Alunos da Guiné-Bissau contra greve dos professores
Lusa
8 de fevereiro de 2019
Professores mantêm braço de ferro com Governo quanto ao pagamento de salários em atraso. Alunos das escolas públicas ocuparam na quinta-feira as principais avenidas de Bissau contra greve que começa na próxima semana.
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Os estudantes decidiram bloquear na quinta-feira (07.02) as estradas de Bissau para demonstrar o seu desagrado com "as sucessivas greves dos professores", disse Francisco da Silva, jovem aluno do liceu Agostinho Neto, à agência de notícias Lusa.
"Se estão a bloquear as nossas aulas, então também nós vamos bloquear as atividades dos adultos", cortando as circulações dos automóveis, afirmou Francisco da Silva.
Empunhando um megafone na mão, o jovem, de 18 anos, incentivava os colegas a não terem medo perante o cordão policial que se encontrava diante dos alunos que se agruparam na rotunda do mercado do Bandim, ao lado do parlamento guineense.
Vindos de todos os liceus públicos de Bissau, centenas de jovens ocuparam as avenidas Combatente da Liberdade da Pátria - que liga o Palácio do Governo no bairro de Brá ao centro da cidade - e Amílcar Cabral, que vai do Palácio da Presidência à baixa de capital guineense.
Alguns entoavam cânticos como: "Dêem-nos os nossos direitos" ou "Queremos ir à escola".
A polícia apenas interveio quando alguns tentaram agredir pessoas ou vandalizar carros.
"Essas crianças estão no seu direito"
Os transeuntes, sobretudo pessoas que tentavam chegar de carro ao mercado de Bandim, questionavam os motivos do bloqueio, mas rapidamente deixavam sinais de agrado com a manifestação dos alunos.
"Essas crianças estão no seu direito de ir à escola, são os nossos filhos", disse à Lusa Enfamara Cissé, comerciante no Bandim.
A educação através da dança na Guiné-Bissau
01:08
Após duas vagas de greves, os professores das escolas públicas anunciaram, na quarta-feira, uma nova paralisação laboral, de 30 dias, a partir da próxima segunda-feira, para reclamar do Governo o cumprimento de uma série de acordos que possibilitaram o levantamento da última greve em dezembro.
Mas, segundo os estudantes, alguns professores já não compareceram esta quinta-feira em algumas escolas públicas.
Entre os pontos do referido acordo, figura o pagamento de salários em atraso a várias categorias de professores, nomeadamente os contratados e novos ingressos, bem como aplicação efetiva do Estatuto da Carreira Docente.
Três sindicatos que representam os professores acusam o primeiro-ministro guineense, Aristides Gomes, de ordenar o bloqueamento, nas Finanças, do pagamento aos docentes que estiveram em greve no mês de dezembro.
Um porta-voz dos sindicatos dos professores, Bunghoma Sanhá, admitiu a possibilidade de o ano letivo ter que ser anulado pelo Governo, a quem acusa de insensatez.
Sumos, bolachas e até "bifes" para diversificar rendimento do caju
O caju é a principal fonte de rendimento dos produtores guineenses. A fim de estimular a economia, os produtores de Ingoré uniram-se na cooperativa Buwondena, onde produzem sumo, bolachas e até "bife" de caju.
Foto: Gilberto Fontes
O fruto da economia
Sendo um dos símbolos da Guiné-Bissau, o caju é a principal fonte de receita dos camponeses. A castanha de caju representa cerca de 90% das exportações do país. Este ano, foram exportadas 200 toneladas de castanha de caju, um encaixe de mais de 250 mil euros. A Índia é o principal comprador. O caju poderá trazer ainda mais riqueza ao país, se houver maior aposta no processamento local do produto.
Foto: Gilberto Fontes
Aposta no processamento
Em Ingoré, no norte da Guiné-Bissau, produtores de caju uniram-se na cooperativa Buwondena - juntamos, em dialeto local balanta - para apostar no processamento do caju. Antes, aproveitava-se apenas a castanha, desperdiçando o chamado pedúnculo, que representa cerca de 80% do fruto. Na cooperativa produzem-se agora vários produtos derivados do caju.
Foto: Gilberto Fontes
“Bife” de caju
Depois de devidamente preparado, o pedúnculo, que é a parte mais fibrosa do caju, pode ser cozinhado com cebola, alho e vários temperos. O resultado final é o chamado “bife” de caju.
A partir das fibras, produz-se também chá, mel, geleia, bolacha, entre outros. Ao desenvolverem novos produtos, os produtores diversificam a dieta e aumentam os seus rendimentos.
Foto: Gilberto Fontes
Néctar de caju
Depois de prensadas as fibras do caju, obtém-se um suco que é filtrado várias vezes, a fim de se produzir néctar e sumo. Com 50% desse suco e 50% de água com açúcar diluído, obtem-se o néctar de caju. Este ano, a cooperativa Buwondena produziu quase 400 litros desta bebida.
Foto: Gilberto Fontes
Sumo de caju
O sumo resulta da pasteurização do suco que foi filtrado do fruto, sem qualquer adicionante. Cada garrafa destas de 33cl de sumo de caju custa quase 0.40€. Ou seja, um litro de sumo pode render até 1.20€. O que é bem mais rentável que vinho de caju, produzido vulgarmente na Guiné-Bissau, que custa apenas 0.15€ o litro. Em 2016, foram produzidos na cooperativa quase 600 litros de sumo de caju.
Foto: Gilberto Fontes
Mel de caju
Clode N'dafa é um dos principais especialistas de transformação de fruta da cooperativa. Sabe de cor todas as receitas da cooperativa e só ele faz alguns produtos, como o mel. Mas devido à falta de recipientes, este produziu-se pouco mel de caju. Desde que se começou a dedicar ao processamento de fruta, Clode N'dafa conseguiu aumentar os seus rendimentos e melhorar a vida da sua família.
Foto: Gilberto Fontes
Castanha de caju
Este continua a ser o produto mais vendido pela cooperativa. O processamento passa por várias etapas: seleção das melhores castanhas, que depois vão a cozer, passam à secagem, ao corte e vão à estufa. As castanhas partidas são aproveitadas para a produção de bolacha de caju. Este ano, a cooperativa conseguiu fixar preço da castanha de caju em 1€ o quilo, protegendo os rendimentos dos produtores.
Foto: Gilberto Fontes
Potencial para aumentar produção
A maior parte dos produtos são vendidos localmente, mas alguns são comercializados também em Bissau e exportados para o Senegal. A produção decorre sobretudo entre os meses de março e junho, período da campanha do caju. No pico de produção, chegam a trabalhar cerca de 60 pessoas. Se a cooperativa conseguisse uma arca frigorífica para armazenar o caju, continuaria a produção depois da campanha.
Foto: Gilberto Fontes
Aposta no empreendedorismo
A cooperativa Buwondena aposta na formação a nível de empreendedorismo, para que os produtores possam aumentar o potencial do seu negócio. A cooperativa pretende criar uma caixa de poupança e crédito. O objetivo é que, através de juros, os produtores possam rentabilizar as suas poupanças e apostar noutros negócios.
Foto: Gilberto Fontes
É urgente reordenar as plantações
A plantação de cajueiros é outra das preocupações da cooperativa: uma plantação organizada, com ventilação é fundamental para aumentar a rentabilidade.
Devido ao peso do sector do caju na economia da Guiné-Bissau, todos os anos são destruídos entre 30 e 80 mil hectares de floresta para a plantação de cajueiros. Especialistas defendem uma reordenação urgente das plantações.