Analista defende maior controlo das florestas moçambicanas
Arcénio Sebastião (Beira)
7 de fevereiro de 2018
Em duas semanas, as autoridades moçambicanas apreenderam 101 contentores com madeira ilegal que tinha como destino final a China. Analista diz que é preciso apertar ainda mais a fiscalização.
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A última apreensão ocorreu na segunda-feira (05.02), durante uma fiscalização no posto policial do distrito de Dondo, na província central de Sofala. 75 contentores de madeira ilegal seguiam em direção à Beira, transportados em 15 camiões. 40 já estavam no interior de um parque. A madeira acabou por ser apreendida pelas autoridades locais.
"Os colegas do posto depararam-se com a presença de camiões carregados de contentores, sem documentos de transporte. Exigida a documentação da carga, só foi apresentada a guia de remessa", disse Domingos Cuinda, chefe de fiscalização dos serviços provinciais de Floresta e Fauna Bravia de Sofala.
Foram apreendidos mais de 2 mil metros cúbicos de madeira, no valor de 93 milhões de meticais - cerca de 1,2 milhões de euros. A apreensão vai ser revertida a favor do Estado.
"Por via de acórdãos do tribunal aduaneiro vai-se promover a venda em hasta pública ou outras medidas para recuperar esse valor", explicou Raimundo Mapanzene, da Autoridade Tributária de Moçambique.
Esta operação sucede a outra, na passada quinta-feira (01.02), em que as autoridades moçambicanas apreenderam 26 contentores de madeira em situação ilegal que circulavam por via férrea desde a vila de Moatize até ao porto da cidade da Beira.
"Necessária mais fiscalização nas zonas de abate"
Hamid Taybo, presidente da ADEL Sofala - Agência de Desenvolvimento Económico Local, aplaude estas apreensões, mas lamenta que as operações de fiscalização não sejam feitas mais cedo, nas zonas de corte das árvores.
"É importante que se invista mais nas zonas de abate, que se dê mais poder aos fiscais do Estado, aos fiscais comunitários, e que os comités de gestão de recursos naturais tenham um papel na fiscalização da madeira", afirma Taybo.
Risco para florestas
A autoridade tributária de Moçambique prevê instalar um dispositivo de fiscalização na linha férrea para controlar a circulação de mercadorias ao longo da linha de Sena.
Mas isso não chega, segundo Hamid Taybo. Este analista lembra que é "imprescindível" que se controle também o diâmetro das árvores cortadas. "Temos tido conhecimento que árvores com menos de 12 centímetros de diâmetro estão a ser abatidas e exportadas para o mercado asiático", diz. "É necessário mapear as áreas de concessão, utilizando GPS, para controlar as árvores que estão a ser cortadas."
Analista defende maior controlo das florestas moçambicanas
A madeira de nove dos contentores apreendidos ia ser exportada como toros, o que é proibido pela lei moçambicana. Nos outros contentores, a madeira já cortada não tinha a documentação necessária, segundo Domingos Ncuinda, citado pelo jornal Diário de Moçambique.
Ainda de acordo com o fiscal, esta mercadoria pertencia à empresa chinesa Xeng Xeng, que se dedica à compra e exportação de madeira em Moçambique. A empresa será multada em cerca de 3,6 milhões de meticais (47 mil euros).
O alerta para a circulação de madeira ilegal por via ferroviária foi feito pela direção-geral da Agência Nacional para Controlo da Qualidade Ambiental. Em novembro passado, já no recinto portuário na Beira, também foram apreendidos 120 contentores já despachados para o embarque com destino à China.
O Governo moçambicano estima que o país perde anualmente entre 140 a 187 milhões de euros devido ao contrabando de madeira.
Parque Nacional da Gorongosa: uma história de sucesso
Depois de dizimado com a guerra civil moçambicana, muitos desistiram de recuperar a vida sevagem do parque. Mas uma fundação apostou na recuperação. O maior parque de vida selvagem do país é hoje exemplo de prosperidade.
Foto: Gorongosa National Park/Clive Dreyer
Só, nunca mais
O Parque Nacional da Gorongosa tem uma história turbulenta. Até há uns anos, este leão poderia sentir-se solitário, mas entretanto a população de leões cresceu. Hoje o parque tem uma área de mais de 4.000 quilómetros quadrados, com uma zona tampão adicional de 3.300 quilómetros quadrados. Uma relíquia num país de 25 milhões de habitantes.
Foto: Gorongosa National Park/Ticky Rosa
Paisagem de perder de vista
O parque está localizado no extremo sul do Grande Vale do Rift, que vai desde a Etiópia, Quénia e Tanzânia, antes de terminar em Moçambique. Esta característica geológica única cria um enorme vale cercado de planaltos. No geral, cerca de dois terços do vale são constituídos por savana, 20% são pastagens e o restante é área de floresta.
Foto: Gorongosa National Park/James Byrne
Memória de elefante
Embora parte da área do parque tenha sido reservada para zona privada de caça, em 1920, as autoridades coloniais portuguesas criaram o parque nacional até 1960. Depois da guerra de libertação, Moçambique tornou-se independente em 1975. Seguiu-se a guerra civil que terminou em 1992. Alguns elefantes mais velhos estão ainda traumatizados pelo conflito.
Foto: Gorongosa National Park/Jean Paul Vermeulen
Dias sombrios do parque
Em 1977, dois anos depois da independência, Moçambique mergulhou numa violenta guerra civil. O parque foi duramente afetado. A Resistência Nacional Moçambicana instalou o seu comando central numa zona do parque. As duas partes em conflito dizimaram animais para alimentação e tráfico de marfim, para financiar a guerra. Em 1983, o parque foi encerrado e abandonado.
Foto: Gorongosa National Park/Jean Paul Vermeulen
O regresso a casa
Depois da guerra civil ter terminado em 1992, o parque permaneceu fechado. Estima-se que entre 90% e 95% da vida selvagem do parque se tenha perdido. Dados daquela altura apontam para apenas 15 búfalos, 5 zebras, 6 leões, 100 hipopótamos e 300 elefantes. Os primeiros animais a regressar foram aves. Hoje, o parque alberga mais de 400 espécies.
Foto: Gorongosa National Park/Piotr Naskrecki
Clima especial para circunstâncias especiais
Devido à sua topografia, o parque tem vários microclimas e um ciclo anual de estações húmidas e secas, o que contribui para a sua diversidade.
Num esforço para revitalizar o parque, foram contratados novos funcionários, em 1994, com o apoio do Banco Africano de Desenvolvimento e da União Europeia. Lentamente, o espaço estava a recuperar, mas às vezes a natureza precisa de uma mão amiga.
Foto: Gorongosa National Park/Paul Kerrison
Esforços de todas as partes
Em 2004, a Fundação Carr, com sede nos Estados Unidos, aliou-se ao Governo de Moçambique num projeto para reconstruir o parque e reintroduzir animais. Um esforço para restaurar vida selvagem devastada. Este projeto piloto teve tanto sucesso que em 2008 a fundação e seu fundador, Gregory Carr, concordaram em continuar a recuperar o parque, acordando numa gestão conjunta por mais 20 anos.
Foto: Gorongosa National Park/Piotr Naskrecki
Um verdadeiro final feliz
O Parque Nacional da Gorongosa passou por várias etapas: de reserva de caça privada, a parque nacional e campo de batalha antes de voltar a ser um parque nacional. Nos últimos anos, muitos milhões foram investidos no parque e nas comunidades locais. É a prova viva que a vida selvagem pode renascer das cinzas - com paciência, muita força de vontade e dinheiro.