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Moçambique é um dos PALOP mais atingidos pela crise do clima

28 de junho de 2025

Em 2023, a temperatura média global atingiu 1,52 ºC face à era pré-industrial — ultrapassando o limite fixado no Acordo de Paris. Moçambique sente os impactos — com ciclones, mortes e comunidades vulneráveis.

Homem observa mar - aquecimento e calor extremo
Entre os PALOP, Moçambique é um dos mais atingidos pelas alterações climáticas (foto de arquivo)Foto: Thomas Trutschel/imago/photothek

A temperatura média do planeta continua a subir, despertando preocupação entre ambientalistas. No entanto, a proteção ambiental parece ter perdido prioridade, à medida que a atenção global se concentra nas guerras que eclodem em várias regiões do mundo.

Em 2023, a temperatura média global atingiu 1,52 °C acima dos níveis da era pré-industrial — um valor que já ultrapassa a meta estabelecida pelo Acordo de Paris, assinado em 2015, que visa limitar o aquecimento a 1,5 °C até 2030.

Para o analista Eduardo Baixo, ponto focal da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas em Moçambique, o cenário tende a agravar-se com a decisão do Presidente Donald Trump de retirar, mais uma vez, os Estados Unidos do Acordo de Paris.

"A saída dos Estados Unidos complica ainda mais o panorama, especialmente no que diz respeito ao financiamento climático", alertou.

Já Stela Herschmann, especialista brasileira em Política Climática do Observatório do Clima, a saída norte-americana cria uma possibilidade de reorganização geopolítica.

"Também abre uma oportunidade de um vácuo de liderança, que no mundo político não existe, é sempre ocupado. Então, esperamos que o mundo aproveite este momento difícil para se unir mais no enfrentamento da crise climática", explicou à DW.

Foto: Rebecca Staudenmaier/DW

Convenção da ONU 

Na quinta-feira, terminou, na cidade de Bona, na Alemanha, a 62. sessão da Convenção da Nações Unidas para as Alterações Climáticas (UNFCCC).

Simon Stiell, secretário executivo da ONU para Mudanças Climáticas, disse no encerramento da conferência que o mundo tem de avançar "mais longe, mais rapidamente e de forma mais justa" para limitar o aquecimento global a 1.5ºC.

Os Estados Unidos não participaram no evento. No entanto, a Campanha Global para Exigir Justiça Climática (DCJ) denunciou na quinta-feira, em comunicado de imprensa, que a União Europeia (UE) é agora o "maior bloqueio" no combate aos efeitos das alterações do clima, pela justiça ambiental.

A poucos meses da realização da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), a ter lugar em Belém, no Brasil, o movimento ambientalista acusa a UE de se recusar a cumprir os compromissos de financiamento.

"Ao bloquearem propostas críticas dos países em desenvolvimento e ao recusarem-se a honrar os compromissos fundamentais assumidos no âmbito da Convenção das Nações Unidas para as Alterações Climáticas e do seu Acordo de Paris, os países desenvolvidos estão a pôr em risco as hipóteses de o mundo lidar com o iminente colapso climático", refere a DCJ, acrescentando que o momento atual "não é uma crise, nem uma catástrofe, mas um colapso".

Proteger o meio ambiente a dançar!

04:55

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Guerras: Questões climáticas ficam esquecidas

Com as guerras no mundo inteiro, sobretudo na Europa e no Médio Oriente, as questões climáticas ficaram esquecidas, acrescenta o especialista Eduardo Baixo.

"Os países europeus estão preocupados no melhoramento da sua defesa. Estão a tirar fundos que, em princípio, deveriam ser direcionados para as questões climáticas, alocando-os para o armamento", disse.

O chamado "Sul Global", onde se concentra a maior parte dos países em desenvolvimento, é a região que mais tem sofrido com os impactos dos fenómenos relacionados às alterações climáticas, nomeadamente, secas, inundações e ciclones.

Para a ativista Stela Herschmann, é crucial que a região não baixe os braços e continue a lutar por maior influência na tomada de decisões.

"E nós sabemos que, quando este bloco decide unanimemente, consegue manter a sua coerência e fazer frente aos grandes poderes, consegue mover muitas barreiras."

Marcas da destruição que o ciclone Chido deixou em MoçambiqueFoto: UNICEF MOZAMBIQUE/via REUTERS

Moçambique

Moçambique é um dos Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOP) que mais tem sofrido com as alterações climáticas. Só nos últimos três anos, cerca de 400 pessoas morreram e outras 1.800 ficaram feridas devido à passagem de seis ciclones no país, anunciou, no início deste mês, o Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD).

À DW, o especialista Eduardo Baixo diz que Moçambique tem feito muitos esforços para reforçar a resiliência e adaptação climática das comunidades mais vulneráveis. Mas os países que mais contribuem para as alterações climáticas não têm ajudado o suficiente.

"Quando chega a altura dos países financiarem a implementação dos planos, é aqui que começa o grande problema. Não dão financiamento", afirma.

Para Stela Herschmann, a falta de financiamento é o grande nó de estrangulamento no combate às alterações climáticas.

"O problema é que as decisões são muito lentas e são tomadas por consensos por todos os países, chegando [apenas a um] mesmo denominador comum, que não é o suficiente para [lidar com] um mundo em chamas", concluiu a analista. 

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