Ambientalistas recebem Prémio África 2018 em Berlim
Daniel Pelz | kg
28 de novembro de 2018
Gerald Bigurube, da Tanzânia, e Clovis Razafimalala, de Madagáscar, receberam esta terça-feira, em Berlim, o Prémio África 2018, da Fundação Alemanha-África. Ambientalistas arriscam a vida para proteger o meio ambiente.
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Apesar das constantes ameaças pelos esforços em proteger o meio ambiente, Gerald Bigurube, da Tanzânia, e Clovis Razafimalala, de Madagáscar, não se deixam intimidar. "Ambos defendem a conservação da natureza e arriscam as suas próprias vidas. Eles são um obstáculo aos que fazem negócios ilegais com o precioso pau-rosa de Madagáscar e aos que querem destruir o habitat de animais e plantas na Tanzânia para fazer megaprojetos", destacou o presidente do Parlamento alemão, Wolfgang Schäuble.
Como muitos países africanos, a Tanzânia enfrenta um dilema entre o desenvolvimento económico e a proteção ambiental. Os planos de construção de uma central hidrelétrica no Parque Natural de Selous representam um risco para os animais selvagens.
Ambientalistas recebem Prémio África 2018 em Berlim
Como chefe da Autoridade de Parques Nacionais da Tanzânia (TANAPA) e diretor nacional da Sociedade Zoológica de Frankfurt naquele país, Gerald Bigurube luta contra a caça ilegal e pela preservação de áreas ambientais mundialmente conhecidas, incluindo o Parque Nacional Serengeti.
Além da caça furtiva, o crescimento populacional e a expansão de terras aráveis também ameaçam a vida selvagem. "Estamos a ver conflitos crescentes entre as comunidades locais e os elefantes que invadem as suas terras. Esta é outra área em que são necessários mais esforços para garantir que os meios de subsistência das pessoas sejam bem geridos", diz o ambientalista.
Exploração ilegal de madeira
Em Madagáscar, o ativista Clovis Razafimalala, líder da organização Maroantsetra Lampogno, iniciou a luta contra a exploração e o tráfico ilegal de madeira no Parque Nacional de Masoala, área que é património mundial da UNESCO.
Gerald Bigurube: O salvador de elefantes
02:12
Em 2016, foi detido por supostamente organizar um protesto em massa contra a indústria madeireira, embora não estivesse presente na manifestação. Também denunciou planos de empresários e autoridades locais para autorizar a exportação ilegal de pau-rosa para a China.
"O seu compromisso em proteger o meio ambiente não lhe rendeu apenas reconhecimento, mas sobretudo hostilidade e sofrimento. Ameaças de morte e de destruição da sua casa fazem parte do preço alto pago pelo trabalho altruísta que faz pelo meio ambiente", elogiou Volker Faigle, presidente do júri formado por 26 analistas.
As ameaças não detêm Razafimalala, que continua a lutar: "Se eu não parar essas atividades, quem o fará?".
Desde 1993, o Prémio África reconhece personalidades que defendem a paz, a democracia e o desenvolvimento sustentável.
Paraíso natural da Tanzânia em perigo
Selous, na Tanzânia, é a maior reserva natural de África e é Património Mundial da UNESCO há 35 anos, mas está em perigo. O Governo planeia extrair urânio e construir uma barragem. Os ambientalistas fazem soar o alarme.
Foto: WWF Deutschland/Astrid Dill
Natureza pura
A "Reserva de Caça de Selous" é uma das maiores reservas naturais do mundo e a maior em África. São 50.000 quilómetros quadrados de estepe e savana que abrangem várias regiões do sudeste da Tanzânia. A diversidade de animais que aqui vivem é tão grande quanto a reserva em si: hipopótamos, elefantes, girafas, búfalos, leões, crocodilos, chitas, antílopes e mais de 400 espécies de aves.
Foto: WWF Deutschland/Astrid Dill
Passado colonial
A reserva foi criada em 1896 pelo poder colonial alemão. Depois de a administração ser transferida para o Reino Unido, a reserva foi aumentada e batizada de "Selous", em memória de Frederick Selous, um oficial britânico e caçador, que morreu durante a I Guerra Mundial e foi enterrado no parque. Em 1982, a UNESCO declarou a reserva como Património Mundial devido à sua fauna e flora únicas.
Foto: Imago/BE&W
Património em perigo
Mas a UNESCO e várias organizações ambientalistas estão preocupadas. Há três anos que a reserva está na "lista vermelha" dos Patrimónios Mundiais ameaçados, apesar dos protestos do Governo tanzaniano.
Foto: WWF Deutschland/Astrid Dill
Barragem no meio da reserva
O rio Rufiji é um órgão vital da reserva de Selous. O rio serpenteia ao longo de 600 quilómetros e desagua a sul de Dar es Salaam no Oceano Índico. Futuramente, o rio deverá ser usado para produzir energia elétrica, um bem precioso na Tanzânia. O Presidente John Magufuli anunciou recentemente a construção "tão depressa quanto possível" de uma barragem planeada há décadas.
Foto: WWF Deutschland/Michael Poliza
Área enorme submersa
"Seria um duro golpe contra a Natureza", critica a organização ambientalista WWF. De acordo com o projeto, a barragem deverá ter 130 metros de altura e 700 metros de largura. Centenas de quilómetros de quadrados da reserva ficarão debaixo de água numa área superior à das cidades de Bissau, Luanda e Maputo em conjunto.
Foto: WWF Deutschland/Greg Armfield
"Industrialização da Natureza"
A barragem trará inevitavelmente consigo a construção de estradas, áreas industriais e zonas habitacionais para os trabalhadores - no meio da reserva. A WWF teme uma "destruição da natureza intocada e de um dos habitats mais importantes para muitas espécies ameaçadas". A barragem também será motivo de preocupação para o Governo alemão.
Foto: WWF Deutschland/Michael Poliza
18 milhões de euros da Alemanha
Um dia antes do anúncio de Magufuli sobre a construção da barragem no meio da reserva de Selous, o Governo da Tanzânia e o embaixador alemão no país assinaram um "Programa para a Conservação e Desenvolvimento de Selous". O objetivo: Proteger a reserva e mantê-la como Património Mundial da UNESCO. A Alemanha disponibilizou 18 milhões de euros para o projeto.
Foto: Getty Images/MCT/A. Anderson
Extração de urânio no sul
Alvos de críticas são também as concessões da Governo tanzaniano para pesquisar as reservas de petróleo e gás, além de uma mina de urânio na zona sul de Selous. O material radioativo deverá ser separado da rocha a montante do rio Rufiji. Já começaram as primeiras perfurações. A WWF alerta que água contaminada poderá penetrar no solo e misturar-se nos lençóis de água subterrâneos.
Foto: imago/CHROMORANGE
Caça furtiva sob controlo?
O Governo tanzaniano não quer saber das críticas. Aponta, em vez disso, para os sucessos na luta contra a caça furtiva. De facto, a população de elefantes cresceu em Selous. Em tempos, já foram mais de 100 mil, mas, entre 1982 e 2014, o número baixou cerca de 90%.
A caça comercial é autorizada em Selous e é uma fonte de receitas para a reserva e muitos dos 1,2 milhões de habitantes que, tal como estas crianças, vivem na área protegida. Ainda assim, esta reserva atrai bastante menos turistas do que o Parque Nacional de Serengeti, apesar de ser três vezes maior.