha Condé, Presidente depostoFoto: Facebook/Alpha Condé

DW: Porque concordou com essa tomada do poder pelo exército?

Cellou Dalein Diallo foi candidato às presidenciais de 2020Foto: Nadia Nahman

CD: É claro que isso vai contra as minhas convicções, mas nós estamos diante de uma situação em que Alpha Condé abusou do poder. Violou a Constituição, está a violar o seu juramento, pisoteando todas as regras e princípios da democracia e do Estado de Direito. Nós usámos de todos os recursos para impedir isso. Foi pedida ajuda da comunidade internacional, mas essa não pôde ou, por vezes, não quis mudar sua posição. As pessoas foram para as ruas. As manifestações pacíficas foram reprimidas com sangue. Guineenses inocentes foram assassinados apenas por exercerem o seu direito constitucional de andar na rua e em lugares públicos. Eles mataram quase 40 pessoas em N'zérékoré, que foram enterradas durante a noite. Todas essas pessoas, todos esses cidadãos não tiveram direito à justiça, à compaixão e uma retratação do Estado. Nós apelamos, mas sem sucesso. A justiça serve aos interesses deles e não para que o que está na lei seja cumprido. Alpha Condé sempre esteve certo e a oposição errada. Centenas de milhares de pessoas foram presas, julgadas e condenadas apesar de serem inocentes. Se todos os recursos foram usados ​​sem sucesso e o exército, num ato patriótico, decide se livrar desta ditadura que não respeita a vida humana, os direitos e as liberdades dos cidadãos e a democracia… Bem, não se pode deixar de reconhecer que é um ato patriótico.

DW: Não teme que a tomada de poder pelos militares seja definitiva?

CD: Sim, é claro que tenho medo, pois com frequência os militares, para tomar o poder, declaram razões relacionadas ao seu desejo de lutar contra a corrupção e muitas vezes se comprometem a entregar o poder ao civis após a organização de eleições livres e justas. Mas, por vezes, eles levaram muito mais tempo do que o necessário para isso. Outras vezes, até tiram o uniforme militar para se manter no poder. Posto isso, eu considero que este é um ato patriótico até que se prove o contrário. Eu acredito na equipa do tenente-coronel Mamady Doumbouya. Penso que os militares farão de tudo para organizar eleições livres e transparentes muito rapidamente para finalmente dar ao povo guineense a possibilidade de escolher os seus governantes.

DW: O que vai fazer para que não se repita o cenário de 2009, quando o capitão Moussa Dadis Camará ficou no poder?

CD: Olha, o risco existe, mas neste momento eu confio no tenente-coronel Mamady Doumbouya e na sua equipa. Eu espero que o que passou não volte a se repetir, sabendo tudo o que custou ao povo da Guiné. Nós sempre temos em mente o que passou em 28 de setembro de 2009 porque é algo que ainda não acabou. Ainda estamos à espera que a justiça faça o seu trabalho neste caso.

DW: Já se encontrou com o tenente-coronel Mamady Doumbouya? Vocês já se conhecem?

CD: Não, eu não o encontrei e nem o conheci ainda.

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