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EducaçãoMoçambique

Alunos moçambicanos com medo de regressar à escola

4 de novembro de 2020

As escolas na província moçambicana de Inhambane já reabriram, mas pais e encarregados de educação têm medo de deixar os filhos expostos ao coronavírus e pedem a anulação do ano letivo. Autoridades reconhecem problemas.

Foto: Luciano da Conceição/DW

Os alunos do 10º ano retornaram às aulas na segunda quinzena de outubro e os do 7º ano regressaram à escola nesta primeira semana de novembro em todo território nacional.

No entanto, na província de Inhambane, dos cerca de 24 mil alunos da décima classe, apenas seis mil voltaram às escolas. E o cenário é ainda pior quando se olha para a situação da sétima classe, que soma quase 42 mil alunos: quase nenhuma das mais de 800 escolas da província está em de condições para a retoma das aulas.

Mariana Ernesto Cambula, substituta do diretor distrital da Educação na cidade de Maxixe, disse à DW que se nota a ausência dos alunos nas salas de aulas, mas explica o seguinte: "O novo figurino do ensino reduziu algumas disciplinas e estes alunos da área C são estes que agravam este número de ausentes."

Pais receiam condições de higiene nas escolas

A decisão da retoma das aulas nas escolas que não reúnem nenhuma condição de saneamento e higiene, incluindo a falta de água para lavagem das mãos, não agradou aos pais e encarregados de educação em Inhambane.

Catarina Abílio tem filhos que frequentam a sétima e décima classes no distrito de Morrumbene e afirma que tem medo que os seus educandos voltem à escola, porque podem estar sujeitos à contaminação pelo novo coronavírus, visto que as escolas não têm água para lavagem das mãos.

Antes da entrada dos alunos, as salas são pulverizadasFoto: Luciano da Conceição/DW

"As minhas crianças não vão à escola, tenho medo e nem para sair de casa primeiro pensa-se mil vezes", diz.

O setor da educação está a fazer um trabalho de mobilização junto dos pais para que deixem os filhos voltar às aulas. Paulo Savanguane, outro encarregado de educação em Inhambane, revela a sua indignação face à decisão do Governo, porque, por exemplo, os alunos da sétima classe podem não saber as medidas de prevenção à Covid-19.

"Estou indignado, na verdade, porque tenho um irmão que está na sétima classe. Acha que a sétima estará na altura de prevenir?", questiona.

Anular o ano letivo?

Poucas escolas conseguiram comprar material para a lavagem das mãos usando fundos próprios, mas quase todas debatem-se com a falta de água.

Sandra Gulamo, uma aluna que estuda na zona rural, afirma que o Governo está a preparar apenas as escolas localizadas nos centros urbanos. Por isso, a estudante sugere que o setor da educação anule o ano letivo.

"O nosso Governo só está a olhar para as cidades e não olha para o campo, onde ter água é um problema sério e tira-se água longe. Eu prefiro que as crianças percam o ano, mas ganhem a vida, porque isso não se compra", sublinha.

Alunos são obrigados a lavar as mãos à entrada da sala de aulasFoto: Luciano da Conceição/DW

Fernando Jossia, um dos encarregados, também afirma que anular o ano letivo seria a solução e até hoje ainda não mandou os filhos regressarem às aulas. "Vale apenas recomeçar no próximo ano, acho melhor assim, não é fácil controlar crianças vamos ver que ao entrar a criança (na escola) pode sair sem máscara ou sair com uma máscara da outra criança”.

Até ao momento o empreiteiro adjudicado para o melhoramento do saneamento nas escolas ainda não entregou nenhuma obra ou furo de água para as escolas que reiniciaram as aulas.

Palmira Palma Pinto, diretora provincial de Educação em Inhambane, reconhece que há problemas para o retorno das aulas, mas não avança muitos detalhes. "O que esta por trás desta situação é a problemática de água", diz.

Profissionais de saúde sem material para prevenir Covid-19

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