Angela Merkel é o próprio programa eleitoral do seu partido, a União Democrata-Cristã (CDU). Apesar das críticas e obstáculos enfrentados no último Governo e de perdas na eleição, Merkel conseguiu um quarto mandato.
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Até 24 de setembro, Merkel da União Democrata-Cristã (CDU) fez mais de 50 comícios, acompanhados por milhares de pessoas. Às vezes, até mesmo com a presença de perturbadores populistas, ou da cena de extrema-direita.
Merkel, aos 63 anos, está no centro de cada evento do partido CDU – e esteve no centro de toda a campanha eleitoral. Agora, ela conseguiu um quarto mandato – 2017, 2013, 2009 e 2005.
De fato, a campanha eleitoral da CDU ao Governo foi a campanha para a chanceler. O partido já é caricaturizado como um "clube” para eleição de chanceleres – e assim o tem sido desde a época de Konrad Adenauer.
"Crise dos refugiados"
O centro do poder alemão em Berlim é a Chancelaria Federal. Como chanceler, Merkel tem de lidar com quase todos os temas: a segurança, o papel da Alemanha no mundo, a integração de novos cidadãos. Em geral, trabalha pelo bem-estar dos alemães em seu próprio país. É por isso que o ano de 2015, em que ela levou a cabo a inclusão de centenas de milhares de refugiados no país, quase foi um "ano infeliz" para a chanceler alemã.
Em 2015, a palavra "Merkeln" foi uma das favoritas no concurso de "novas palavra do ano". Representava algo como "não fazer nada, não tomar nenhuma decisão". Até que veio a decisão de receber refugiados. Acabou-se, assim, a discussão sobre a palavra "Merkeln" – e com razão.
Afinal, o nome da chanceler está ligado, sim, à orientações políticas em questões controversas. A abolição do recrutamento militar obrigatório, o fim do uso de energia nuclear e a decisão parlamentar sobre o casamento para todos, independente da orientação sexual. Ela disse esta semana, inclusive, que isso tudo a ajudou a pacificar discussões no seio da sociedade.
O Partido
No que diz respeito ao partido, "os valores básicos da CDU" permaneceram como "o tempero" de sua política.
De fato, desde 2015, a marca "Merkel” foi trabalhada de maneira diferente. E a chanceler renova-se em 2017. É entrevistada por jovens estrelas do YouTube. Os encontros com jovens são uma obrigação. A CDU – cujos membros têm idade média de 60 anos –encenou-se durante a sua campanha eleitoral, na capital, com um programa acessível a todos. E Merkel quase sempre está nos eventos.
Apesar da idade já avançada, Merkel ganhou uma "nova seriedade" entre adolescentes alemães. E apelou à curiosidade, ao impulso e à inovação dos jovens. "Pensem novamente: a avó de vocês falava sobre a guerra", disse Merkel.
É com essas ideias – e apoio – que Merkel conseguiu chegar ao seu quarto mandato como chanceler; além de já ser líder do CDU desde 2000, e chanceler desde 2005.
"Vivemos um tempo de muitas mudanças", disse ela numa entrevista recente. Merkel acrescentou que com a sua experiência pretende ajudar "para que o nosso país continue no rumo certo".
Chefes de Governo da Alemanha: de Adenauer a Merkel
Desde 1949, a Alemanha teve oito chanceleres: sete homens e uma mulher. A chanceler atual, Angela Merkel, conseguiu um quarto mandato nas eleições legislativas de setembro de 2017.
Foto: picture-alliance-dpa/O. Dietze
Konrad Adenauer (CDU), 1949-1963
A eleição de Konrad Adenauer do partido democrata-cristão CDU como primeiro chefe de Governo da Alemanha, em 15 de setembro de 1949, marcou o início de um longo processo de reestruturação política no país. Reeleito em 1953, 1957 e 1961, renunciou ao cargo apenas aos 87 anos de idade, em 1963. Fortaleceu a aliança com os Estados Unidos da América. Na foto: no seu escritório em Bona.
Foto: picture-alliance/akg-images
Ludwig Erhard (CDU), 1963-1966
O segundo chanceler da Alemanha também pertenceu à CDU, mas esteve apenas três anos no Governo. Erhard renunciou devido ao rompimento da coligação com o partido liberal FDP. Mesmo assim, participou de forma ativa da reforma monetária alemã do pós-guerra. O fumador convicto ficou famoso como "pai" da economia social de mercado ("Soziale Marktwirtschaft") e do milagre económico alemão.
Foto: picture-alliance/dpa
Kurt Georg Kiesinger (CDU), 1966-1969
Foi eleito por uma grande coligação dos dois partidos CDU e SPD (de esquerda). O seu Governo teve que combater uma crise económica. Kiesinger foi duramente criticado pelo seu passado como membro ativo do partido nacional-socialista NSDAP durante a ditadura fascista na Alemanha. Com a ausência de uma oposição forte no Parlamento, formou-se em 1968 um movimento de protesto estudantil na Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa
Willy Brandt (SPD), 1969-1974
A onda de protestos teve reflexos nas eleições: Willy Brandt tornou-se no primeiro chanceler social-democrata no pós-guerra. Melhorou as relações com os países comunistas do leste. Durante uma visita à Polónia, ajoelhou-se no monumento pelas vítimas do nazismo no Gueto de Varsóvia. Gesto que ficou famoso como pedido de desculpas. Renunciou ao cargo em consequência de um caso de espionagem.
Foto: picture-alliance/dpa
Helmut Schmidt (SPD), 1974-1982
Após a renúncia de Brandt, Helmut Schmidt prestou juramento como chanceler. O social-democrata teve de combater o terrorismo do grupo extremista de esquerda RAF. Negou negociar com os terroristas alemães. Enfrentou a oposição por causa do estacionamento de mísseis nucleares dos EUA na Alemanha. Depois da saída do Governo do parceiro FDP (liberais), perdeu um voto de confiança no Parlamento.
Foto: picture-alliance/dpa
Helmut Kohl (CDU), 1982-1998
Helmut Kohl formou uma nova coligação centro-direita com os liberais. Ficou 16 anos no poder, um recorde. Ficou famoso pela sua teimosia e por não gostar de reformas. Depois da queda do Muro de Berlim, Kohl consegui reunificar as duas Alemanhas, a RFA ocidental e a RDA oriental. Ficou conhecido como "chanceler da reunificação". T ambém é lembrado pelo seu empenho na construção da União Europeia.
Foto: imago/imagebroker
Gerhard Schröder (SPD), 1998-2005
Depois de quatro mandatos de Kohl, o desejo de mudança aumentou. Gerhard Schröder foi eleito primeiro chanceler de uma coligação de esquerda entre o SPD e os Verdes. Durante o seu Governo, o exército alemão, Bundeswehr, teve as primeiras missões no estrangeiro com a participação na guerra no Afeganistão. Reduziu os subsídios sociais, medida que foi criticada dentro do seu partido social-democrata.
Foto: picture-alliance/dpa
Angela Merkel (CDU), desde 2005
Em 2005, Merkel é eleita como primeira mulher na chefia do Governo alemão. Durante o primeiro e terceiro mandato, governou numa grande coligação com o SPD, no segundo mandato numa coligação de centro-direita com os liberais do FDP. Merkel é conhecida pelo estilo pragmático de liderança. Durante a crise financeira, assumiu um papel de liderança na UE. Em 2017, conseguiu o seu quarto mandato.