Amnistia exige libertação imediata de ativistas em Cabinda
11 de dezembro de 2019
A Amnistia Internacional condena as detenções de dezenas de ativistas do Movimento Independentista de Cabinda (MIC) durante uma manifestação na terça-feira. E denuncia maus-tratos na prisão.
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A Amnistia Internacional estima que as forças de segurança angolanas tenham detido entre 14 e 30 ativistas duranteprotestos na terça-feira (10.11) pela independência de Cabinda.
Segundo a organização de defesa dos direitos humanos, houve um "uso excessivo da força" contra os "manifestantes pacíficos" do Movimento Independentista de Cabinda (MIC), e os detidos estarão a sofrer maus-tratos na prisão.
Em entrevista à DW África, o investigador regional da Amnistia Internacional em Joanesburgo, David Matsinhe, exige a libertação imediata e incondicional dos ativistas.
DW África: Como é que a Amnistia está a acompanhar a situação dos detidos em Cabinda?
David Matsinhe (DM): Nós recebemos informações sobre essas detenções ontem (10.12). Já tínhamos a informação de que os organizadores da manifestação tinham este plano e tinham informado as autoridades de que estava a ser difícil realizar a manifestação, porque a polícia decidiu impedi-la de uma maneira violenta, o que viola mesmo a Constituição da República de Angola e direitos humanos consagrados nos instrumentos internacionais. Ouvimos também falar de uma alegação de que estão a passar maus-tratos [na prisão]. Fala-se de detenções na Polícia de Investigação Criminal, em Cabinda, e nós apelamos às autoridades angolanas para que libertem os jovens, porque não fizeram nada ilegal, estavam a exercer o seu direito constitucional, o seu direito legal, de expressão e assembleia. E apelamos a uma libertação incondicional e imediata.
DW África: Já há contactos com o Governo angolano?
DM: Nós emitimos um comunicado ontem e esperamos que as autoridades angolanas tenham recebido esse comunicado e que escutem as vozes das pessoas que estão a reclamar. Todas as reclamações do povo de Cabinda fazem parte da democracia, do pluralismo político. E só assim é que a sociedade angolana se vai beneficiar e vai crescer. O comunicado está lá, todos têm acesso, incluindo o Estado angolano.
Amnistia exige libertação imediata de ativistas em Cabinda
DW África: Que tipo de maus-tratos estão a enfrentar esse detidos, segundo as informações da Amnistia?
DM: Essas são as alegações que estamos a receber, mas não temos informações concretas sobre o tipo de maus-tratos que eles estão a sofrer. Ainda estamos a fazer diligências para obtermos informação concreta sobre essas alegações.
DW África: A Amnistia sabe o número extato de pessoas que foram detidas ontem?
DM: Bem, o número não está bem claro, mas a informação que recebemos oscila entre 14 a 30 pessoas detidas. É possível que haja mais pessoas nas prisões porque as pessoas são detidas em vários locais e é por isso que ainda estamos a angariar as informações para termos o número exato.
DW África: Essas detenções foram feitas de forma ilegal e à margem das convenções internacionais?
DM: De forma ilegal e violenta, à margem da Constituição da República de Angola e à margem dos instrumentos internaconais de direitos humanos. Estes jovens devem ser libertados imediatamente e sem condições, porque não há bases para a detenção.
Angola: Jovens desempregados marcham em Luanda
O elevado índice de desemprego levou os jovens angolanos novamente às ruas. Durante a caminhada de sábado (08.12) os "kunangas", nome atribuído aos desempregados, exigiram políticas para a criação de postos de trabalho.
Foto: DW/B. Ndomba
Caminhar por mais emprego
Onde estão os 500 mil empregos que o Presidente da República, João Lourenço, prometeu durante a campanha eleitoral de 2017? Foi uma das questões colocadas pelos jovens desempregados que marcharam nas ruas de Luanda. A marcha decorreu sob o lema "Emprego é um direito, desemprego marginaliza".
Foto: DW/B. Ndomba
Apoio popular
Populares e vendedores ambulantes apoiaram o protesto deste sábado, que foi também acompanhado pelas forças de segurança. Participaram na marcha algumas associações como o Movimento Estudantil de Angola (MEA) e a Associação Nova Aliança dos Taxistas. Os angolanos que exigem criação de mais postos de trabalho marcharam do Cemitério da Sant Ana até ao Largo das Heroínas, na Avenida Ho Chi Minh.
Foto: DW/B. Ndomba
Níveis alarmantes
O Governo angolano reconhece que o nível de desemprego é preocupante no país. 20% da população em idade ativa está desempregada, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgados no ano passado. Os jovens em Angola são os mais afetados - 46% não têm emprego.
Foto: DW/B. Ndomba
Palavras de ordem
Os manifestantes exibiram vários cartazes com mensagens dirigidas ao Presidente e ao Governo: "João Lourenço mentiroso, onde estão os 500 mil empregos?", "Ser cobrador de táxi não é minha vontade" e "Por kunangar perdi respeito em casa”, foram algumas das questões levantadas.
Foto: DW/B. Ndomba
Estágios, inclusão e subsídios
Além de empregos, os manifestantes exigem políticas de estágio - para que os recém formados tenham a experiência exigida pelas empresas – e programas que beneficiem pessoas com deficiência física. Este sábado, pediram também ao Governo que atribua subsídio de desemprego aos angolanos que não trabalham.
Foto: DW/B. Ndomba
Sem perspetivas de trabalho
O índice do desemprego piorou com a crise económica e financeira em Angola, desde 2015. O preço do crude caiu no mercado internacional, e, como o país está dependente das exportações de petróleo, entraram menos divisas. Muitas empresas foram obrigadas a fechar as portas e milhares de cidadãos ficaram desempregados.
Foto: DW/B. Ndomba
Formados e desempregados
Entre os manifestantes ouvidos pela DW África em Luanda, histórias como a de Joice Zau, técnica de refinação de petróleo, repetem-se. Concluiu a sua formação em 2015 e, desde então, não teve quaisquer oportunidades de emprego: "Já entreguei currículos em várias empresas no ramo petrolífero e nunca fui convocada", conta. Gostaria de continuar a estudar, mas, sem emprego, são muitas as dificuldades.
Foto: DW/B. Ndomba
É preciso fazer mais
Para a ativista Cecília Quitomebe, o Executivo está a "trabalhar pouco para aquilo que é o acesso ao emprego para os jovens". No final da marcha, a organização leu um "manifesto" lembrando que a contestação à política de João Lourenço começou a 21 de julho, quando o mesmo grupo de jovens exigiu mais políticas de emprego. Na altura, a marcha realizou-se em seis cidades. Este sábado, ocorreu em 12.