1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Anamalala: Partido de Venâncio Mondlane preocupa FRELIMO?

11 de junho de 2025

Partidos tradicionais moçambicanos, sobretudo a FRELIMO, no poder, parecem recear que o Anamalala, partido de Venâncio Mondlane, rapidamente se espalhe por todo o país.

Venâncio Mondlane
Venâncio Mondlane, político moçambicanoFoto: Nádia Issufo/DW

Em Moçambique, já se fala muito do Anamalala, o partido de Venâncio Mondlane, cujo processo de legalização está ainda a decorrer no Ministério da Justiça.

Mondlane, que liderou a maior contestação aos resultados eleitorais em Moçambique desde as primeiras eleições multipartidárias (1994), avançou com a constituição do partido Anamalala, a Aliança Nacional para um Moçambique Livre e Autónomo, a 3 de abril deste ano, conforme requerimento entregue no Ministério da Justiça.

Anamalala é também uma expressão da língua local macua, do norte de Moçambique, que significa "vai acabar", "acabou" ou "basta", usada pelo antigo candidato presidencial Venâncio Mondlane durante a sua campanha eleitoral e que igualmente se popularizou durante os protestos por si convocados.

Muitos observadores afirmam que os partidos tradicionais, e sobretudo a FRELIMO, no poder, temem que o Anamalala, rapidamente se espalhe por todo o país, especialmente entre as camadas mais jovens, pondo ainda mais em causa os poderes instalados há muito no país.

Venâncio Mondlane ganhou forte apoio popular nas aleições de 2024, principalemente dos jovensFoto: ALFREDO ZUNIGA/AFP

Na edição desta quarta-feira (11.06), o Semanário "Canal de Moçambique", com base num documento oficial de três páginas, adianta que o Ministério da Justiça terá mandado Venâncio mudar o nome do partido, afirmando ser proibido que partidos tenham nomes em línguas nacionais, alegando que estes "promovem divisionismo e são contra a unidade nacional".

É sobre este tema que a DW falou com o jovem cientista político Justo Nauva, atento observador da cena política em Moçambique.

DW África: Notícias como esta são a prova que que a FRELIMO e os outros partidos, os partidos tradicionais, estão com medo do Anamalala?

Justo Nauva (JN): O ministro, nesta posição, ordena sugestivamente que se altere o nome deste partido: Anamalala. Agora, outra questão que também nos pode remeter a outros pontos é que há quem discuta, por exemplo, que o Emakhuwa, uma língua de Nampula, que significa "família" ou "vizinho", "vizinhança", é também uma língua local da região Norte. Então, penso que o ministro talvez tenha sugerido esta questão, provavelmente por causa da forma como esta conjugação, popularmente reconhecível no contexto do processo pós-eleitoral, criou impactos de radicalização social no país. Agora, depende como é que os atores que se submeteram a este processo recebem este imperativo que o ministro sugere para que se altere o nome do projeto Anamalala.

Ministério da Justiça terá mandado Venâncio Mondlane mudar o nome do partido, afirmando ser proibido que partidos tenham nomes em línguas nacionaisFoto: Jaime Álvaro/DW

DW África: Há que salientar que, por outro lado, o artigo 9.º da Constituição de Moçambique determina que o Estado valoriza as línguas nacionais. Ora, o Ministério da Justiça não estará arrasando as línguas nacionais, por assim dizer, ao dizer que um partido com um nome numa língua nacional pode dividir o país?

JN: Parece-me que não foi uma deliberação final, mas é um pressuposto sugestivo que impera do próprio Ministério para alterar o nome. Agora, em relação a essas dinâmicas, no que diz respeito à valorização das línguas nacionais e da cultura ao nível de Moçambique, partindo de um prisma da própria Constituição da República, é aquele exemplo que eu estava a dar de alguns partidos, a AMUSI ou Pahumo, correspondem a nomes, digamos assim, de grupos étnicos. Então, o Anamalala, talvez aqui o ministro deva ter a as suas próprias fundamentações, o seu próprio imperativo.

DW África: Isto não serão artimanhas do partido no poder para travar o novo partido Anamalala?

JN: É necessário que compreendamos que todos os partidos políticos que estão no poder em qualquer Estado, quando conseguem ver que existe um autor adverso em relação à base do seu poder, obviamente que o partido no poder faz de tudo para minimizar, digamos assim, o apoio deste partido adverso em relação à sua caminhada, em relação ao seu percurso.

DW África: O projeto de Venâncio Mondlane, portanto, o novo partido Anamalala, é suscetível de mudar completamente o xadrez político em Moçambique?

JN: Mudar é possível, mas afirmar que pode mudar completamente é complexo, mas é possível que possamos chegar a esta dimensão. É possível.

Mondlane exige esclarecimento do ataque contra MC Trufafá

02:53

This browser does not support the video element.

 

Saltar a secção Mais sobre este tema