Especialistas políticos consideram que a não nomeação para já de um novo embaixador angolano em Lisboa é normal nas relações diplomáticas entre os países. Motivos da ausência temporária continuam no segredo dos deuses.
Publicidade
Uma semana depois da exoneração do embaixador Marcos Barrica, João Lourenço ainda não nomeou o novo representante de Angola junto das autoridades portuguesas. Embora Angola já tenha indicado junto do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal o nome do sucessor de Marcos Barrica, desconhecem-se as razões da tardia nomeação do novo embaixador.
De acordo com o semanário Expresso, que cita fonte da Presidência angolana, a decisão deve-se à tensão nas relações entre Angola e Portugal, devido ao processo "Operação Fizz", que envolve o ex-vice-Presidente angolano, Manuel Vicente.
Analistas contactados pela DW África minimizam o assunto. Para o analista político Olívio Kalumbu, o importante é que existe um encarregado de negócios enquanto durar a ausência de um novo embaixador. "Portugal é um país tão estratégico para Angola tanto como Angola para Portugal, lembra.
"Quem vai nesta altura para Portugal tem de perceber a nova dinâmica e a nova visão diplomática do novo chefe de Estado angolano, de modo a tentar criar outro ambiente, diferente daquele que foi criado durante os nove anos que Marcos Barrica esteve lá como embaixador", considera Olívio Kalumbu
Morosidade normal
Augusto Bafuabafua, especialista em questões internacionais, diz que, embora não seja muito comum em diplomacia, não há qualquer gravidade na morosidade da nomeação de um novo embaixador. "O processo de nomeação não é sempre imediato. Pode demorar alguns dias e algumas semanas em função daquilo que é o processo interno", lembra o analista.
Analistas desvalorizam ausência de embaixador de Angola em Portugal
"O que não é muito comum é exonerar e deixar de cadeira vazia, embora eu tenha a informação de forma oficiosa que o próximo embaixador de Angola está numa formação", revelou à DW África.
O especialista em relações internacionais Augusto Bafuabafua acredita que as relações entre os dois países não podem ser mais abaladas do que já estão - apesar de o Presidente de Angola, João Lourenço, ter condicionado as relações com Portugal por causa do processo contra Manuel Vicente e em resposta o Governo português ter igualmente esclarecido que o assunto não era da sua alçada.
"Não vai haver política vazia. Não é possível no quadro das relações de amizade e da cooperação com outros estados, porque o certo a acontecer era mais fácil acontecer em janeiro ou no final do ano passado", argumenta.
O analista Olívio Kalumbu está convicto que nos próximos dias Angola poderá nomear um novo embaixador em Portugal. "Eu tenho muitas dúvidas que existam situações de má-fé ou de política de cadeira vazia", diz.
A DW África procurou, sem sucesso, ouvir o ministro das Relações Exteriores de Angola, Manuel Augusto.
De fortalezas a cinemas: o património colonial português em África
A colonização portuguesa nos países africanos deixou edificações históricas, que vão desde fortificações militares, igrejas, estações de comboio, até cinemas. Boa parte deste património ainda resiste.
Foto: DW/J.Beck
Calçada portuguesa
Na Ilha de Moçambique, antiga capital moçambicana, na província de Nampula, a calçada portuguesa estende-se à beira mar. A herança colonial que Portugal deixou aqui é imensa e está presente num conjunto de edificações históricas, entre fortalezas, palácios, igrejas e casas. Em 1991, este conjunto foi reconhecido como Património Mundial da UNESCO.
Foto: DW/J.Beck
Fortaleza de São Sebastião
A Fortaleza de São Sebastião, na Ilha de Moçambique, começou a ser erguida pelos portugueses em 1554. O motivo: a localização estratégica para os navegadores. Ao fundo, vê-se a Capela de Nossa Senhora do Baluarte, de 1522, que é considerada a mais antiga estrutura colonial sobrevivente no sul de África.
Foto: DW/J.Beck
Hospital de Moçambique
O Hospital de Moçambique, na Ilha de Moçambique, data de 1877. O edifício de estilo neoclássico foi durante muito tempo a maior estrutura hospitalar da África Austral. Atualmente, compõe o património de construções históricas da antiga capital moçambicana.
Foto: DW/J.Beck
Fortaleza de Maputo
A Fortaleza de Maputo situa-se na baixa da capital moçambicana e é um dos principais monumentos históricos da colonização portuguesa no país. O espaço foi ocupado no início do século XVIII, mas a atual edificação data do século XX.
Foto: DW/J.Beck
Estação Central de Maputo
Desde a construção da Estação Central dos Caminhos-de-Ferro (foto) na capital moçambicana, no início do século XX, o ato de apanhar um comboio ganhou um certo charme. O edifício, que pode ser comparado a algumas estações da Europa, ostenta a uma fachada de estilo francês. O projeto foi do engenheiro militar português Alfredo Augusto Lisboa de Lima.
Foto: picture-alliance / dpa
Administração colonial portuguesa em Sofala
Na cidade de Inhaminga, na província de Sofala, centro de Moçambique, a arquitetura colonial portuguesa está em ruínas. O antigo edifício da administração colonial, com traços neoclássicos, foi tomado pela vegetação e dominado pelo desgaste do tempo.
Foto: Gerald Henzinger
"O orgulho de África"
Em Moçambique, outro de património colonial moderno: o Grande Hotel da Beira, que foi inaugurado em 1954 como uma das acomodações mais luxuosas do país. O empreedimento português era intitulado o "orgulho de África". Após a independência, em 1975, o hotel passou a ser refúgio para pessoas pobres. Desde então, o hotel nunca mais abriu para o turismo.
Foto: Oliver Ramme
Cidade Velha e Fortaleza Real de São Filipe
Em Cabo Verde, os vestígios da colonização portuguesa espalham-se pela Cidade Velha, na Ilha de Santiago. Entre estas construções está a Fortaleza Real de São Filipe. A fortificação data do século XVI, período em que os portugueses queriam desenvolver o tráfico de escravos. Devido à sua importância histórica, a Cidade Velha e o seu conjunto foram consagrados em 2009 Património Mundial da UNESCO.
Foto: DW/J. Beck
Património religioso
No complexo da Cidade Velha está a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, conhecida por ser um dos patrimónios arquitetónicos mais antigos de Cabo Verde, com mais de 500 anos. Assim como em Cabo Verde, o período colonial português deixou outros edifícios ligados à Igreja Católica em praticamente todos os PALOP.
Foto: DW/J. Beck
Palácio da Presidência
Na cidade da Praia, em Cabo Verde, a residência presidencial é uma herança do período colonial português no país. Construído no século XIX, o palácio abrigou o governador da colónia até a independência cabo-verdiana, em 1975.
Foto: Presidência da República de Cabo Verde
Casa Grande
Em São Tomé e Príncipe, é impossível não reconhecer os traços da colonização portuguesa nas roças. Estas estruturas agrícolas concentram a maioria das edificações históricas do país. A imagem mostra a Casa Grande, local onde vivia o patrão da Roça Uba Budo, no distrito de Cantagalo, a leste de São Tomé. As roças são-tomenses foram a base económica do país até a indepência em 1975.
Foto: DW/R. Graça
Palácio reconstruído em Bissau
Assim como em Cabo Verde, na Guiné-Bissau o palácio presidencial também remonta o período em que o país esteve sob o domínio de Portugal. Com arquitetura menos rebuscada, o palácio presidencial em Bissau foi parcialmente destruído entre 1998 e 1999, mas foi reconstruído num estilo mais moderno em 2013 (foto de 2012). O edifício, no centro da capital guineense, destaca-se pela sua imponência.
Foto: DW/Ferro de Gouveia
Teatro Elinga
O Teatro Elinga, no centro de Luanda, é um dos mais importantes edifícios históricos da capital angolana. O prédio de dois andares da era colonial portuguesa (século XIX) sobreviveu ao "boom" da construção civil das últimas décadas. Em 2012, no entanto, foram anunciados planos para demolir o teatro. Como resultado, houve fortes protestos exigindo que o centro cultural fosse preservado.
Foto: DW
Arquitetura colonial moderna
O período colonial também deixou traços arquitetónicos modernos em alguns países. Em Angola, muitos cinemas foram erguidos nos anos 40 com a influência do regime ditatorial português, o chamado Estado Novo. Na foto, o Cine-Teatro Namibe (antigo Moçâmedes), um dos mais antigos do país, é um exemplo. Foi o primeiro edifício de arquitetura "art déco" na cidade de Namibe.