Analistas criticam discurso "fraco" na campanha guineense
Iancuba Dansó (Bissau)
18 de novembro de 2019
Os discursos e linguagem dos concorrentes à Presidência da República da Guiné-Bissau estão a ser criticados pelos analistas, que consideram que há um nível de debate "fraco". Guineenses vão a votos no dia 24 de novembro.
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A campanha eleitoral para as eleições presidenciais de domingo (24.11) na Guiné-Bissau entra esta segunda-feira (18.11) na reta final.
Os discursos dos 12 candidatos a Chefe de Estado têm sido caracterizados por ataques pessoais e troca de acusações sobre a venda dos recursos naturais do país, embora haja candidatos que estão também focados na apresentação do seu projeto político ao eleitorado guineense.
O tema do tráfico de droga no país tem também sido usado recorrentemente como "arma de arremesso" na discussão eleitoral.
Défice de conhecimento por parte dos candidatos
Paulo Vasco Salvador Correia, professor universitário, considera a existência de um défice de conhecimento dos princípios democráticospor parte dos políticos. "É muito preocupante o fraco nível de debate político, o que denuncia a falta de preparação dos atores políticos", referiu.
"Lamentavelmente, não se vislumbra no horizonte, a melhoria do debate político a curto prazo. É caso para dizer de que as duas décadas e meia da democracia foram só duas décadas do exercício da democracia e não do exercício democrático. Em termos dos conhecimentos dos princípios democráticos, praticamente não se nota nenhuma experiência e nenhum conhecimento", comenta.
"A saúde, a educação e o acesso à justiça, que estão fora dos discursos da maioria dos candidatos, são temas de debate nas ruas", indica ainda.
Analistas criticam discurso "fraco" na campanha guineense
Para Adama Baldé, vice-presidente da Rede Nacional das Associações Juvenis (RENAJ), os discursos dos candidatos às eleições não estão a ser motivantes. "Os discursos políticos estão a ser menos interessantes, porque não se traz o essencial para o povo", afirmou.
"Enquanto jovens, almejávamos ter discursos mais assertivos e debates nos quais os candidatos digam o que têm para este povo e como poderão influenciar os outros órgãos da soberania para levar uma boa imagem do país o mais longe possível", disse.
Situação política em risco de se deteriorar
"Podemos esperar o agravar da situação, o intensificar das acusações, dos discursos enraizados no ódio, na segregação e divisão étnica", adverte Paulo Vasco Salvador Correia.
"Esperamos que a situação política venha a deteriorar-se nos últimos. No fundo, estamos a tratar de pessoas que da política, da prática e cultura política conhecem muito pouco. Estamos a falar de políticos que não têm proposta e nem projeto social", critica o professor universitário.
A televisão e a rádio nacionais têm promovido debates entre os candidatos, mas os analistas continuam a lamentar aquilo que consideram ser a falta de preparação de alguns concorrentes para dar respostas às questões essenciais.
A campanha eleitoral termina na sexta-feira (22.11). A Guiné-Bissau realiza eleições presidenciais em 24 de novembro, estando a segunda volta, caso seja necessária, marcada para 29 de dezembro.
Farpas e elogios: Frases das eleições na Guiné-Bissau
Principais partidos políticos, sociedade civil e comunidade internacional acompanham de perto contagem de votos na Guiné-Bissau. CNE só divulga resultados na quarta-feira (13.03), mas PAIGC já canta vitória.
Foto: Getty Images/AFP/SEYLLOU
PAIGC
O PAIGC declarou-se, na segunda-feira (11.03), vencedor das eleições legislativas de 10 de março na Guiné-Bissau. O porta-voz do partido João Bernardo Vieira garantiu que o povo conferiu ao PAIGC os destinos do país. No domingo, após votar, o líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, disse que estas eleições representam "um momento de viragem" para que, na Guiné-Bissau, "o império da lei vingue".
Foto: DW/F. Tchumá
MADEM-G15
Após o anúncio do PAIGC, o Movimento para a Alternância Democrática frisou que ninguém ganhou as eleições com maioria absoluta e que também fará parte do próximo Governo do país. As declarações de Braima Camará no domingo, dia das eleições, foram das mais críticas, pois o líder do MADEM-G15 acusou o primeiro-ministro de "usar dinheiro público para corromper líderes de opinião no dia de reflexão".
Foto: DW/J. Carlos
PRS
O Partido da Renovação Social disse, esta terça-feira, que "é falsa a informação da maioria folgada que o PAIGC sustenta para semear a confusão"."Nenhuma das forças políticas atingiu sequer a barra dos 40 deputados", disse Vítor Pereira. No domingo, depois de votar, Alberto Nambeia, líder do PRS, disse que esta votação constitui um "balão de oxigénio" para o povo, que quer mudanças no país.
Foto: DW/B. Darame
FREPASNA
Baciro Djá considera que era o candidato com mais experiência nestas eleições e, por isso, o justo vencedor. No entanto, esta segunda-feira, o líder do partido Frente Patriótica para a Salvação Nacional (FREPASNA) foi o primeiro a reconhecer a derrota no pleito. "Consideramos que o nosso resultado foi péssimo e a responsabilidade máxima é minha, enquanto presidente do partido", disse.
Foto: Presidency of Guinea-Bissau
Comissão Nacional de Eleições (CNE)
Pouco depois do arranque do pleito, no domingo, José Pedro Sambú, presidente da CNE, disse aos jornalistas que o processo estava a decorrer num "clima de transparência e sem sobressaltos". O mesmo cenário foi reportado pela porta-voz da comissão, ao final do dia. Felizberta Vaz garantiu ainda que os "pequenos problemas" que surgiram foram resolvidos. A CNE divulga os resultados esta quarta-feira.
Foto: CNE
Presidente da República
Em declarações aos jornalistas, depois de votar, no domingo, José Mário Vaz garantiu que os observadores estavam "surpresos" pela positiva com a Guiné-Bissau. O Presidente guineense pediu à imprensa para que passasse lá para fora essa "grande imagem" da Guiné-Bissau como um país onde "não há problemas". "Considero a Guiné-Bissau hoje campeã da liberdade", disse.
Foto: Getty Images/AFP/Seyllou
Primeiro-ministro guineense
Também no domingo, o primeiro-ministro guineense disse estar emocionado com a concretização de um processo eleitoral "difícil e intenso", no qual foi "necessária a intervenção da comunidade internacional". Aristides Gomes acrescentou ainda que, apesar das dificuldades, este foi um processo cheio de "pedagogia".
Foto: Präsidentschaft von Guinea-Bissau
Organização das Nações Unidas
David McLachlan-Karr, enviado das Nações Unidas à Guiné-Bissau, tem estado a reportar, com frequência, o ambiente vivido no país nestas eleições, nas redes sociais. Esta segunda-feira, o representante da ONU deu os parabéns à população guineense que, "em todo o país, saiu [às ruas] para votar pacificamente e com muito orgulho cívico".
Foto: DW/B. Darame
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
Também a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), na pessoa de Luiz Villarinho Pedroso, acompanhou de perto a votação. No domingo, dia da eleição, o chefe da missão da CPLP disse que estas eleições foram um "exercício cívico exemplar", que decorreu com a "maior tranquilidade e normalidade". O balanço preliminar do escrutínio será feito ao longo desta terça-feira (12.03).
Foto: DW/N. dos Santos
CEDEAO
À semelhança da ONU e da CPLP, também a CEDEAO deu nota positiva às eleições guineenses. Numa conferência de imprensa, esta segunda-feira (11.03), Kadré Désiré Ouedraogo, chefe da Missão de Observação da CEDEAO, disse que as legislativas no país decorreram "de forma pacífica e transparente". Acrescentou ainda que espera que "todos [os partidos] aceitem os resultados".
Foto: DW/B. Darame
União Africana
Após o encerramento das urnas na Guiné-Bissau, Rafael Branco, chefe da Missão de Observação Eleitoral da União Africana destacou a forma tranquila com que decorreu o processo e salientou a "participação cívica notável".
Foto: DW/Nélio dos Santos
Liga Guineense dos Direitos Humanos
Também as organizações locais fizeram chegar elogios. À semelhança do que foi dito pela CNE, Augusto Mário da Silva, presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, disse ter havido registo de "algumas falhas", mas "que foram imediatamente supridas". Tirando os atrasos na abertura das urnas em algumas mesas e trocas de cadernos eleitorais, "o processo decorreu de forma regular", disse.
Foto: DW/B. Darame
Sociedade Civil
Por último, a Célula de Monitorização do Processo Eleitoral salientou, esta segunda-feira, que "os eleitores compareceram em massa para exercer o seu direito de voto". Este grupo de monitorização das eleições, composto por 420 pessoas, espalhadas por todo o país, saudou também "a boa presença das forças de segurança nos centros de votação observados".