Ana Gomes desmente declarações de Isabel dos Santos
24 de novembro de 2022
A ex-eurodeputada Ana Gomes diz que não correspondem à verdade as afirmações de Isabel dos Santos, em entrevista à DW, sobre a suposta manipulação e falsidade do Luanda Leaks e a inocência perante acusações de corrupção.
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Em entrevista exclusiva à DW, a empresária angolana Isabel dos Santos, filha do antigo Presidente da República de Angola José Eduardo dos Santos, acusa o Estado angolano de ter colocado nas mãos dos jornalistas informações falsas no âmbito do caso Luanda Leaks.
Isabel dos Santos, que é alegadamente alvo de um mandado de captura internacional, nega que esteja arrolada em processos judiciais internacionais, afirmando que estão a decorrer em vários países "inquéritos" motivados pelas informações divulgadas no âmbito da investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (CIJI).
A ex-eurodeputada portuguesa Ana Gomes, que tem vindo a denunciar vários casos envolvendo a empresária angolana, diz que não correspondem à verdade as afirmações de Isabel dos Santos. Segundo a ex-eurodeputada, tudo o que foi revelado na investigação jornalística Luanda Leaks foi certificado antes.
DW África: As afirmações de Isabel dos Santos correspondem à verdade?
Ana Gomes (AG): O Luanda Leaks é uma investigação jornalística com base em revelações feitas pelo Rui Pinto. É uma investigação que tem a credibilidade do consórcio de jornalistas que tem estado por trás de revelações como os Panama Papers e os Paradise Papers, etc. Foi tudo verificado pelos jornalistas.
DW África: Mas Isabel dos Santos diz que foi o Estado angolano que forjou documentos falsos e os entregou aos jornalistas, que foram manipulados.
AG: Não é verdade. A principal fonte do Luanda Leaks é o jovem português Rui Pinto, que é também a principal fonte do Football Leaks. Toda a informação foi verificada e re-verificada por jornalistas. Para além de acionista de alguns dos bancos, com participações qualificadas, ela era também administradora de um banco em Portugal. E essa era obviamente uma posição ideal para poder fazer as operações de branqueamento de capitais dos recursos que eram desviados de Angola.
Isabel dos Santos à DW: "Ganhei muitos inimigos"
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DW África: Isabel dos Santos nega que tenha roubado o Estado angolano, diz que criou a Unitel com fundo próprio e depois conseguiu empréstimos nos bancos para expandir o seu negócio.
AG: Ela era filha do Presidente de Angola. Ela nunca teria acesso aos recursos e às posições que teve nessas empresas e aos recursos do próprio Estado angolano se não fosse filha do Presidente angolano. Em termos da legislação internacional quanto ao combate ao branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo, ela era uma pessoa politicamente exposta, exatamente pelas suas ligações ao Presidente angolano. Possivelmente, muito do dinheiro que ela investiu em Portugal, desviado dos recursos angolanos, era não só dinheiro dela, mas também do pai. Um dos esquemas a que a senhora Isabel do Santos recorreu foi o dos empréstimos, um esquema clássico para a lavagem de dinheiro - que sabia que vinha de origens contestáveis, muitas delas de recursos desviados do seu país e obviamente tendo a possibilidade de movimentar essas quantias porque tinha uma posição privilegiada sendo filha do Presidente de Angola e não por mérito próprio como empresária.
DW África: O que lhe parece o mandado de captura internacional alegadamente emitido pela PGR de Angola?
AG: Acho que esse mandado tardava da parte das autoridades angolanas, tal como tarda qualquer mandado de captura por parte das autoridades portuguesas. Qualquer indivíduo com fome que rouba uma galinha, é preso. No caso da senhora Isabel dos Santos, que contraiu empréstimos de milhões junto da banca portuguesa e deixou os bancos portugueses "a arder", até hoje não foi acionado nenhum procedimento por parte das autoridades judiciais portuguesas, o que eu acho inaceitável e que é também produto de uma cumplicidade política.
Quem são as mulheres mais poderosas de África?
Nove mulheres africanas dão que falar no mundo da política e dos negócios, geralmente dominado por homens. Saiba quem são e como se têm destacado.
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Primeira mulher Presidente em África
Ellen Johnson Sirleaf foi a primeira mulher eleita democraticamente num país africano. De 2006 a 2018, governou a Libéria, lutando contra o desemprego, a dívida pública e a epidemia do ébola. Em 2011, ganhou o Prémio Nobel da Paz por lutar pela segurança e direitos das mulheres. Atualmente, lidera o Painel de Alto Nível da ONU sobre Migração em África.
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Um grande passo para as mulheres etíopes
Sahle-Work Zewde foi eleita, em outubro, Presidente da Etiópia. O poder no país é exercido pelo primeiro-ministro e o Conselho de Ministros. Entretanto, a eleição de uma mulher para a cadeira presidencial é considerada um grande avanço na sociedade etíope, onde os homens dominam os negócios e a política. Mas isto está a mudar. Hoje em dia, metade do Governo é formado por mulheres.
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Mulher mais rica de África
Isabel dos Santos tem uma reputação controversa em Angola. É filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, que a colocou na administração da Sonangol em 2016. Mas o novo Presidente, João Lourenço, luta contra o nepotismo e despediu Isabel dos Santos. Mesmo assim, dos Santos ainda detém muitas participações empresariais e continua a ser a mulher mais rica de África, segundo a revista Forbes.
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Magnata do petróleo e benfeitora da Nigéria
1,6 mil milhões de dólares norte-americanos é a fortuna da nigeriana Folorunsho Alakija. A produção de petróleo faz com que a dona da empresa Famfa Oil seja a terceira pessoa mais rica da Nigéria. Com a sua fundação, a mulher de 67 anos apoia viúvas e órfãos. Também é a segunda mulher mais rica de África, apenas ultrapassada pela fortuna de Isabel dos Santos de 2,7 mil milhões (segundo a Forbes).
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Oficial da dívida da Namíbia
Na Namíbia, uma mulher lidera o Governo: desde março de 2015, Saara Kuugongelwa-Amadhila é primeira-ministra – e a primeira mulher neste escritório na Namíbia. Anteriormente, foi ministra das Finanças do país e perseguiu uma meta ambiciosa: reduzir a dívida nacional. A economista é membro da Assembleia Nacional da Namíbia desde 1995.
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Discrição e influência
Jaynet Kabila é conhecida pela sua discrição e cuidado. Irmã gémea do ex-Presidente congolês Joseph Kabila, é membro do Parlamento da República Democrática do Congo e também é dona de um grupo de meios de comunicação. Em 2015, a revista francesa Jeune Afrique apontou-a como a pessoa mais influente do Governo na RDC.
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Triunfo diplomático
A ex-secretária de Estado do Ruanda, Louise Mushikiwabo, será secretária-geral da Organização Internacional da Francofonia em 2019. Isto, mesmo depois de o país ter assumido o inglês como língua oficial há mais de 10 anos. A escolha de Mushikiwabo para o cargo é vista como um triunfo diplomático. O Presidente francês, Emmanuel Macron, foi um dos apoiantes da sua candidatura.
Outra mulher influente: a nigeriana Amina Mohammed, vice-secretária-geral das Nações Unidas desde 2017. Entre 2002 e 2005, já tinha trabalhado na ONU no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio. Mais tarde, foi assessora especial do então secretário-geral, Ban Ki-moon, e, por um ano, foi ministra do Meio Ambiente na Nigéria.
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A ministra dos recordes no Mali
Recente no campo da política externa, Kamissa Camara é a mais jovem na política e primeira ministra do Exterior da história do Mali. Aos 35 anos, foi nomeada para o cargo pelo Presidente Ibrahim Boubacar Keïta e é agora uma das 11 mulheres no Governo. No total, o gabinete maliano tem 32 ministros.