Fortes precipitações ou falta de chuva ameaçam com fome as populações da província de Manica, no centro de Moçambique. As autoridades pedem aos camponeses para não baixarem os braços e prometem ajudar.
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Mais de três mil pessoas estão em risco de fome na província de Manica, segundo o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC). Por um lado, a culpa é das chuvas fortes que têm caído este mês e devastaram plantações nos distritos de Mossurize, Sussundenga e Tambara. No distrito de Machaze, o cenário é completamente diferente: quase não chove desde o final do ano passado, e esta é uma época crucial para a produção agrícola.
Pita Muthisse, um camponês do distrito de Machaze, confirma que este ano "há muita fome".
Para já, só lhe resta aguardar pelas chuvas: "Para ver se as culturas lançadas podem reflorescer. Mas não sabemos se isso poderá acontecer". Uma medida tomada por este camponês é usar novas variedades de sementes "para ver se conseguimos alguma coisa", disse à DW África.
Ameaça de fome em Manica
Sementes mais resistentes às intempéries
Telma Vilanculos, técnica distrital do setor agrícola, tem incentivado os camponeses a usarem sementes melhoradas para suprir a produção queimada pela seca ou engolida pelas chuvas.
"Estamos a ensinar os produtores a usar as sementes melhoradas, pois é de um curto ciclo e pode ajudar-nos. Daqui a três meses poderemos colher. Esta variedade também é tolerante à seca", afirma.
As famílias afetadas estão a recorrer à ajuda do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades, que providenciou arroz, feijão, cereais, óleo alimentar e sementes.
Cremildo Quembo, porta-voz do INGC em Manica, diz que o governo da província alocou também bens não-alimentares e encomendou sementes para os camponeses que viram as suas colheitas destruídas, de modo a que não passem fome: "Os bens foram alocados aos distritos de Gondola, Mossurize, Tambara, Sussundenga e Machaze", disse.
A governadora de Manica, Francisca Domingos Tomás, apela à população para não baixar os braços e lançar as sementes, para combater a fome. "A nossa província tem condições climatéricas próprias para nós podermos produzir", garante Tomás.
Moçambique: Muita chuva e pouca água
Ao mesmo tempo que a cidade de Maputo enfrenta as consequências das fortes chuvas que caíram nos últimos dias, na cidade da Matola e na vila de Boane, as populações debatem-se com restrições no fornecimento de água.
Foto: DW/R. da Silva
Residências inundadas
Nos últimos três dias, a cidade de Maputo registou a queda de chuvas intermitentes que causaram inundações e cortes de estradas.
Foto: DW/R. da Silva
Famílias desalojadas
Esta é a situação em alguns bairros periféricos da capital moçambicana. A chuva desalojou 20 famílias, estando as autoridades municipais e o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) à procura de espaços para albergar as famílias afetadas.
Foto: DW/R. da Silva
Falta de água
Entretanto, falta água na cidade da Matola e vila de Boane. A recente queda de uma conduta em Boane provocou restrições no fornecimento de água nesta região. Para fazer frente à situação, carrinhos de tração humana, vulgo "tchovas", ajudam no carregamento de quantidades consideráveis de água tirada das valas de drenagem de algumas zonas da cidade de Maputo.
Foto: DW/R. da Silva
Reservatórios
Por causa da queda da conduta, o abastacecimento de água às cidades de Maputo e Matola e à vila de Boane está a ser feito em dias alternados. Pelo menos, um milhão e meio de cidadãos destes municípios estão a ser afetados. Apenas os residentes com reservatórios não sentem as restrições.
Foto: DW/R. da Silva
Risco de doenças
As restrições no fornecimento de água registam-se desde 8 de fevereiro, tendo a empresa Águas da Região de Maputo prometido resolver o problema em dez dias. Na zona de Nwankakana, a oeste da capital, as águas das valas de drenagem estão a minimizar o problema, apesar dos riscos de contrair doenças. Esta águas são usadas, por exemplo, para lavar roupa e loiça.
Foto: DW/R. da Silva
Uso racional
João Machatine, ministro das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos, apelou à população para tomar medidas de "austeridade e uso racional da água", de modo a "evitar o pior no que diz respeito à escassez de água".
Foto: DW/R. da Silva
Precaução
Preocupados com as restrições em vigor, alguns cidadãos optam por encher vários recipientes de água e carregá-los para as suas casas, de modo a terem água nos dias em que não estão contemplados pelo fornecimento.
Foto: DW/R. da Silva
Água imprópria
Também nos bairros periféricos, como são Maxaquene, Polana-Caniço, Urbanização e Mafalala, o cenário é este. As valas de drenagem continuam a escoar água de forma permanente e os residentes circundados por este canal continuam a aproveitar a água para vários afazeres, mesmo sabendo que esta água não é própria para consumo. Alguns cidadãos aproveitam para tomar banho ao escurecer.
Foto: DW/R. da Silva
Ruas alagadas
Apesar das campanhas de propaganda do Governo sobre a criação de reservatórios de água, que seriam usados em tempos de crise, o projeto não saiu do papel. As zonas baixas de alguns bairros acumulam água e criam cenários de desespero.
Foto: DW/R. da Silva
Mobilização geral
São sobretudo as mulheres que costumam carregar água logo pela manhã. No entanto, em cenários de crise no fornecimento de água, como acontece por estes dias, a procura de água mobiliza toda a população.
Foto: DW/R. da Silva
Crianças também ajudam
Pessoas de todas as idades são vistas no corre-corre em busca do precioso líquido. Nesta imagem, no bairro da Malanga, vemos um jovem e um menor a dirigirem-se à vala de drenagem em busca de água.