A Amnistia Internacional lançou uma campanha para pôr fim à ofensiva em curso contra os defensores dos direitos humanos em todo o mundo. Angola e Moçambique também fazem parte das ações que a ONG vai levar a cabo.
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A Amnistia Internacional (AI) iniciou esta terça-feira (16.05) uma campanha global cujo objetivo é pôr fim à ofensiva atualmente em curso contra os defensores dos direitos humanos. A campanha "BRAVE", com duração de dois anos, visa fazer pressão, entre outros meios, junto de governos e decisores políticos para que estes tenham uma voz mais ativa na proteção dos ativistas.
Angola e Moçambique são dois dos países lusófonos que continuarão a merecer a atenção da representação portuguesa da organização não-governamental. Cabe à representação em Portugal da AI desenvolver uma frente de pressão na África lusófona, por causa da relação que tem com todos os países de língua portuguesa.
"O que nós vamos fazer é manter, por um lado, uma campanha de pressão pública, de mobilização pública, para continuaramos o trabalho de alerta para a sociedade civil sobre aquilo que vai acontecendo em Angola e Moçambique", explica Pedro Neto, diretor executivo da Amnistia Internacional Portugal.
Atentos às eleições em Angola
Em Angola, onde haverá eleições em 23 de agosto deste ano, a atenção da AI será redobrada, para que "toda a gente em Angola possa ter voz e não tenha medo de se expressar", adianta Pedro Neto.
"Têm vindo a acontecer algumas manifestações que são continuamente reprimidas", sublinha o responsável da Amnistia, lembrando que a história não é nova.
"Já tivemos esse problema com os 17 ativistas que foram presos e que um ano depois foram libertados. Alguns desses ativistas, nomeadamente Luaty Beirão, foram agredidos pela polícia e por forças do Governo em manifestações que fizeram depois dessa data e já este ano".
O âmbito desta campanha é que as pessoas possam falar seja o que for", desde que não desrespeitem os direitos humanos, "o que não está a acontecer em Angola", onde continuam a registar-se novas prisões, lembra ainda Neto.
AI quer mais proteção para ativistas em Angola e Moçambique
Por isso, a ONG pretende trabalhar e envolver as pessoas, tanto em Angola como em Moçambique, para que estes países "possam cada vez mais dar espaço às pessoas que defendem os direitos humanos e que trabalham por causas nobres", explica Pedro Neto.
Em Portugal, a pressão tem como figuras centrais líderes políticos como o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, António Costa, que serão interpelados através de um manifesto, para que exerçam influência "junto dos seus pares de outros países, para que eles cumpram também com os direitos humanos", explica
Aumento significativo de mortes
Num documento hoje divulgado, a organização não-governamental de defesa dos direitos humanos indicou que em 2016 foram mortas 281 pessoas "por terem a coragem de se insurgir contra a injustiça", um aumento substancial em relação às 156 mortes registadas em 2015.
De acordo com a Amnistia Internacional, líderes comunitários, advogados, jornalistas e outros defensores dos direitos humanos por todo o mundo têm sido alvo de níveis sem precedentes de perseguição, intimidação e violência.
Pedro Neto exorta os governos e forças políticas a considerarem os direitos humanos como "uma prioridade para que o mundo possa ser melhor", garantindo esse bem estar aos seus cidadãos.
Artivismo: a arte política de André de Castro
O papel político da arte é o mote de "Liberdade Já", a exposição do artista brasileiro André de Castro que lembra, entre outros ativistas, os presos políticos angolanos.
Foto: MUXIMA/A. Ludovice
"Liberdade Já" em serigrafia
A arte pode ter uma missão política - é o que prova esta exposição de André de Castro, a primeira mostra a solo do artista visual brasileiro na Europa. Este primeiro painel à entrada da exposição, em Lisboa, é um tributo aos presos políticos angolanos. O autor deu-lhe o título de "Liberdade Já", slogan que alimentou o movimento de solidariedade internacional pela libertação dos ativistas.
Foto: MUXIMA/A. Ludovice
Debate sobre política internacional
Tanto este projeto "Liberdade Já" (2015) como "Movimentos" (2013-2014) tiveram repercussão mundial. O artista brasileiro destaca, através das suas obras, os jovens presos políticos de Angola, libertados em 2016. As suas imagens acabam por incentivar o debate sobre acontecimentos políticos internacionais.
Foto: MUXIMA/Andrea Ludovice
Os "revús" compõem o painel…
O artista compõe o painel com "monoprints" em serigrafias repetidas. Aqui podem ver-se alguns dos jovens angolanos presos em Luanda, em 2015, por discutirem um livro sobre métodos pacíficos de protesto. Luaty Beirão, Domingos da Cruz, Nuno Álvaro Dala, Nito Alves, Benedito Jeremias e Nelson Dibango, entre outros, foram julgados pelo crime de atos preparatórios para a prática de rebelião.
Foto: DW/J. Carlos
… e multiplicam-se pelo mundo digital
O luso-angolano Luaty Beirão foi escolhido como símbolo do ativismo político, dando força à exposição, com a curadoria da Muxima. Os retratos multiplicaram-se no mundo digital, foram reproduzidos em t-shirts e posters. A venda das serigrafias expostas em mostras coletivas em Lisboa e Nova Iorque, em 2016, reverteu integralmente a favor das famílias dos presos políticos angolanos.
Foto: DW/J. Carlos
Além de Angola...
Em dezembro, André de Castro comemorou com as irmãs a abertura da exposição em Lisboa, que também apresenta rostos de ativistas como José Marcos Mavungo, advogado e ativista de Cabinda. Além de Angola, o artista desafia os visitantes a revisitar o movimento da Primavera Árabe. Dá a conhecer as pessoas e as suas lutas, propondo um ângulo mais pessoal e humano na narração do momento histórico.
Foto: MUXIMA/Andrea Ludovice
Arte como ator social
No interesse do público e das comunidades, o artista brasileiro assume ser um promotor social. "Ao expor 'Movimentos' e 'Liberdade Já' juntos, a mostra permite um recorte da arte como ator social, questionando intenção, receção, apropriação e estética nas ruas e na internet", afirma André de Castro. É o que mostra a coleção "Movimentos", colocada na outra parede da sala.
Foto: MUXIMA/Andrea Ludovice
Coragem para mudar o mundo
Nesta segunda parede, André de Castro imortaliza várias causas em diversas partes do mundo. São mulheres e homens que recusam aceitar a forma como são tratados pelos respetivos Estados. Acreditam, tal como o autor da exposição, que o mundo pode ser muito melhor. Por isso, com coragem, decidiram sair à rua.
Foto: MUXIMA/Andrea Ludovice
Identidade política dos manifestantes…
Este primeiro projeto de André de Castro, em 2013, foi selecionado para a 11ª Bienal Brasileira de Design Gráfico e visto por mais de 40 mil visitantes, passando por Miami (2013), Nova Iorque (2014) e Brasília (2015). As serigrafias, que resultam de entrevistas realizadas através das redes sociais, retratam as identidades políticas dos manifestantes de diferentes países.
Foto: DW/J. Carlos
… e cultura das manifestações
Através das serigrafias, o artista procurou valorizar a força da ação individual dos manifestantes. Cada participante enviou uma foto de rosto, usando as redes sociais, e respondeu a uma série de perguntas sobre a sua identidade política. Assim, foram criados retratos políticos individuais que, em conjunto, formam uma mini etnografia da cultura material e imaterial das manifestações.
Foto: DW/J. Carlos
Do outro lado do mundo
Em Nova Iorque, no Zuccotti Park, a sugestão original foi ocupar Wall Street, símbolo dos capitais financeiros internacionais. Porque, afinal, foi a especulação de capitais que deu origem à crise que atormentou o mundo há anos. Questiona Daniel Aarão Reis, ao apresentar a exposição: "Como aceitar que os responsáveis não ficassem com o fardo principal das medidas de superação desta mesma crise?"
Foto: DW/J. Carlos
Novos dispositivos de mobilização
A arte política de André de Castro, que também evoca figuras como Ghandi e Martin Luther King, faz lembrar a tradição dos grandes movimentos dos anos 1960, que dispensava partidos e sindicatos. Ao invés disso, surgiram novos dispositivos de mobilização e de ação.
Foto: DW/J. Carlos
Espelho D’ Água valoriza as serigrafias
A exposição, que também será posteriormente exibida no Porto (a norte de Portugal), encontra-se no Espaço Espelho D’Água, em Lisboa. A calçada deste espaço, tipicamente portuguesa, foi construída com base numa obra do autodidata artista plástico angolano, Yonamine, que tem vivido em diversos países de África, Europa e América do Sul.