Andry Rajoelina regressa à presidência em Madagáscar
Henry-Laur Allik | AFP | Reuters | DPA
27 de dezembro de 2018
Os malgaxes depositam grandes esperanças em Andry Rajoelina. Mas o novo Presidente já por uma vez falhou no combate à pobreza e corrupção.
Foto: Getty Images/AFP/Rijasolo
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A contagem integral dos votos resultou em 55% para Rajoelina contra 44% para Marc Ravalomanana, números apresentados na quinta-feira, 27 de dezembro, e que ainda devem ser confirmados nos próximos nove dias pelo Tribunal Constitucional da nação-ilha no Oceano Índico.
Pouco mais de 48% dos 10 milhões de eleitores recenseados foram às urnas no dia 19 de dezembro. A segunda volta foi disputada por dois ex-Presidentes e rivais ferozes. A primeira volta realizou-se em novembro, altura em que Rajoelina ganhou 39% dos votos contra 35% para Ravalomanana.
Denúncias de fraude eleitoral
O concorrente derrotado denunciou uma alegada "fraude massiva" na segunda volta e apelou aos seus seguidores para "defenderem" o seu voto. Também o campo de Rajoelina afirma terem ocorrido tentativas de fraude, o que foi negado pelos observadores eleitorais da União Europeia (UE).
O candidato derrotado, Marc Ravalomanana, denunciou fraude eleitoralFoto: Getty Images/AFP/Rijasolo
Apenas Rajoelina esteve presente no anúncio dos resultados pelo presidente da comissão eleitoral Hery Rakotomanana e afirmou lamentar a ausência do seu concorrente. Rakotomanana assegurou estarem a ser envidados esforços para "responder" às preocupações de fraude eleitoral dos candidatos, sobretudo no que toca a problemas com um programa digital de contagem dos votos.
Promessas e presentes
Anteriormente, os dois candidatos tinham prometido respeitar os resultados eleitorais. Nenhum dos dois bem-sucedidos homens de negócio poupou custos na campanha eleitoral, distribuindo liberalmente promessas e presentes aos seus apoiantes.
Rajoelina, de 44 anos, foi chefe de Estado entre 2009 e 2014 à frente de um Governo de transição. Durante a campanha, colocou a tónica na juventude. Ravalomanana, de 69 anos, Presidente do país de 2002 a 2009, apostou na sua experiência. Em 2009, Ravalomanana teve que abandonar o poder na sequência de uma série de provocações militares apoiadas por Rajoelina, na altura presidente da Câmara da capital, Antananarivo. O Exército instalou Rajoelina na Presidência. Numa tentativa de pôr cobro à instabilidade política perene, a União Africana impediu os dois de concorrer às eleições de 2013.
Um dos países com a maior diversidade ecológica, Madagáscar é também um dos mais pobres do mundoFoto: Imago/ImageBroker
Um dos países mais pobres do mundo
Os dois candidatos prometem combater a pobreza e criar perspetivas para a população, apesar de terem fracassado nesse objetivo em mandatos anteriores. Mais de 77% da população vive com menos de dois dólares americanos por dia, segundo o Banco Mundial. Madagáscar tem também o sexto mais elevado índice de subnutrição do mundo.
Para os 25 milhões de malgaxes, esta eleição é uma oportunidade para resgatar a estabilidade política e económica num país constantemente assolado por crises. A mais recente data de abril deste ano, quando estalaram protestos populares por causa de uma lei eleitoral visando excluir determinados candidatos das eleições presidenciais. O Presidente Hery Rajaonarimampianina foi forçado a substituir o seu Governo por uma "administração consensual" em junho de 2018, incumbida de preparar as eleições. Rajaonarimampianina perdeu na primeira volta das eleições, com 8% dos votos.
Madagáscar - Pobre ilha rica
A ilha de Madagáscar é famosa pela biodiversidade, fertilidade e riqueza em matérias primas. Mas a perene crise política paralisa a economia e agrava a pobreza da população.
Foto: DW/F.Müller
Recuo económico no país em crise
O país no Oceano Índico é rico em matérias primas, incluindo enormes reservas de titânio, níquel e petróleo no chão e ao largo da costa. Não obstante, uma grande parte da população vive na pobreza. Há quatro anos que uma crise política assola o país, que paralisa também a economia nacional. Os malgaxes vivem na incerteza, no medo e com grandes problemas financeiros.
Foto: DW/F.Müller
Isolado e empobrecido
Sob a politica económica liberal do Presidente Marc Ravalomanana, e graças a investimentos e assistência ao desenvolvimento, a economia malgaxe recuperou um pouco entre 2002 e 2008. Andry Rajoelina, encontra-se no poder desde o seu golpe de Estado em 2009, à frente de um controverso Governo de transição. Os países doadores congelaram a assistência e os preços dos alimentos básicos subiram.
Foto: DW/F.Müller
O dinheiro não chega para uma refeição quente
Nas ruas da capital, Antananarivo, um prato com arroz com um pouco de carne e legumes custa cerca de 500 ariary, o que equivale a 17 cents do euro. O que é muito dinheiro no Madagáscar. Segundo o Banco Mundial, 92% da população vive do equivalente a menos de 1,50 euros por dia. Muitas famílias passam fome.
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Colheitas pobres
Não obstante do cultivo extensivo de arroz, o principal alimento malgaxe também tem que ser importado. Mesmo havendo solos férteis e água abundante. Mas a agricultura não desenvolveu o seu potencial. Apesar de quase 90% da população trabalhar na agricultura, o sector só gera um quarto do Produto Interno Bruto, diz o Banco Mundial.
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Natureza perigosa
Partes da ilha são regularmente assoladas por ciclones, cheias e secas extremas, ameaçando as colheitas. Ainda não existe um sistema eficiente de alerta e protecção. Acresce a invasão de uma praga de gafanhotos desde a primavera de 2012. A produção de arroz arrisca-se a perdas enormes de até 630 000 toneladas por ano, estima a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, FAO.
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Ajuda inicial para agricultores
Desde que começou a crise política e económica em 2009, muitas pessoas procuram o seu ganha pão na agricultura. É frequente não terem a formação necessária, só conhecerem técnicas antiquadas e não terem dinheiro para comprar maquinaria, diz a organização não-governamental CITE. Esta ONG ajuda os jovens agricultores a levarem os seus produtos para o mercado.
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À espera de clientes
A agricultura representa a única esperança também para Jean-Noël und Erick Régis. Por enquanto ainda se esforçam por alimentar a família trabalhando como condutores de riquixás na cidade de Antsirabe, no centro do país. Mas nem todos os dias conseguem pagar a renda equivalente a dois euros para o “pousse-pousse”. Antes da crise tinham 20 clientes nos dias bons, hoje são apenas quatro ou cinco.
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Receio pelos zebus
Para muitas famílias, os zebus são animais de trabalho, alimento e investimento e cruciais à sobrevivência. Mas com a crise aumentou a criminalidade. Quase diariamente os jornais relatam assaltos de ladrões de gado a aldeias, das quais roubam centenas de cabeças. A esta prática deu-se o nome de “dahalo”. Os conflitos com os habitantes e as forças de ordem muitas vezes resultam e mortos e feridos.
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Viver na insegurança
Eliane (atrás, à direita) perdeu o seu irmão num desses assaltos. Os “dahalo” mataram-no, diz. Juntamente com os seus familiares, Eliane colhe algodão num campo no sul seco do Madagáscar. A família vive, sobretudo, do cultivo de mandioca e milho. Mas no ano passado um ciclone destruiu grande parte da colheita. Eliane tem à sua disposição por ano mais ou menos o equivalente a 100 euros.
Foto: DW/F.Müller
Eleições para sair da crise?
Antananarivo, a capital, é o centro político do Madagáscar. Os observadores são unânimes: para que o país se liberte da crise e da pobreza é necessário pôr termo à situação de transição política. Mas as eleições já foram adiadas por várias vezes. De qualquer modo, muitos malgaxes dizem que não importa quem governa o país. Importa ter o que comer no dia seguinte.